Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

‘A crítica é válida sempre; a ofensa, não’: Marcius Melhem contesta acusação de censura

Marcius Melhem move ações na Justiça contra Felipe Castanhari, Rafinha Bastos, Danilo Gentili e Marcos Veras / Reprodução

Alvo de Marcius Melhem em ação judicial contra manifestações em redes sociais, o apresentador e youtuber Felipe Castanhari acusou o ex-diretor do núcleo de humor da Globo de “censura”. “Marcius Melhem falha em sua tentativa patética de Censura”, escreveu Castanhari no Instagram, emendando: “Não satisfeito em me processar por um tuíte em que defendia a Dani [Calabresa], o sujeito ainda está tentando calar todo mundo que se pronunciou em defesa dela, foi assim com o Marcos Veras, Danilo Gentili e também com o Rafinha Bastos”.

O nome do ex-diretor da Globo foi parar nas redes após reportagens que lhe atribuíram acusações de assédio moral e sexual encabeçadas por Dani Calabresa, atriz da Globo, que se pronunciou apenas indiretamente sobre o assunto em seu Instagram e recebeu vasto apoio de colegas, personalidades diversas, movimentos feministas e fãs.

Nos perfis de Castanhari, Gentili, Rafinha e Veras, no entanto, Melhem registrou termos e acusações que lhe pareceram ofensivas e antecipavam o papel da Justiça, já que ele não foi, até o momento, sequer citado como réu.

Já tendo questionado os advogados de Melhem sobre os limites entre liberdade de expressão e ofensa, voltei ao autor das ações, agora em busca de argumentações do próprio Melhem sobre as declarações de Castanhari.

“A crítica é válida sempre, a ofensa, não. Eu não quero ficar rebatendo colegas porque as pessoas têm as suas opiniões e convicções”, reconhece o ex-diretor da Globo em conversa por telefone. “Para mim, o limite do humor sempre foi o código penal, tanto que eu sempre tive muitas discussões com o jurídico [da Globo] porque eu queria criticar sem ofender, queria falar sem bater, eu queria bater na pessoa jurídica e não na física”, fala Melhem, com a bagagem de quem foi diretor do núcleo de humor e redator final de programas como o “Zorra” e o “Tá no Ar”.

“Eu nunca deixei fazerem piada durante o governo Temer e Bolsonaro sobre homem mais velho casado com mulher mais nova e isso pra mim era uma questão: nunca deixei que a crítica extrapolasse para as pessoas. Os homens públicos têm que sofrer a crítica como homem público, meu princípio foi nunca bater abaixo da linha da cintura, nunca aceitei que a coisa se desse no campo pessoal.”

“Durante 17 anos de Globo, fui chefe de equipe por uns 15. Você acha que eu nunca fui alvo de processo? Faz parte do nosso trabalho, mas eu nunca perdi um processo porque eu procurava sempre não ofender ninguém pessoalmente, eu falava ‘vamos tirar adjetivo’, ‘vamos no fato’: o fato em si basta para a crítica.”

“O humor não tem uma constituição só pra ele, o limite é o código penal. Nós, como cidadãos, temos as mesmas responsabilidades, e eu estou no direito de me achar ofendido. Lamento processar essas pessoas? Lamento.”

“E não estou processando porque apoiaram a Dani, estou processando quem me ofendeu. Dani não tem só quatro apoiadores”, diz ele, rebatendo Castanhari.

“Essas pessoas falam como se eu já tivesse sido julgado e condenado, e nem denunciado eu fui. Eu que procurei a Justiça. Por que estou processando a [revista] Piauí, e não estou processando o repórter? Porque a revista é responsável pela publicação e o texto não me dá o benefício da dúvida, ela afirma tudo, sem usar termos como ‘teria feito’, ‘suposto’ para narrar uma série de ações que não aconteceram. Mas a ação contra a revista, e não contra o repórter, é contra o CNPJ e não a pessoa física, justamente porque eu zelo pela liberdade de expressão”

Especificamente sobre a acusação de “censura” feita por Castanhari, Melhem afirma: “Não é verdade que eu estou processando para censurar, só que tem uma hora em que as mentiras vão se repetindo e vão virando verdade. Por que se comemorou tanto a saída do Donald Trump do Twitter? Tem uma hora em que a liberdade de expressão fere outros direitos e é passível de discussão.”

