Panflix, nova plataforma de TV da Jovem Pan, terá ‘Roda Vivinha’ e ‘Pânico’ repaginado
Há anos instalada em um edifício na avenida Paulista, a rádio Jovem Pan agora ocupa mais um andar daquele prédio que faz esquina com a alameda Joaquim Eugênio de Lima, rumo aos Jardins. Ali estão, já em fase de finalizações, os novos estúdios do grupo, prontos para a chegada da Panflix, uma espécie de Netflix das notícias, a princípio com conteúdo aberto para o público. O novo serviço deve estrear entre julho e agosto e mereceu cerca de R$ 20 milhões de investimento.
No menu, Antonio Augusto Amaral de Carvalho Filho, o Tutinha, planeja ter uma versão de “Roda Viva”, o mais tradicional programa de entrevistas da TV brasileira (da TV Cultura), que vai se chamar “Roda Vivinha” ou “Roda Vida”, sem receio de brincar com a fonte inspiradora.
Outro projeto prevê uma repaginação do “Pânico”, o mesmo que é transmitido diariamente pelo rádio, de modo a alcançar parte do que o programa tinha em sua versão televisiva, como as panicats, cenas externas e dois convidados por edição, em vez de um. Mas o modelo será híbrido, de modo a conquistar um público extra pela TV, sem perder o alcance do rádio. “Não podemos perder nunca o rádio, esse é nosso princípio”, avisa Tutinha, em entrevista exclusiva ao Telepadi, em sua sala, na Pan.
As panicats, no entanto, voltarão mais vestidas, avisa Tutinha, em consonância com os novos tempos, e em número menor – apenas duas, atendendo às ponderações do novo formato.
Mesas redondas de esportes e atualidades (pode ser um caso Neymar ou uma barragem que se rompe), webséries de saúde, turismo e uma espécie de “Em Pauta” (GloboNews), com correspondentes de outros lugares do mundo se conectando ao estúdio matriz, em São Paulo, também estão em fase de criação para a Panflix.
CASO A SER ESTUDADO
Calçada em larga audiência no rádio, onde é líder no segmento de notícias, e no YouTube, a Jovem Pan dá um passo relevante no histórico do império de comunicações erguido pela família Machado de Carvalho, fundadora do grupo Record, há mais de seis décadas.
A Panflix, plataforma de streaming do grupo, pode ser tratada como um retorno do DNA dos fundadores da Record, a mais antiga emissora de radiodifusão em operação no país, ao ramo televisivo. É um case a ser estudado e já foi inclusive apresentado como tal a pensadores do Vale do Silício: como um grupo da mídia eletrônica mais tradicional vem se transformando em uma potência digital.
Foi ainda o “seu” Tuta, pai de Tutinha, quem começou a colocar webcams nos estúdios da rádio, em 2006, a princípio com closes muito fechados nos locutores. Logo a Pan seria seguida pelas concorrentes nessa prática, de modo que os locutores hoje já não se apresentam diante de seus microfones desalinhados ou em trapos, como era muito comum na era do rádio sem câmera.
“Meu pai é gênio. Meu pai é meu ídolo. Todos os estúdios terão o nome dele na porta”, avisa o filho.
Hoje com 88 anos, Tutão, ou velho Tuta, como preferem alguns, afastou-se do comando da Pan em 2014, por motivos de saúde. Ainda na época da TV Record (emissora da qual ele abriu mão antes da chegada de Silvio Santos e Edir Macedo, para ficar só com a Pan), Tuta era nome que compunha a lendária Equipe A, ao lado de Manoel Carlos, Nilton Travesso e Raul Duarte. O time foi responsável pela criação de grandes programas, referências que até hoje servem a novas produções de TV, graças a títulos como “Família Trapo”, “O Fino da Bossa” e “Jovem Guarda”.
