Selinho na novela das sete aborda o beijo gay sem panfletagem
Como marido e mulher que se despedem na hora da partida para o trabalho, após o café da manhã, os personagens Pedro (Rafadel Infante) e William (Diego Montez) trocaram um selinho no capítulo desta quinta (29) em “Bom Sucesso”, a boa novela das sete da Globo.
De Rosane Svartman e Paulo Halm, o folhetim tem um bom argumento e, o que é mais difícil, um argumento bem desenvolvido, com realização à altura. Afinal, de que vale uma boa história na boca de quem não sabe contá-la?
“Bom Sucesso” aborda de modo natural a convivência entre cores e extratos sociais diferentes, promovendo a incursão de duas figuras centrais em mundos completamente distintos das bolhas a que estão habituadas. Há um encantamento humano entre Paloma (Grazi Massafera) e Alberto (Antonio Fagundes), com química de efeito entre seus intérpretes.
Do beijo entre os meninos à convivência entre ricos, pobres, brancos, negros e miscigenados, o texto preza pelo caráter orgânico: tudo se cruza de modo muito natural, sem alarde, sem panfletagem sobre pluralidade ou diversidade. Um café da manhã é só um café da manhã, sem momento para filosofia barata. O beijinho se passa num vapt-vupt, quase passa despercebido, como deve passar no dia em que pudermos tratar do assunto de modo normal fora da tela, sem que os pais discutam o que devem dizer aos filhos a respeito da cena.
Tudo se dá por ações, dispensando explicações e legendas, o que pesa bastante na hora de o público embarcar no enredo.
A audiência tem respondido com mais de 30 pontos (cada ponto equivale a 73 mil domicílios) na Grande São Paulo, patamar que a novela das sete não alcançava desde 2006.
Viva o selinho dos meninos, e oxalá possamos não reparar mais nisso dentro de muito pouco tempo.
Há luz no fim do túnel.