“Se ele escrever algo como ‘Se tudo isso que estão dizendo sobre o Melhem for verdade, ele é um criminoso’, eu não tenho nem como processá-lo. Mas ele me chama de ‘assediador, escroto’, ‘criminoso’. Onde é que está a piada? Isso é discurso de ódio, é calúnia, não é assim, não é que você pode falar das pessoas o que quiser. Eu tenho filhas, eu estou dentro do meu direito buscando a minha reparação, é a minha liberdade de expressão também, e estou me expressando por meio da Justiça.”

“Primeira coisa: Não estou processando os humoristas porque são humoristas. Estou processando essas pessoas não como comediantes, mas como pessoas que me ofenderam, me caluniaram, não por fazerem piada. Tanto que outras pessoas fizeram piada sobre mim. Por exemplo, Mauricio Meirelles [que tem feito shows com Rafinha Bastos] faz piada de mim todo dia, óbvio que não é confortável, mas como profissional, eu vejo e digo: ‘Foi bem, bateu acima da linha da cintura’. Não só ele, homens e mulheres fizeram piada, é do jogo. A ofensa, não.”

A ação contra Rafinha cita tuítes em que o humorista o teria chamado de “fdp” e dito outros xingamentos, tendo depois apagado. A Justiça determinou que Rafinha retirasse do ar um vídeo em que ele debocha de uma entrevista dada por Melhem ao UOL, citando que sofreu muito por ter traído sua ex-mulher. O vídeo usa a mesma entonação e imagem da declaração original para uma versão em áudio em que a voz de Rafinha menciona ações como ‘eu matei’, ‘eu roubei’, ‘eu dei crack pra criança’ e ‘sofri muito’.

Está claro, para mim, que se trata de uma dublagem mambembe, mas muita gente pode não ter tal percepção. O blog voltou a procurar Rafinha para saber se ele pretende recorrer da decisão ou arcar com uma multa diária de R$ 500, como determinou a juíza Tônia Yuka Koroku, da 13ª Vara Cível do Tribunal de Justiça de São Paulo, como antecipou o TelePadi.

Na quarta (20), dia da decisão, o vídeo tinha quase 80 mil visualizações. Rafinha retuitou o filme, pedindo “não deixe esse vídeo acabar”. Na manhã deste sábado (23), o material já tinha mais que dobrado seu número de acessos, com 175 mil visualizações. O humorista reafirmou que não recebera qualquer notificação da Justiça até então.

“Danilo Gentili também tem posts me chamando de ‘hipócrita de merda’, mandou tomar no cu, não tem piada nenhuma, esse post tá lá ainda”, diz Melhem.

Esta semana, Rafinha reproduz no Twitter o título de matéria de um site que menciona os processos movidos pelo ex-diretor da Globo e comenta: “O poder de Marcius Melhem não tem limite: Quem consegue colocar Rafinha Bastos e Danilo Gentili lado a lado consegue qualquer coisa”, endossando piada de Maurício Meirelles . Ex-sócios e ex-colegas de “CQC”, na Band,Rafinha e Gentili são rompidos há anos.

No caso de Veras, o motivo da ação apareceu nos comentário de um post de Dani Calabresa em que ele assume “como verdade” as acusações contra Melhem. “Ele disse: ‘que esse criminoso pague pelo que fez’. Ele me chamou de criminoso, uma pessoa que não tem nem processo, a pessoa se acha no direito de me acusar? Então, ela tem que aguentar o tranco.”

Melhem move ainda uma ação contra a própria Calabresa, que foi notificada extra-judicialmente antes da ação, a fim de confirmar ou negar os relatos da reportagem da revista Piauí nº 171, o que ela não fez. A ação contra ela corre em segredo de Justiça.

 

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Cristina Padiglione

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