A camerazinha de internet instalada no estúdio pelo “seu” Tuta em 2006 deu frutos, expandiu-se, e deu à Pan um público telespectador de web, com ênfase para o próprio “Pânico” e o “Morning Show”, sem falar nos aclamados comentaristas políticos da casa.
“Tá no meu sangue fazer isso, honrar a família e voltar a ter uma televisão”, diz Tutinha. “É uma TV do mundo moderno, muito mais expansivo do que ter uma grade, mas, no fundo, é uma volta do que o meu avô (Paulo Machado de Carvalho) começou anos atrás.”
Em 1991, seu Tuta chegou a tentar nova incursão em TV pelo canal 16 UHF, com uma operação de alto investimento. O negócio não vingou, segundo Tutinha, porque o pai e o sócio da ocasião, João Carlos Di Gênio, romperam. As instalações eram as mais modernas para a época (1991), com unidades móveis sem igual e ênfase na cobertura de esportes e notícias. “Meu pai ia fazer a CNN brasileira”, aposta Tutinha, lamentando a briga entre os sócios, “que até hoje ninguém entendeu”.
Agora, a Jovem Pan se lança na Panflix com uma segurança muito maior de retorno e “sem problema com audiência”: “Não tenho que pensar nisso. Vai ter programa com 1 milhão de views, com 500 mil ou 10 milhões, e tudo isso junto me vale a venda da publicidade programática, no mínimo”, explica, sobre a propaganda distribuída pelos anunciantes via algorítimos.
Para Tutinha, o sucesso da Pan está no fato de seus comentaristas terem opinião. “Falaram que o Villa (Marco Antonio Villa) foi afastado porque vinha falando mal do (presidente Jair) Bolsonaro. Não é verdade. A Vera Magalhães todo dia fala mal do Bolsonaro. O Josias fala mal do Bolsonaro, eu nem conheço o Bolsonaro e não tenho interesse em ser chapa branca, mas vou ser sempre a favor do Brasil”, avisa.
Villa, se quiser, poderá voltar em um mês. “Eu adoro ele, mas ele estava xingando muito, precisava de um tempo. Ele ficou puto, mas a Jovem Pan não tem nada a ver com a briga entre ele e o Olavo de Carvalho”, diz Tutinha, citando o guru do governo.
A Panflix também vem desenvolvendo modelos inovadores de publicidade, uma espécie de merchandising no qual o apresentador não se envolve nem interfere. São imagens vazadas na mesma tela do programa. Um modelo simulando uma companhia de tratamento de água, por exemplo, mostra a tela se enchendo d’água e uma torneira pingando, ao lado, cobrindo o próprio apresentador. A criação dispensa aquelas janelinhas que o internauta normalmente fecha ou pula.
A plataforma poderá passar a cobrar assinatura em um futuro não muito distante, a depender das adesões que receber. “Por exemplo, a gente pode vir a ter um canal de games que seja consumido só por assinatura”, exemplifica Tutinha.
O Globoplay também tem caminhado nessa trilha, entre conteúdo pago e aberto. Igualmente oriunda da mídia tradicional, a plataforma de streaming da Globo vai oferecendo cenas abertas a todos ao mesmo tempo em que tenta fisgar novos pagantes para outros conteúdos. As cenas abertas a todos têm publicidade, enquanto aquelas oferecidas a assinantes não têm (ou não deveriam ter, segundo informou seu diretor-geral, João Mesquita, a um grupo de jornalistas no qual estive presente, ainda em novembro. Mas, efetivamente, não é isso que vem ocorrendo: muito do que me chega pelo Globoplay, e posso atestar como assinante, vem acompanhado de publicidade).
Somando seus canais de programas no YouTube, a Pan tem hoje 12 milhões de acessos aos seus áudios e 39 milhões de acessos aos seus vídeos, no balanço do trimestre. Em redes sociais, já são 29 milhões de seguidores, com 17 milhões de page views e 350 mil usuários ativos no telefone. E a audiência é qualificada no extrato social, com 73% de classe AB.