Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

‘Faltam produções para crianças na TV’: Cláudia Abreu sobre ‘Valentins’, série de sua autoria, no Gloob

Cláudia Abreu escreve, produz e atua em 'Valentins', nova série do canal Gloob

Atriz, produtora e escritora, Cláudia Abreu falou ao TelePadi por telefone sobre sua primeira série infantil para a TV: “Valentins – Uma Família Muuuito Esperta”, que estreia nesta segunda, 12, às 20h30, no canal Gloob.

Cláudia, ou Cacau, apelido já difundindo para além dos amigos mais próximos, assina créditos nas três funções mencionadas na abertura deste texto. Certa de que falta conteúdo infantil de qualidade ao nosso audiovisual, da TV ao cinema, ela, que é mãe de quatro filhos com idades entre 16 e 6 anos, foi tomando tamanha intimidade com o universo infanto-juvenil, que logo a vontade de escrever veio de encontro a esse conhecimento. A produção é da Zola Filmes, produtora que Cacau divide com o marido, o diretor José Henrique Fonseca, que assina a direção da série.

O roteiro, Cacau divide com Flávia Lins e Silva, crédito já conhecido do canal pela mais longeva série do Gloob, “Detetives do Prédio Azul (D.P.A.)”, que até filme já rendeu. “Valentins” até tinha previsão de estrear antes, mas o Gloob viu no produto uma boa oportunidade para celebrar seu 5º aniversário. E, antes mesmo que tenhamos uma resposta da audiência sobre o produto, uma 2ª temporada já está em gravação, com lançamento previsto para 2018. São 26 episódios para cada safra. Então, senta que lá vem história.

Na série, Cacau é Alice, uma alquimista culinária, casada com Arthur (Guilherme Weber), renomado químico e inventor. Pais de quatro filhos, eles vão desaparecer por obra do “amigo” Randolfo (Luís Lobianco), o que obrigará as crianças a colocarem em prática seu potencial de autonomia para resolver questões relevantes por conta própria. Os pais, convém adiantar, vão aparecer no primeiro e no último episódio, pelo menos nesta temporada inaugural. As crianças são Betina (Rebecca Solter), João (Arthur Codeceira), Lila (Duda Wendling) e Theo (Otávio Martins) – os pequenos gravaram vídeos especialmente para o TelePadi, apresentando seus personagens: confira aqui.

Aqui, um resumo da minha conversa com Cacau, que se mostra muito satisfeita com o resultado de “Valentins”, acompanhada de perto por ela, tijolo por tijolo, com o orgulho de sócia da Zola.

TelePadi: Em que medida os seus quatro filhos serviram de inspiração ou de mote para a ideia inicial da série?
Cacau: A série nasceu um pouco pela percepção de que faltam produções para crianças na TV. Não tem mais (infantis) em TV aberta. De cinco anos pra cá tem o Gloob, mas eu tenho dois filhos que não pegaram o Gloob, uma de 16 nem viu. Essa minha primeira filha pegou ainda o Sítio e depois não houve mais nada pra criança. Ela pegou a segunda versão do Sítio, eu peguei outra quando era criança. O Sítio acabou e você vê que na TV aberta não tem, na TV a cabo tem, mas é muito pouco em relação ao conteúdo estrangeiro.

TelePadi: Isso é verdade: a quantidade que temos é mínima perto do conteúdo internacional, ainda mais como dramaturgia (a chamada live action).
Cacau: O meu desejo era primeiro escrever, esse era um desejo meu. E, a partir dessa observação de escrever algo pra criança, tive muita convivência com todo esse universo. Meus filhos vão de 16 a 5, passei 16 anos vendo todos os filmes, desenhos, tudo voltado para crianças. Fiquei muito munida de informação, continuo vendo diariamente e fico muito envolvida com esse universo. Juntando tudo isso, todos os meus filhos têm muita curiosidade sobre medo.Há um fascínio sobre o medo, temor e fascínio: você quer enfrentar aquilo, mas tem medo. Todos eles tinham medo na hora de dormir.

Na elaboração da série, queríamos elaborar sobre medo e me deu a ideia de escrever sobre isso. Agora, é uma família de quatro filhos, mas em nenhum momento tem a ver com nenhum dos meus filhos, as idades e os perfis são diferentes, eu não queria que as coisas se misturassem. Eu queria fazer uma homenagem, mas não um retrato.

