Ronnie Von completa 80 anos com título de Príncipe intacto
Foi Hebe Camargo, a maior de nossas apresentadoras, quem primeiro tratou Ronnie Von como “Príncipe”. Embora a nominação lhe caiba sob todos os aspectos, em função de uma gentileza, uma beleza e um repertório muito e muito acima dos patamares comuns, a alusão de Hebe foi relacionada ao personagem que dá nome a um dos maiores clássicos da literatura mundial, obra de Antoine de Saint-Exupéry.
Isso foi lá nos anos 1960, nos idos da TV Record da família Machado de Carvalho, década de Jovem Guarda e também de Mutantes -aliás, nome sugerido por Ronnie, como já é amplamente sabido e como endossou Rita Lee em sua primeiro autobiografia.
Nascido Ronaldo Nogueira em Niterói (RJ), em 17 de julho de 1944, Ronnie completa bem hoje 80 anos, fazendo jus ao título de nobreza lançado por Hebe. De olhos claros e um rosto desenhado milimetricamente com perfeição, o homem era – e é – lindo de viver, como dizia a Hebe.
Quando surgiu para a fama, cantando “Meu Bem”, jogava os cabelos para frente e para trás, e passava os dedos entre as madeixas à vontade, sem que um só fio se rebelasse. Rivalizando com O Príncipe no reinado da Jovem Guarda, Roberto Carlos nunca escondeu, como confessaria a Jô Soares 40 anos depois, que morria de inveja daquela juba.
Roberto e Erasmo consumiam horas de make up, touca e afins. Alisados na medida do possível, os fios dos Carlos eram cobertos por spray e mal permitiam movimentos bruscos para se manterem intactos diante das lentes da TV e nas fotos.
Reparemos que os fios do Ronnie, portanto, nunca se assemelharam aos “cabelos da cor dou ouro” ostentados pelo Pequeno Príncipe. Mas a Hebe estava, como sempre, coberta de razão.
Ronnie Von é a expressão de gentileza idealizada nas figuras nobres, algo que hoje falta inclusive a muitos membros de famílias reais onde a monarquia ainda resiste.
Sem predisposição para polemizar, foge de controvérsias, sem hostilizar A ou B, sem que isso signifique estar “em cima do muro”. Por mais que suas opiniões sejam conhecidas, pela forma como conduz carreira e imagem, na música ou na TV, não se deixa conduzir por rótulos – nem de vinhos, produto que ele consome com vasto conhecimento.
Tive a imensa sorte de conviver com Ronnie Von na TV Gazeta, onde ele conduziu com êxito programas como “Mãe de Gravata” e “Todo Seu”, do qual participei em seus dois últimos anos, tamém em companhia do querido Caçulinha.
A conjugação de música e TV, com boa conversa e boa mesa, encontra raríssimos nomes capazes de conduzir um programa com a mesma organicidade que Ronnie tem, algo que tampouco se ensina a aspirantes à fama em treinamentos de media training ou marketing.
Após a saída da Gazeta, a Band muito ensaiou uma contratação do nosso Príncipe, mas tropeçou nas boas intenções e deixou o caminho aberto para a RedeTV!, onde ele chegou a fazer a Manhã do Ronnie, até que alguém notasse seu valor ainda maior para a faixa noturna, onde ele finalmente reestreia agora, no embalo da comemoração de seus 80 anos.
Viva Ronnie Von.
Que seus modos inspirem tanta gente carente de delicadeza e repertório, da música à mesa, da moda ao vocabulário, da vida aos gestos que nos conduzem no dia a dia de verdade, e não aquele apenas produzido para as redes sociais.