Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Saída de Nascimento expõe atual desprezo do SBT pelo jornalismo

Carlos Nascimento se despede do SBT após 14 anos / Divulgação

Com o fim do contrato entre o SBT e Carlos Nascimento, como foi noticiado em primeira mão pelo colunista do UOL Maurício Stycer, a emissora fica sem um só nome relevante do jornalismo em sua linha de frente.

Há dois meses, o SBT encerrou o Conexão Repórter, de Roberto Cabrini, que se recusou  a ter sua atuação na emissora restrita a participação nos noticiários. Cabrini estreou na Record há duas semanas, pelo Domingo Espetacular, e desde então vem batendo o programa do próprio Silvio Santos, inclusive neste domingo (13), com uma reportagem em homenagem aos 90 anos do Homem do Baú.

O Silvio reprisado no SBT foi derrotado com 7,3 pontos pelo Silvio inédito do jornalismo da Record, que fez 12,4 pontos de média e 14 de pico na Grande São Paulo.

Nesses tempos de pandemia, a produção jornalística, contra ou a favor do presidente Jair Bolsonaro, policialesca ou não, atenta às aflições de um Brasil em crise por todos os poros, é a moeda mais valiosa de audiência para a TV e a internet. Foi justamente disso que o SBT abriu mão.

Se não pode gravar com auditório e não pode fazer novela, sobra o quê? Jornalismo. As pessoas têm sede de informação, e antes que apresentassem um certo cansaço do próprio noticiário de Covid, consumiram vorazmente produções jornalísticas em todas as suas formas.

Mas, desde março, não há rede que dedique menos espaço a notícias do que o SBT. O Primeiro Impacto, apresentado por dois pretensos showmen, a despeito da competência de parte das equipes de reportagens, está longe de ser visto como telejornal.

Em setembro, a emissora dispensou Rachel Sheherazade, que embora não tenha o estofo de um Nascimento, tinha popularidade e potencial para atrair público.

Antes de Nascimento chegar ao SBT, em 2006, Ana Paula Padrão, vinda da Globo, havia resgatado das cinzas o jornalismo do SBT, após oito anos de apagão. Entre 1997, quando encerraram o TJ Brasil, e a estreia do SBT Brasil, com Padrão, o SBT manteve lá alguns boletins protocolares para cumprir os 5% de jornalismo exigidos em lei para uma estação de TV. No máximo, foi criado o noticiário conhecido como Jornal das Pernas, onde Cynthia Benini e Analice Nicolau noticiavam informações dadas por outros veículos, sempre sentadas e sem bancada -daí a fama de “jornal das pernas”.

Quando o jornalismo foi retomado e foram formadas equipes de reportagens, do zero, a grande dificuldade era conseguir imagens de acontecimentos entre 97 e 2005, tendo às vezes de pedir cenas a outras emissoras desse período.

É muita humilhação para um departamento que já teve Lillian Witte Fibe e Boris Casoy como apostas da casa. Nenhum deles, convém lembrar, havia apresentado telejornal antes de aterrissar nos domínios de Silvio Santos, mas ambos traziam uma carga respeitável de profissionalismo.

Foram-se os dias em que o SBT lançava moda. Não há canal que cobice Marcão do Povo ou Dudu Camargo para seus noticiários –para reality shows, auditórios, quem sabe? Mas jornalismo, não.

É pena que a emissora tenha deixado de abrir espaço justamente para a única coisa que interessava, neste momento.

Nascimento estava afastado da tela desde março por pertencer ao grupo de risco.

Sem jornalismo, o SBT, sempre tão cioso de prestar continência a cada governo, fica ainda mais vulnerável. E não adianta oferecer aos poderosos o palco do Ratinho ou a poltrona de Danilo Gentili, ambos igualmente enfraquecidos pela queda de audiência desfilada pela emissora nos últimos meses.

É verdade que a TV da família Abravanel vem perdendo terreno por causa de um reality show, “A Fazenda”, que já já sai de cena. Mas é preciso entender que a Record só vem conseguindo tirar bom proveito do título porque o restante da programação, com ênfase para o jornalismo, está bem melhor estruturado do que a do SBT.

De novo, não faço aqui referência à linha editorial, mas ao investimento na produção da cobertura de fatos e na contratação de profissionais renomados, nem que, no caso de analistas, sejam aqueles que lá estão só para dar voz ao posicionamento do dono.

 

Em nota, Nascimento agradeceu pessoalmente a Silvio Santos pelo período em que esteve no SBT, texto que o blog acrescenta agora, cinco horas após a publicação do post original:

“Aos amigos, colegas e companheiros do SBT

Conforme já sabem o meu contrato não foi renovado e tudo que tenho a dizer a vocês é muito, muito obrigado.

Especialmente no período agudo da minha doença fui tratado por esta empresa e seus funcionários com amor, carinho, zelo e atenção. Eu e minha família jamais esqueceremos.

Quero dirigir um agradecimento especial ao Silvio Santos, à família Abravanel, aos diretores do SBT e à equipe do Jornalismo, conduzida por dois grandes amigos, Marcelo Parada e José Occhiuso. Vocês todos, hoje e sempre, vivem em nossos corações. Permitam-me repetir :

Muito, muito obrigado !

Rosi, João Eduardo e Carlos Nascimento”

 

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Cristina Padiglione

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