Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Parceria da Globo com o Google põe o grupo brasileiro nas mãos da gigante mundial?

Gil no 'BBB', programa que terá seu tráfego de dados acelerado nas operações via internet, do streaming às votações. Foto: Reprodução

O Grupo Globo anunciou na manhã desta quarta-feira (7) uma parceria inédita com o Google Cloud, que transfere para a nuvem da gigante mundial toda a operação digital do grupo, dos canais de TV ao streaming, passando por G1, GShow e afins. Sem limites definidos, o acordo prevê ainda o armazenamento de todo o acervo da emissora na nuvem do Google e todo o tráfego de internet utilizado pelos funcionários e colaboradores do grupo, incluindo trabalhos de gravação, edição e pós-produção de novelas, documentários e jornalísticos.

Mais: segundo o diretor de Estratégia e Tecnologia da Globo, Raymundo Barros, a parceria também prevê a chegada da publicidade programática à TV, ou pelo menos estudos que aproximem o modelo atual do modelo usado na internet, onde cada usuário recebe propaganda de acordo com os interesses de consumo demonstrados em suas redes sociais e pesquisas feitas ao Google e outros buscadores.

Isso muda tudo. Seria uma revolução no principal meio de comunicação do país, a televisão aberta. E dá ao Google mais poderes de distribuição de informação e publicidade do que a gigante mundial de tecnologia já tem hoje no Brasil.

A parceria coloca a Globo em níveis ainda mais vantajosos no mercado de comunicação local, acima de todas as concorrentes. Mas também torna o grupo dependente de um elemento de fora da empresa, e nunca antes na história da Globo ela foi tão visceralmente dependente de outro grupo empresarial como se torna agora diante do Google.

Embora o acordo mencione sete anos de planejamentos, Barros informou que a Globo vai desativar o parque o tecnológico que hoje faz todo o seu sistema digital funcionar, com base na zona oeste do Rio. “Será vendido”, afirmou.

Se a Globo vai se livrar da infraestrutura construída até hoje para o seu funcionamento digital, significa que em um eventual rompimento da parceria, no futuro, o Google continuará funcionando normalmente, mas a Globo terá dificuldade de reconstruir uma estrutura própria?

Em resposta ao blog por meio de sua assessoria de imprensa, a Globo nega dependência visceral do Google, reforçando que a parceria é com o Google Cloud (ok, um braço do Google). Diz a nota: “A Globo passa a ser dependente da nuvem pública mas não necessariamente do Google Cloud. Todo o trabalho de migração está apoiado na tecnologia multicloud, portanto a migração de workloads para outras nuvens públicas é simples em caso de ruptura. Por outros lado, o acordo tem cláusulas bem estruturadas para os casos de rompimento –o que naturalmente temos certeza que não vai acontecer.”

A nuvem do Google dá à Globo uma segurança de abranger tanta gente quanto cobiça no tráfego de internet e o acordo lhe oferece vantagens sobre quaisquer concorrentes no país, de Netflix a Record.

De acordo com Eduardo Lopes, presidente do Google Cloud para América Latina, o Google também tem muito a aprender com o Grupo Globo e a parceria visa a dar avanço tecnológico para a Globo, que em troca dará ao Google a expertise de um grande grupo de comunicação.

Um projeto já em andamento visa a facilitar a migração da TV aberta para o GloboPlay e vice-versa, ao alcance do controle remoto do usuário. Muita gente migra para o streaming, por exemplo, após o fim do “BBB” na TV, para acompanhar os movimentos da casa em tempo real.

Os executivos disseram ainda que o Google não tem nenhuma parceria como esta com outro conglomerado de audiovisual no mundo todo e não fará nada parecido com concorrentes da Globo no Brasil.

No comunicado distribuído pelo Grupo Globo, a parceria com o Google é anunciada sob os seguintes itens:

  • Acordo prevê que o Google Cloud seja o principal provedor de soluções em nuvem e também um catalisador de inovação para a empresa de comunicação brasileira
  • O objetivo é otimizar a infraestrutura de tecnologia da Globo e gerar novas oportunidades de negócios por meio de uma plataforma escalável
  • A parceria também inclui um projeto de co-inovação para integrar recursos do Android TV ao Globoplay

“Nos próximos sete anos, a Globo irá utilizar a experiência do Google em gerenciamento de dados, inteligência artificial (IA) e machine learning (ML), assim como sua infraestrutura global, escalável e segura, que apoiará a evolução tecnológica da empresa de comunicação”, informa o release.

Presidente-executivo da Globo, Jorge Nóbrega afirma que o Google Cloud oferece à empresa a melhor solução para enfrentar os desafios do futuro, como foco no público aliado ao gerenciamento de dados e novos modelos de negócios.

“Nossa parceria estratégica com a Globo dará vida a novas inovações, estabelecendo a Globo como uma verdadeira empresa de tecnologia de mídia”, afirma Robert Enslin, presidente do Google Cloud.

A Globo vai migrar 100% de seus centros de dados à nuvem do Google, inclusive o seu acervo, habilitando escala na produção e distribuição de mídia, lançamento de novos canais e outras iniciativas.

Um filminho institucional foi feito para informar o público sobre a novidade:

 

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Cristina Padiglione

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