Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Regina Volpato ensina a fazer TV ao vivo à frente do Mulheres

A apresentadora Regina Volpato fala ao TelePadi / @reginavolpato no Instagram

Por Sérgio Ribas

 

A jornalista e apresentadora Regina Volpato combina carisma, versatilidade e um vasto repertório pessoal para deixar sua marca registrada no programa Mulheres, que acaba de completar 41 anos no ar, na TV Gazeta de São Paulo.

Fôlego, agilidade e habilidade para improvisar são outras características notáveis no trabalho da apresentadora. De segunda a sexta-feira, ela fica três horas em cena, ao vivo, o que, na TV, invariavelmente é uma “operação de guerra”. Regina ensina como fazer isso sem perder rumo.

Do telejornalismo para o entretenimento, em que era uma das amadrinhadas de Hebe Camargo [1929-2012], Volpato, que se formou jornalista na Escola de Comunicação e Artes da USP, segue entre as figuras mais vocacionadas para a televisão no Brasil.

Longe dos burburinhos das grandes audiências, a apresentadora usa a competência, a dedicação e o aval de patrocinadores e telespectadores fiéis para manter o foco e seguir se aprimorando.

À frente da atração vespertina da Gazeta desde 2018, Regina também se transformou no principal nome do elenco da tradicional emissora com sede-cartão-postal na avenida Paulista.

Nas redes sociais, Volpato tem mais de 350 mil seguidores e diz que criou, com a comunicação digital, uma “base de relacionamento” que usa como parâmetro no trabalho.

Culinária, saúde, música, astrologia, atualidades, humor, celebridades e mídias sociais, entre outros assuntos, criam, no Mulheres, o labirinto temático de “variedades” que Regina percorre com segurança e desenvoltura singulares.

A história que levou à Gazeta a ilustre apresentadora-mediadora dos Casos de Família, do SBT, nos anos de 2000, programa com o qual Volpato fez fama nacional, é improvável.

Para divulgar o lançamento de seu primeiro livro, “Mudar Faz Bem” (Planeta), um misto de crônicas e reflexões com ares psicanalíticos, Regina participou como convidada do programa sem imaginar que, por causa da presença ali, voltaria a atuar na televisão aberta.

A participação rendeu o convite e o resto foi trabalho, com o qual agora ela também se diverte. “Se há algo de que me orgulho é quando alguém me reconhece pela voz. Significa que as pessoas escutam o que falo. Num mundo de tantas aparências, de tantas referências visuais, ser reconhecida pela voz me diz tanto”, afirma a apresentadora, que falou com exclusividade ao Telepadi. Abaixo, os principais trechos da entrevista.

AUTOAVALIAÇÃO NO MULHERES

Comecei em 2018. Era outro mundo, outro planeta, eram outras preocupações. E cada ano tem sido um desafio. O primeiro foi assumir e me sentir confortável substituindo apresentadores e apresentadoras que passaram pelo programa e são reconhecidos pela competência e pelo carisma. Depois, em 2019, precisava achar o espaço que queria ocupar. ‘Quem é a apresentadora que quero ser frente a essa atração?’ Tenho ídolos, mulheres-jornalistas-apresentadoras que admiro profundamente, mas sempre busquei o meu jeito, a minha maneira de exercer minha profissão e nunca gostei de ser arremedo, réplica de outras apresentadoras. Quando achei que tinha encontrado o tom, veio 2020, que virou tudo de cabeça para baixo, colocou medo e impôs uma série de restrições. 2021 chegou com essa perspectiva de um passo para a frente e dois para trás. Resumindo, acho que a cada desafio proposto, respondi a contento, modéstia à parte.”

TANTO TEMPO AO VIVO

São três horas de segunda a sexta e é um programa conversado. Tem que ter repertório, vivência e uma cultura geral minimamente estruturada e acessível para me virar nessas horas todas, no ambiente todo. Por pelo menos três vezes achei que estava saindo definitivamente da televisão e isso me fez muito bem porque passei para o outro lado da tela e consigo ir para o outro lado o tempo todo. O trabalho que desenvolvo fora da televisão há anos me dá um respaldo muito interessante. O que fiz no Youtube, o que faço nas redes sociais, me dá um lastro, um suporte que me ajuda no trabalho na televisão. Consegui, na comunicação digital, uma base de relacionamento que é um termômetro e me traz informações, me deixa mais humana.”

