Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Record foi mais ágil que a Globo na tragédia de Suzano, mas tropeçou na imprecisão

Imagem das primeiras transmissões da Record sobre a escola de Suzano, nesta quarta, / Reprodução

Por volta das 10 horas desta manhã, o helicóptero da Record já voava em direção a Suzano, onde só se sabia que um ou mais atiradores haviam entrado em uma escola e atirado contra estudantes e funcionários. Era uma típica cena de “Tiros em Columbine”, a mais famosa tragédia escolar dos Estados Unidos, onde cenas como esta infelizmente acontecem com alguma frequência.

Aqui, tivemos o caso de Realengo, no Rio, em abril de 2011, quando um atirador matou 11 crianças e deixou outras 13 feridas, antes de se matar.

Ao vivo , na manhã desta quarta, o piloto da aeronave da Record conversava com César Filho no “Hoje em Dia” para antecipar a tragédia de Suzano.

A manchete inicial falava em “8 mortos em Suzano”, mas não havia muitas informações. Nem sequer o nome da escola ele tinha quando começou a noticiar o fato, o que surgiu durante a hábil performance do apresentador em segurar a transmissão ao vivo, com pouquíssimos dados.

Mas César Filho depende do que lhe chega pelo ponto eletrônico ou no próprio estúdio, e na pressão para manter a cena ao vivo, sem ter muito a dizer, o risco de informações truncadas e imprecisas surgirem é latente. Em dado momento, o comandante do helicóptero diz que “parece” que “a diretora” da escola também foi atingida, além de oito crianças (o que já resultaria, pelas nossas contas, em nove mortos, não mais em oito).

A Record manteve nos créditos da tela o número “8”, ainda bem, mas era o caso de torcer para que familiares e amigos da diretora da escola não estivessem vendo aquilo, já que não fora ela, e sim uma coordenadora, a funcionária baleada que estava entre as vítimas fatais e inclusa no número “8” anunciado.

Enquanto isso, a redação da Globo em São Paulo estava em polvorosa: os profissionais sabiam do episódio, mas ainda não tinham imagens, nomes, quase nenhuma confirmação precisa.

A Record deu a notícia antes, a Globo entrou em seguida.

O esforço das duas emissoras consumiu horas.

Na Globo, o jornal “Hoje” terminou só as 15h30, engolindo o filme da “Sessão da Tarde”, mas a emissora não conseguiu colocar seus principais repórteres ao vivo do local nem deu a notícia em primeira mão.

Resumo da ópera: a Record mantém a fama de guerrilheira, mas ainda derrapa na precisão e no compromisso com a apuração.

A Globo pode se gabar de ter todo o cuidado do mundo na hora de informar sobre desastres que fazem vítimas fatais, mas paga também o ônus por manter seu helicóptero em solo por mais tempo que a Record. É uma economia que às vezes sai caro, como aconteceu hoje, quando a concorrente se mostrou bem mais ágil.

O Globocop voa, em geral, durante o “Bom Dia” praça e a primeira edição regional, como “SPTV 1”, por três horas diárias, mais ou menos. Toda decolagem extraordinária pede autorização especial, o que gera alguma demora.

E O SBT?

Bem, o SBT ainda é, entre as redes que brigam por audiência, a que mais se mostra resistente em interromper sua programação, mesmo composta por tantas reprises, para se prolongar em transmissões ao vivo desse porte.

A sorte é que tem lá um Roberto Cabrini, repórter incansável, que trouxe para o “SBT Brasil”, já à noite, principal telejornal da casa, um material inédito sobre um dos atiradores, Guilherme Monteiro. Cabrini conversou com Luiz Roberto Nascimento Ferreira, de 18 anos, que estudou com Guilherme, 17. Segundo ele, o rapaz estaria envolvido com tráfico de drogas. Nascimento reforçou a informação de que Guilherme sofria bullying na escola.

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