O dia em que a classe artística entrou em campo por Etty Fraser
Ao ouvir agora há pouco que a atriz Etty Fraser, 87 anos, nos deixou, não posso deixar de lembrar o dia em que promovemos um futebol patrocinado para ajudar o F.A.C.T (Fundo de Assistência à Classe Teatral), com atores da TV. O F.A.C.T. era uma bandeira da atriz para auxiliar profissionais da classe artística vítimas do HIV, em um tempo em que os medicamentos para combater a Aids eram insuficientes e pouco acessíveis: o que havia disponível, até o ano 2000, não tinha o efeito que os tratamentos têm hoje.
Etty carregava esta bandeira. Uma marca de pomada para atletas queria então promover uma ação para ganhar espaço na mídia, e a Porta Voz, assessoria de imprensa da empresa, na figura da Margareth Guida, me procurou para amealhar um time de atores que se dispusesse a entrar em campo vestindo a camisa do patrocinador, abrindo mão do cachê. Era novembro de 1995. Nossa empreitada, na base de apoio da Porta Voz, foi capitaneada pelas colegas Cláudia Rubinstein Girard e Soraia Ascari, que seguraram todo o rojão comigo, desempenhando todos os papéis na promoção do evento.
Não foi obra fácil, a princípio, fechar dois times de atores que pudessem despertar a atenção da imprensa.
Na linha de frente, estava João Vitti, queridinho das noveleiras da época, e agora pai de um dos queridinhos da nova geração, Rafael Vitti. Sempre disposto a abraçar causas sociais, o João foi um dos primeiros a topar a proposta, o que muito nos ajudou a confirmar outros nomes bacanas.
A escalação dos times também foi puxada por dois diretores de peso nos papéis de técnicos de cada grupo: Nilton Travesso, então no comando da teledramaturgia do SBT, e Paulo Ubiratan, um dos principais diretores de novelas da Globo, que morreu em 1998.
Contamos também com os irmãos Tato e Cássio Gabus, Millya Christie e outros nomes.
Etty saiu muito feliz com a iniciativa, e quem colaborou, idem. Depois do trabalho realizado, Ubiratan queria encampar um outro evento para ajudar o F.A.C.T, talvez com um jogo em local maior e aberto à venda de ingressos, mas não levamos a ideia adiante.
A iniciativa, no entanto, endossava o afeto da classe artística pela figura da Etty Fraser, com quem muitas vezes tive a felicidade de cruzar pelas ruas de Higienópolis, em São Paulo, região onde ela morava. Vinha sempre com uma gargalhada estampada no rosto, o que de certa forma convidava os anônimos a abordá-la sem cerimônia, como se fosse aquela tia que sempre vai nos receber com um bolo, um café e um largo abraço.
À Etty, aquele abraço.