Record já tem 3 patrocinadores para ‘Fazenda’: estamos todos presos a um reality show
Há quatro meses não se fala em outra gente que não seja Juliette, Gil, Fiuk, Pocah e cia., todos confinados a uma casa sob os cuidados da Globo. Confesso que me assusta o plantão feito por alguns internautas que dormem e acordam falando em “BBB”, mas antes isso a ter todo o espaço do cérebro tomado involuntariamente por outro nome que nos assalta dia e noite, invadindo até as janelas em dias de panelaço.
Melhor pensar em paredões, anjos e monstros. Melhor se ocupar da vida de outros, de preferência de quem não afeta a nossa pasmaceira à espera da vacina que não vem. Daí por que estamos todos presos a um reality show. Não à toa, desde que estamos confinados em fuga do vírus, de 2020 para cá, o confinamento alheio ganhou dimensões maiores, e fez de “BBB” e “A Fazenda” assuntos com exponencial crescimento nas redes sociais.
É engajamento que chama, né? Pois é. As marcas anunciantes têm ciência disso e atestam a nossa subserviência ao assunto pelos altos investimentos feitos em programas do gênero. Só no “BBB”, oito patrocinadores se acotovelam pelo privilégio de embalar a contagiante vinheta de abertura, sem falar naquelas provas que transformam a tela em um grande outdoor em formato de game.
Agora, a cinco meses da estreia de “A Fazenda 13”, não sabemos quem apresentará o programa, já que a Record resolveu se livrar do melhor apresentador que o programa já teve, Marcos Mion. Em qualquer lugar, um nome de peso empresta prestígio ao produto. Na Record, brilhar demais pode ser um problema.
Em compensação, a emissora se gaba de já ter fechado três cotas de patrocínio, e duas delas estão envolvidas até o pescoço com o “BBB”: Americanas e Unilever. A terceira vaga é do Banco Original.
A Record anuncia que o custo de cada cota de patrocínio de “A Fazenda” é de R$ 99,6 milhões, R$ 21 milhões a mais que o “BBB”. Como pode? Faz parte do show, mas não da realidade do caixa. Ora, se o “BBB” supera 30 pontos de audiência, mediante de 16 pontos de “A Fazenda”, é claro que um anunciante não paga mais para estar na Record do que pagaria para aparecer na Globo, mas os valores super estimados fazem parte da divulgação do produto.
Entre quatro paredes, no entanto, os descontos oferecidos aos anunciantes são homéricos. A Record alega que esse custo engloba R7 e Record News, mas a vitrine maior de fato é a TV. As outras telas não justificam a diferença em relação ao custo de tabela do “BBB”.
Pelas contas da Record, “A Fazenda 12”, em 2020, alcançou 118 milhões de pessoas. No total, a temporada recebeu mais de 9,1 bilhões de votos do público e 12,7 bilhões de impressões nas redes sociais. Mais de 6,8 bilhões de páginas foram vistas nos ambientes da Fazenda no portal R7. E 5,2 bilhões de vídeos foram visualizados em diversas redes sociais, gerando mais de 124 milhões de engajamentos e mais de 20,3 milhões de menções nas redes sociais.
“A Fazenda 12” chegou ao fim com 5,7 milhões de inscritos no TikTok, 3,5 milhões de inscritos no Instagram e 2,9 milhões de inscritos no YouTube.
Por tudo isso, fica ainda mais inexplicável entender por que se livraram do Mion, nome de superlativa influência digital. Mas isso são outros quinhentos.
O que importa agora é o consolo de que vamos continuar a dar pitaco no comportamento alheio, sem risco de afetar nosso próprio paredão ou a roça que já nos cabe no confinamento doméstico, sem direito a prêmios, sem quarto do líder, sem banho de piscina ou selinho, sem show personalizado.
Assim que o “BBB” sair de cena, começa o “Power Couple”, outro reality de confinamento na Record, e até uma ressurreição de “No Limite” com ex-BBBs, na Globo, já calçado em seis patrocínios. Ambos estão prontos para entreter nosso foco com provas e competições de todos os naipes, sem perspectivas de horizonte maior na vida real, presos que estamos em casa ou atrás de uma máscara.
Quanto menos interessante a nossa vida, tanto mais nos interessa a história de outros.