À frente do Mulheres desde 2018 / Divulgação

PRAZER, SOU EU

Quando saí da bancada do telejornalismo, em você precisa de um escudo –para cobrir um 11 de setembro, por exemplo, sem ter um acesso de choro– vi que algumas pessoas também criam esse escudo no entretenimento. Mas isso deixa a performance superficial, dissociada. Tinha muito medo de ser assim não por conta da função, mas por conta do que sou, porque também vejo quem sai do ar e continua no personagem. Não queria isso. Na hora em que a câmera liga ou desliga, continuo sendo a mesma pessoa. Não é à toa que produzo memes atrás de memes. É porque estou ali como estou na vida, aberta.”

AUTONOMIA PARA COMUNICAR

Nos anos 2000, criei um blog porque já vislumbrava que poderia falar por mim mesma –e isso sempre foi muito útil. O que antes era uma ideia hoje é uma certeza. Na televisão, por exemplo, há protocolos e condutas que às vezes não têm a ver comigo. É um filtro que não é meu. O conteúdo que produzo por iniciativa pessoal me dá a autonomia de comunicar o que quero comunicar da maneira que quiser. Isso é maravilhoso e não há como precificar. É conteúdo que fica para a eternidade. E o que faço da minha vida e da minha carreira é fundamental para mim.”

REAL VERSUS DIGITAL

Ter referências de uma pessoa que viveu no mundo analógico faz toda a diferença. Quem já nasceu no mundo digital, virtual, não tem noção de limite e acredita que realmente está tudo 100% exposto. Faço questão de fazer vídeos sem filtros, por exemplo. Mostrar a raiz branca do cabelo, a vida real. Mas algumas situações não cabem porque não são de bom gosto –e não estou falando nem do que é sofisticado. Veem-se muitas coisas na Internet que são feias, sem graça, preconceituosas, racistas. Se pode ser invasivo para alguém, não faço. Ou paro de gravar na hora e deleto o conteúdo. Não posso, só para me mostrar, invadir o espaço do outro. Esse filtro, de respeitar o espaço do outro, faz parte de mim 24 horas por dia, porque nasci no mundo analógico e não me fechei para as transformações.”

JORNALISTA OU ARTISTA?

Diria que hoje, como todos os brasileiros, somos todos artistas. Para driblar tudo o que está acontecendo no país, temos que ser artistas. Se levar a frustração, a angústia, essa raiva que, como cidadãs e cidadãos, sentimos em vários momentos, para a minha vida, vou ter um troço. Então acho que sou meio artista para driblar as dificuldades, mirar no que é positivo ou possível e desenvolver o meu trabalho. Artista no sentido de buscar a arte como algo que é transformador, o que é bonito, o que faz sentido, o que a gente sabe que é para a eternidade.”

MANTER A SANIDADE

Tenho uma preocupação com a saúde física e mental que é muito grande. Nesse aspecto, já era uma pessoa extrovertida que sempre cultivou a introversão. Com a pandemia, passei a me olhar com uma lupa, sempre atenta às minhas oscilações mentais e aos movimentos e sinais do meu corpo, às dores, às alegrias, a entender como vou lidar com a angústia e como lido com as conquistas e as felicidades em tempos tão sombrios porque apesar de vivermos dias tão difíceis, também tive vitórias e alegrias. Como lidar com isso num mar de lama de tristeza para não ser dissimulada, desconectada, cruel e perversa com tanta gente que sofre. É trabalhoso dia e noite.”

O LEGADO DA CREDIBILIDADE

Credibilidade é um patrimônio, do qual me orgulho muito. Se hoje tivesse que dizer do que é que mais cuido, é isso. É a parte mais sensível, que merece mais a minha atenção. Saber que alguém pode fazer algo influenciado pela minha opinião, pela minha conduta, pela minha declaração, é muita responsabilidade. Requer atenção permanente. É como criar filho, uma tarefa para a vida toda. E quando cometo erros, me equivoco na minha avaliação, não fujo da responsabilidade. Assumo. No dia a dia, é um grande desafio, tanto nas redes quanto na TV.”

