SBT erra ao abrir mão de Roberto Cabrini, e ele volta para a Record
O SBT oficializou nesta terça-feira (13) a saída de Roberto Cabrini da emissora, após dez anos de Conexão Repórter e uma lista de prêmios por suas reportagens.
Cabrini volta para a Record, onde define suas novas funções, se possível com um programa semanal nos moldes do Conexão.
Entre a decisão de não renovar o seu contrato, que vai até o fim de outubro, e o comunicado do dia, a direção do SBT cogitou aproveitar Cabrini em seus telejornais, como acontecia regularmente, quando ele antecipava nos noticiários da casa revelações de reportagens factuais que ele produzia para o seu programa, sempre em cima dos assuntos mais quentes da semana.
Mas a Record foi mais ligeira e acertou seu retorno aos domínios de Edir Macedo (aliás, entrevistado por Cabrini no próprio Conexão Repórter).
A justificativa de bastidores para a saída de Cabrini foi o custo-benefício: seus vencimentos e o investimento na produção do programa não eram compensados pelo retorno de anunciantes no caixa do SBT.
Convém dizer que se estava difícil com ele, pior será sem ele. Antes de mais nada, um programa jornalístico perdido em uma grade que não valoriza o jornalismo não faz milagre sozinho, por mais enfáticas e dramáticas que às vezes pareça a narração de apresentação de Cabrini para cada edição.
E olhe que o programa deixa a grade tendo ostentado algumas ocasiões, mesmo que esporádicas, na liderança, e honrando majoritariamente a vice-liderança da casa sobre a Record. Tornou-se ainda o título mais premiado da emissora, com estatuetas e medalhas do Prêmio Esso, República e seis Troféu Imprensa, sendo duas vezes por unanimidade. Em outra passagem anterior pelo SBT, Cabrini já havia conquistado o Prêmio Vladimir Herzog e o APCA. Neste último ciclo à frente do Conexão Repórter, Cabrini venceu duas vezes o Prêmio Comunique-se na categoria repórter de mídia falada.
Nesses tempos de restrições impostas pela pandemia, sem seu principal personagem (o próprio Silvio Santos), sem seu mais valioso ingrediente (os auditórios ocupados presencialmente) e sem condição de fazer novelas, o jornalismo é um dos poucos trunfos que restam ao SBT. No entanto, a emissora perdeu Rachel Sheherazade, está sem Carlos Nascimento no ar, mal abre espaços na programação para coberturas de fatos urgentes e enaltece em seus telejornais nomes que estão mais para animadores de show.
Abrir mão de Cabrini, nesse contexto que inclui ainda a saída de Maisa Silva, é decisão que só esvazia ainda mais o valor do jornalismo profissional da casa, coisa que não se recupera de um dia para o outro, como se fosse sorteio da TeleSena. Para uma emissora que já teve Boris Casoy, Lillian Witte Fibe, Marília Gabriela e Ana Paula Padrão, o cenário atual é desolador. Perde o SBT e perdemos todos nós, espectadores e jornalistas.
Ainda que o programa em si não cobrisse os custos de seus investimentos (sim, jornalismo profissional, com apuração e informações inéditas, custa caro), o Conexão Repórter e os trunfos de Cabrini agregavam valor a algo que se conhece por credibilidade, moeda inestimável para qualquer veículo de comunicação que se preze.
O SBT é a TV que tem torcida, só não pode ser, ela própria, torcedora de time único, sob o risco de se tornar refém de anunciante que pede a cabeça de seus profissionais ou de políticos que são ocupantes passageiros de um trono com prazo de validade. Anda não voltamos à monarquia.