Romance e suspense: diretora fala de ‘A Lei do Amor’, novela das nove criada para as onze
Se a atual novela das nove, ‘Velho Chico’, foi inicialmente pensada para a faixa das 18h e depois foi notada como um produto adequado para as 21h, ‘A Lei do Amor’, próxima trama do horário, também foi primeiramente concebida como trama para um outro horário, no caso, onze da noite.
A ler a sinopse do folhetim, obra de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari, a diretora artística Denise Saraceni comentou com Silvio de Abreu, autor que há dois anos comanda a área de novelas da Globo, que aquela história renderia uma excelente novela das 9. Visitei o set durante as gravações no Parque do Ibirapuera, nas cercanias do Museu Afro e da Oca, ainda no início de agosto. Eis o que Saraceni nos conta sobre a substituta de ‘Velho Chico’, que entra no ar dia 3 de outubro. O enredo tem São Paulo e uma espécie de ABC como cenário.
NOVELA DAS ONZE OU DAS NOVE?
“Tinham algumas sinopses pra gente (diretores artísticos) ler. A gente acaba opinando nas coisas e me enviaram essa sinopse. Eu estava já fazendo ‘Ligações Perigosas’, eu falava ‘pô, Maria Adelaide, a gente precisa voltar a trabalhar, precisa voltar’ e nunca dava. Nosso último trabalho juntas foi ‘Queridos Amigos’ (2008). Aí me mandaram uma novela que seria para 23h. Eu li, liguei pra ela e falei: ‘você tem uma novela das 9 aí. O Silvio (de Abreu) estava chegando, enfim, estava havendo aquela mudança de chefia e a gente falou, foi meio automática a minha presença como diretora agora, ficamos só esperando a hora.”
NOVELA ADIADA
“Adorei que a novela foi adiada (a novela seria inicialmente substituta de A Regra do Jogo, mas a direção geral da Globo viu em ‘Velho Chico’ uma chance de alternância de cenário e a conveniência de evitar abordagens políticas em ano de eleição). Assim, daria pra gente fazer um trabalho mais rico. Eu estava muito ocupada com a série e eu achava que a gente podia ter mais frente de capítulos, evidentemente não foi só pelo meu gosto. E a própria Adelaide, até hoje, vai, revisa tudo com prazo maior, ela tem uma frente de capítulos bastante segura, os atores leem, a gente ensaia, ela retoma o começo, então é um trabalho vivo.”
ROMANCE E SUSPENSE
“A nossa novela também tem um pano de fundo que, na verdade, é uma história de suspense, de mistério, de relações humanas. O Fausto, personagem do Tarcísio (Meira) sofre um atentado. Todos os personagens são misteriosos, a novela é um pouco hitchcokiana, o espectador é um pouco cúmplice daquilo. Você certamente vai saber, o público vai acompanhar, é uma história sendo contada, cada dia entra um elemento que te desperta, é um mistério. Tem muito gancho. A Maria Adelaide é a rainha do gancho, tem um suspense, mas ela não muda a história. Tem bastante conflito humano, acho que é um resgate do herói. O Pedro (Chay Suede/Reynado Gianecchini) resgata valores meio perturbados nesse roldão em que a gente está, que trata da essência do amor, busca a justiça, relações com a natureza, busca novas formas de democracia, como se a democracia pudesse realmente ser popular, sem ser partidária, essência de cidadania. Ele toca nisso na figura do herói.”
MALU MULHER
“Entrei na TV pelo ‘TV Mulher’, então foi um reencontro, agora, com a Regina. Só fiz uma vez uma coisa no ‘Retrato de Mulher’, que ela fazia, encontro com ela sempre, a gente é praticamente amiga, mas trabalhar juntas, não, foi agora uma emoção especial. E espero que seja também minha última novela, quero o ócio. Deixa um suspense aí.
(Parêntese: Regina Duarte vive a amante de Tarcísio e é interpretada pela filha, Gabriela Duarte) na primeira fase, uma narrativa de quatro capítulos e meio. A personagem morre no atentado em que o amante era o alvo central, já no início da segunda semana de novela).
CARACTERIZAÇÃO DE ATORES
“Eu fiz um trabalho de caracterização, aproximação, não só de interpretação. A gente trouxe um maquiador, que já trabalhou com a gente, ele veio dar uma consultoria, o Mark Coulier, ele ganhou vários Oscar. A integridade entre eles é fundamental, de caracterização e truques para um se parecer com outro, sobrancelha, pinta, coisas de observação, e ele deu um workshop pra gente que foi sensacional. Ele jhá tinha ajudado na caracterização de ‘Saramandaia’, fez a Dona Redonda, e encontrou a Vera (Holtz) aqui de novo. A Vera (no papel de mulher titular de Fausto, vivido por Tarcísio) faz as duas fases, a gente cria alguns conceitos. Quem já tem acima de 40, 50, fica no mesmo ator, o que muda é a vida, que vai te dando uma atitude mais madura. Mas a gente consegue, com atores diferentes em duas fases, uma aproximação impressionante. Lembra da Cláudia Raia e da Alessandra Negrini em ‘Engraçadinha’ (1995)? Ninguém diz que elas são parecidas, mas as expressões de uma estão no rosto da outra. É como a Cacau (Cláudia Abreu) e a Isabelle (Drummond). Já trabalhamos juntas várias vezes, e na última novela (Geração Brasil), uma era mãe, outra era filha e elas estava iguais. O Almodovar faz em ‘Julieta’ uma passagem entre atrizes que coisa de gênio.”
EMOÇÃO À FLOR DA PELE
“A narrativa da nossa história é pela emoção. Eles ensaiaram juntos, a gente leu juntos, foram pras locações juntos, fizeram testes, ensaios, foi um trabalho bem rico. Acho que é um sentimento, a coerência do seu personagem. A Cacau, em Paraty, deu uma risada… Ué! Eu tinha acabado de fazer a cena dos jovens – eu falo ‘jovens’ e eles ficam bravos comigo. A cena dos ‘mais’ (pronuncia com ênfase) jovens e a menina tinha rido igualzinho. Falei: ‘vocês combinaram alguma coisa?’ Até eu me confundi. Cheguei a chamar a Cacau de Isabelle, de tão iguais que estavam, o jeito de segurar na árvore, coisa delas, sem ensaio. Então, acho que estamos num caminho bacana.”
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