AMAR E ODIAR APRESENTADORES

Não consigo entender essa histeria. Do ano passado para cá, grudamos os olhos nas telas, na TV, no celular. Com tudo fechado, sobraram as telas como janelas para o mundo e aí eu acho que projetamos –o que gostamos, o que não gostamos, o está bem resolvido ou mal resolvido. É uma projeção contínua e exacerbada. Algumas pessoas têm consciência disso e outras não. Tem quem odeie e odeie para valer, com todas as letras. Tem quem idolatre e defenda. Para mim, esse vício da projeção significa olhar para você mesmo, reconhecer quem você é e isso é um trabalho muito difícil em qualquer circunstância. Nesses tempos recentes, mais ainda.”

O QUE APRENDEU COM HEBE CAMARGO?

A espontaneidade e a me divertir em cena. Posso dizer que me divirto. Muitas vezes vou trabalhar cansada, como todo trabalhador, toda trabalhadora, mas me divirto. A Hebe tinha prazer em tudo que fazia. Vibrava isso. Gostava de cada convidado, da plateia, dava risada. Tudo era uma grande festa, pelo menos na leitura que faço. E consegui chegar nesse ponto, de me divertir fazendo o que faço. Desligada a câmera, Hebe ia conversar com a plateia, com os convidados, contava que tinha tomado a caipirinha dela. Não era uma atuação.”

O QUE APRENDEU COM SILVIO SANTOS?

A ser profissional o tempo todo. Do momento que se chega na emissora, na maneira como conversa com as pessoas, até o último minuto, quando entra no carro para voltar para casa. Tem que ser profissional o tempo todo. Se estou na feira, desencanada, e vem alguém que me reconhece profissionalmente, pela minha voz, pronto. Já virei profissional. Naquele momento, passei a ser profissional e isso aprendi com o Silvio Santos. Que pode estar de pijama, assim ou assado, mas é profissional. Faz parte do meu cargo, da minha profissão e do meu trabalho. Imagina se isso fizesse parte da vida dos políticos? Se eles não fossem políticos só quando estão dando entrevista ou na Câmara e no Senado. Se eles fossem políticos o tempo todo. Então sou jornalista, sou apresentadora o tempo todo. É um bônus.”

AS REDES E A TV ABERTA

Um alimenta a outro. As redes dão uma outra repercussão do meu trabalho. Por isso, digo que amo os memes, especialmente quando é tão difícil a gente dar risada. Quando ela é espontânea, é uma delícia. Quando vejo uma situação que desperta uma gargalhada gostosa acho maravilhoso e isso só existe graças às redes – por isso um estimula o outro. A televisão ainda tem uma formalidade, uma conduta, muito mais casual do que era, mas ainda tem. Nas redes, com tanta liberdade, é muito comum ver as pessoas perdendo o senso.”

POR QUE PUBLICA O CORPÃO DE BIQUINI NAS REDES?

Por que ser livre é uma afronta. Fazer uma foto assim já é uma afronta. Publicá-la, uma afronta ainda maior. Muita gente gosta e tal, mas no geral as pessoas se sentem afrontadas. E não tenho o menor problema ao ser afrontosa com o que acredito. ‘Ah, mas é porque você está bonita’, ouço dizer. Bonito e feio para mim, já há alguns anos, são coisas muito relativas. Gosto da minha barriguinha de quem já viveu a gravidez. Gosto de como sou com a idade que tenho. E acho que as mulheres ainda precisam se libertar dessa história de eu não estou bem, não estou isso, não estou aquilo. Podem fazer o que quiserem para se sentir melhor. Esse tipo de amarra é que acho que não dá. São esses julgamentos todos que não fazem mais sentido. É sobre liberdade, autoconfiança, e não ligar para avaliação do outro de um jeito raso. É sobre poder ser quem eu sou, com a idade que tenho, tendo feito tudo que fiz.”

 

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Cristina Padiglione

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