TelePadi: As crianças, suas e os amigos delas, de alguma forma participaram do desenvolvimento da série, dando sugestões ou sendo consultadas sobre o enredo?
Cacau: Mostrei para as crianças, ao longo do processo, escrevendo com a Flávia. A gente escrevia na minha casa, e eventualmente chegava uma criança da escola, e a gente esclarecia uma dúvida ou outra, mas era uma coisa esporádica, não foi uma coisa elaborada.

TelePadi: E vocês já estão gravando a 2ª temporada, antes mesmo de ter uma resposta sobre o que vai agradar mais ou não nesta primeira safra. É quase um voo no escuro, não?
Cacau: A gente ia ter essa resposta do público porque ia estrear antes, mas o Gloob quis fazer uma grande comemoração dos cinco anos do canal e adiamos a estreia para agora.

TelePadi: A série se enquadra nessa faixa etária proposta pelo Gloob, de 5 a 9, 10 anos?
Cacau: Acho que pega de 5 a 10. Havia um desejo: o conteúdo pra criança não é prestigiado, sabe? Então, gente fez questão de fazer um programa com estética de cinema, tudo é caprichado, desde a trilha do André Abujamra, passando por todos os detalhes, para oferecer um produto de primeira. O que eu acho bacana é como quatro crianças sozinhas podem se virar sem os pais, que desaparecem no primeiro episódio e só voltam no último. Na segunda temporada é um pouco diferente, mas eles ficam mais sozinhos porque é uma história contada sob a ótica da criança. Como se dá autonomia para eles resolverem situações? A gente fala muito também da união entre irmãos, e além dessas questões, queríamos que tivesse uma estética caprichada, como filmes maravilhosos e as crianças têm acesso a esses filmes, como Harry Potter e outros. Nosso produto se faz sempre com pouco dinheiro.

A gente falou: a gente quer fazer um negócio de alto nível mesmo. Você vai formando o que você é com o que você vê ao longo da sua vida.

TelePadi: Houve algum filme ou livro de referência para a série?
Cacau: O que inspirou mesmo foi esse comportamento noturno, de ver que há um fascínio para enfrentar o medo. Tem uma coleção, ‘Quem tem medo de trovão’, ‘Quem tem medo de fantasma’, etc., ela fez muito sucesso na hora de dormir na minha casa. Também inventávamos histórias sobre isso. Eu brincava com minha filha mais velha que ela ia me levar pra ver Harry Potter, que eu era mais apaixonada que ela. Não estou falando que Harry Potter seja uma referência, mas é uma coisa bacana de que eu gosto e vale como referência de qualidade.

TelePadi: Podemos aguardar subprodutos de ‘Valentim’, como livros e filmes?
Cacau: Não está descartado que a gente faça algo mais, o Gloob fez o filme do D.P.A., pode até ser, mas isso é uma questão de ver o resultado. O que eu sei é que estou muito feliz de poder realizar isso, pela Zola, a nossa produtora.

TelePadi: Você acompanhou de perto as gravações no set?
Cacau: Eu faço a mãe, né, então eu to no set direto. Como produtora eu também vou muito lá.

TelePadi: Mas a mãe não está apenas em dois episódios? Ou tem cenas de flashback ao longo dos demais episódios?
Cacau: Na segunda temporada, ela aparece um pouco mais, e ela não some completamente. Mesmo quando eu não ia, recebia tudo o que era gravado. Eu estou ali realmente como cão de guarda. Eu queria muito falar da Zola, que é a nossa produtora, eu também tenho o desejo de fazer uma divisão para crianças na Zola, com canal no Youtube, Zola Kids, e me anima poder falar de conteúdo para criança. Mas, de qualquer maneira, o meu desejo de escrever, essa janela que eu abri na minha vida, é uma coisa que nunca fiz antes: escrever e produzir é uma experiência totalmente nova. Não quer dizer que eu vá ficar focada só nisso. Estou abrindo um leque, podendo trabalhar como atriz em outros projetos também, o que me dá bastante prazer.

 

Aqui, um teaser da série, que vai ao ar de segunda a sexta, às 20h30, no Gloob. Hoje, na estreia, serão exibidos dois episódios em sequência.

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Cristina Padiglione

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