Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

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Repleta de anúncios para seduzir as crianças sob o mote da efeméride deste 12 de outubro, a TV do momento, em contraste com esse saudosismo que sempre nos leva a falar de “Castelo Rá-Tim-Bum”, “O Sítio do Pica-pau Amarelo” e “Vila Sésamo”, não oferece ídolos tão certeiros como os de 20 anos atrás. As crianças de hoje estão atrás de Youtubers. No máximo, permitem-se curtir a Luna, o Peixonauta, o Irmão do Jorel ou o pessoal do Quintal da Cultura. E olhe lá. Toda atenção desse público está fragmentada na mesma medida em que as plataformas se multiplicaram nesses 20 anos, com vários canais infantis, internet com oferta imensurável, incluindo aí os tutoriais de games e os próprios games, aplicativos e afins.

O foco da garotada se diluiu. As TVs abertas, vamos dizer a verdade, nunca tiveram muita disposição em investir em produções infanto-juvenis (exceções honrosas feitas à Globo e Cultura, as demais limitavam-se a contratar um Bingo/Bozo ou uma apresentadora bonitinha para apresentar brincadeirinhas e animações importadas a preço de banana, da Disney e Warner Bros).

Com as restrições impostas para a publicidade direcionada à criança, o que se dá em qualquer país minimamente civilizado, botaram o pé no freio e passaram a usar as restrições à propaganda como pretexto para se dedicarem à venda de merchandising de programas feitos para maiores. Sustentam que esse nicho pode ser contemplado por canais pagos (alegação da Globo, em especial). De fato, a multiplicação de canais pagos nesse target é uma consequência da liderança do segmento na TV paga (Discovery Kids e Cartoon Network encabeçam a lista dos mais vistos na TV por assinatura) e tem gerado um promissor mercado de animação infantil, área praticamente nula até 15 anos atrás, neste país.

Mas, não custa lembrar: 2/3 do Brasil não está conectado à TV paga, serviço normalmente mais caro que a oferta de banda larga, que acessa outras mídias. Nesse grupo majoritário, tem a turma que, na TV, mal e mal se contenta com os enlatados do SBT, as reprises da TV Cultura (cenas inéditas são raras, lembrando que agora tem “A Turma da Mônica”) e algumas produções na TV Brasil, de alcance muito pequeno. Nesse cenário, não é de se admirar que as novas gerações já se debrucem mais sobre a tela do computador ou do smartphone do que sobre a tela do televisor, muitas vezes usado para conectar YouTube ou Netflix.

Resumo da ópera: no cenário de 20 anos atrás, a TV aberta podia se dar ao luxo de entregar à criança o que bem quisesse. Os pequenos não tinham lá muitas opções diante do dito entretenimento eletrônico. Já hoje, quando mais deveriam estar interessadas em fidelizar as novas gerações, vai perdendo de lavada para a web. Se a TV aberta já não pode anunciar seus produtos diretamente às crianças, atualmente, a falta de investimentos só fará com que amanhã essa TV tampouco tenha plateia para vender seu peixe.

 

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Cristina Padiglione

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