Público rejeita terror e aprova delegado fetichista em ‘O 7º Guardião’
O gosto médio do público não aprecia cenas de terror, um gênero que se mostra muito sedutor para um grande nicho, mas não para a plateia de modo geral.
Esse foi um dos diagnósticos concluídos pela direção da Globo com base no primeiro grupo de discussão realizado sobre a novela “O Sétimo Guardião”, aqui adiantados em primeira mão pelo TelePadi. O enredo de Aguinaldo Silva, sob direção artística de Rogério Gomes, o Papinha, estreou há pouco mais de um mês. Desta forma, o caráter sensitivo de Luz, personagem de Marina Ruy Barbosa, será mantido mais na narrativa do que nas ações. Cenas como aquela do primeiro capítulo, em que uma mão salta de uma caneca na mesa, estão fora.
Em compensação, o gato León é uma preferência geral como personagem.
Uma trama bem aceita é a do delegado Machado, vivido por Milhem Cortaz, que tem tara em vestir lingeries. As pessoas que fizeram parte do grupo de discussão acreditam que é o tipo de coisa que apimenta uma relação.
O casal principal, formado por Bruno Gagliasso e Marina Ruy Barbosa, é adorado pelos mais velhos, mas nem tanto pelos mais novos. Inveja?
De modo geral, dizem que é uma novela diferente das outras e que o realismo fantástico veio em boa hora.
Ao contrário do que tem circulado por aí, “O Sétimo Guardião” não enfrenta uma reformulação de capítulos, ou não ainda. Embora algumas cenas gravadas tenham diso cortadas, a reedição é pontual, ou com essas cenas que explicitam terror , ou porque os capítulos ficaram maiores do que deveriam. Efetivamente, a Globo não tem reenviado alteração no resumo de capítulos da novela, o que denunciaria, aí sim, uma obra de reforma, como tem acontecido com “Espelho da Vida”, a novela das seis.
A Globo submete suas novelas a esse tipo de pesquisa há décadas, mas muitos autores botam em xeque os resultados da conversa. Eu também. Mas como não tenho formação nessa área, como diria Glória Pires, prefiro não opinar, o que não impede que eu dê meus pitacos.
Na época de “Babilônia”, a novela inteira foi virada de ponta-cabeça por causa desses grupos de discussão, e Gilberto Braga criticou o fato de as pesquisas se resumirem ao público de São Paulo, que não necessariamente espelham o resto do país. A verdade é que São Paulo interessa mais do que qualquer outra região, por concentrar mais de 50% dos investimentos publicitários do país.
Mas outra crítica aos grupos de discussão é que eles se resumem muito a um grupo específico: mulheres brancas de classe média. As negras e os homens são figuras excepcionais nesses grupos, o que naturalmente engessa a mobilidade da história em avaliação. É preciso rever esses conceitos e também convém não olhar os grupos de discussão (chamados como “group discussion” na sua versão original, in english) como bíblias sagradas a serem rigorosamente seguidas.
Por quê?
Independentemente da diversidade de pessoas presentes nessas reuniões em que um grupo discute sobre o alvo da pesquisa em torno de uma mesa, enquanto os interessados no produto assistem à reunião sem serem vistos, por trás de um vidro escuro, duas ou três pessoas dominam a conversa e acabam influenciando os demais. Vivenciei essa experiência quando participei, do lado de lá do vidro escuro, como espectadora, de uma pesquisa sobre as mudanças em curso no jornal onde eu trabalhava. É notório que a primeira opinião, se a segunda não fizer restrições, acaba puxando todo o debate, de modo que tenho sérias dúvidas sobre a eficiência do negócio.
Para retomar o caso de “Babilônia”, a Globo mandou destruir todos os pontos progressistas da história, atendendo a uma demanda conservadora que prometia concentrar audiência na novela “Os Dez Mandamentos”, da Record. E o que aconteceu? A novela ficou sem o público que havia gostado daquilo e não conquistou os conservadores. O grupo de discussão pode gerar elementos para o autor e o diretor conduzirem a história, mas não pode ditar regras como se fosse infalível.