Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Série de Anitta na Netflix vira alvo de campanha de boicote de fãs de Bolsonaro

Imagem do teaser da Netflix no YouTube

Seguidores do candidato Jair Bolsonaro deram início a uma campanha para reprovar a série “Vai, Anitta”, em realização para a Netflix. Como a produção ainda não está no ar nem tem data para estrear, o meio encontrado por eleitores do candidato para “punir” a cantora é dar “deslike” no teaser publicado pela plataforma em seu canal no YouTube.

Em duas horas, nesta tarde de sexta, o dedão para baixo que indica “deslike” (“não gostei”) no link do teaser oficial teve seu número acrescido de 1 mil cliques, indo de 8,1 mil para 9,1 mil. No mesmo período, o dedão do “like” se manteve em 34 mil. (Atualizando: ao fim do dia, já eram 13 mil deslikes, ante os mesmos 34 mil likes).

O TelePadi tentou ouvir a Netflix e a cantora sobre o episódio, mas não obteve retorno de nenhuma das partes.

“Vai, Anitta” é uma série biográfica sobre o fenômeno em que a artista se transformou, do morro carioca para o âmbito internacional, com acompanhamento em compromissos aqui e lá fora. A estreia é aguardada ainda para este ano.

Na última semana, desafiada a se posicionar sobre Bolsonaro, a cantora aderiu ao #EleNão, campanha contrária à eleição do candidato do PSL, acusado de ser homofóbico, machista e defensor da ditadura ocorrida no Brasil entre 1964 e 1985.

A bandeira recém-levantada por seguidores de Bolsonaro vem circulando especialmente em grupos de Whatsapp. Veja abaixo:

Mais do que nunca, artistas que se posicionam politicamente – não só em períodos de pleitos eleitorais – têm uma estimativa contável das perdas e ganhos adquiridos a partir de seus anúncios ou de sua obra.

O preço de se posicionar

O risco existe mesmo quando a coisa for só uma piada, como aconteceu com o Porta dos Fundos pouco antes do impeachment de Dilma, com o esquete “Reunião de Emergência 3 – Delação 2”, um grande deboche daquele contexto, quando uma leva de antipetistas instigou um boicote ao canal de humor, gerando uma guerra virtual entre quem gostou e quem não gostou do vídeo. O canal perdeu muitos seguidores, mas ganhou um número ainda maior do que os que foram embora.

Em 1989, durante a campanha para a primeira eleição direta para presidente da República no Brasil, após 29 anos, 90% dos artistas mais famosos da TV, todos da Globo, engrossavam o coro de “Lula Lá” em um videoclipe histórico. A manifestação era praticamente um painel de contratados X contratante, já que a Globo apoiava, ainda que não declaradamente, o adversário de Lula, Fernando Collor de Mello, que venceu aquele pleito.

De lá para cá, a emissora sempre procura sugerir aos seus contratados que não se manifestem em época de eleição, mas muitos deles continuam a fazê-lo, sem que isso signifique qualquer represália por parte da emissora àqueles a quem a casa considera essenciais em seu elenco como Osmar Prado, Regina Duarte, Paulo Betti e José de Abreu, entre outros.

Mas com o crescimento das redes sociais e o uso delas como arma entre representantes de correntes adversárias, uma onda de campanhas virtuais vem promovendo o ódio, em vez de ideias e debates proveitosos para um cenário melhor.

Seguidores de Bolsonaro também criaram um vídeo desprezando a campanha #EleNão, à qual a cantora Madonna acaba de aderir. Na peça, desprezam a opinião de Cláudia Raia, Deborah Secco, Mônica Iozzi e outras atrizes que endossaram o #EleNão, argumentando que elas não sabem o que é ficar sem emprego nem o que é transporte público.

E ainda faltam nove dias para o primeiro turno.

Como bem disseram Marcius Melhem e Marcelo Adnet no início da temporada do “Tá no Ar” deste ano, ainda em janeiro, há momentos em que é melhor se posicionar do que ficar em cima do muro. O humorístico evidentemente não tomou partido de A ou B, mas soube expressar as ideias que defende, contra a misoginia, o fascismo, o racismo e a intolerância religiosa.

 

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Cristina Padiglione

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