Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

‘Semana do Presidente’, que Silvio Santos quer ressuscitar, prestava continência ao governo

O sempre bem informado colunista Flávio Ricco nos informa que Silvio Santos quer resgatar um quadro que fez parte da história do SBT por mais de 20 anos: A Semana do Presidente.

Em tom institucional, para não dizer bajulador, a edição trazia um apanhado das benfeitorias do presidente da República, com trilha sonora de cunho militar, rufando tambores e trombetas. A Semana do Presidente foi criada logo no nascer do SBT, para o então presidente João Batista Figueiredo, que deu a Silvio Santos a concessão do canal 4 de São Paulo, e seguiu até o terceiro presidente civil, pós-governo militar, na figura de Fernando Henrique Cardoso.

A volta da Semana do Presidente era só o que faltava para corroborar a subserviência do SBT ao governo Bolsonaro. Embora notícias negativas sobre a atual administração federal venham tendo um tratamento discreto, para dizer o mínimo, ministros e figuras relacionadas ao governo têm encontrado acesso fácil aos palcos do SBT para se defender.

Exemplo disso foi o fato de Ratinho ter interrompido suas férias para gravar entrevista com o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, e o espaço aberto por Fernando Rodrigues no Poder Em Foco do último domingo, para que o secretário de Comunicações Fábio Wajngarten se defendesse das acusações de conflito de interesses em torno da verba distribuída por sua pasta para um conjunto de empresas que envolve clientes seus, incluindo aí o próprio SBT.

Como a TV de Silvio Santos não tem cobrado o governo dos erros cometidos naquela seara pública, que diz respeito ao dinheiro de todos nós, pode-se dizer que o espectador mais fiel ao SBT, aquele que não busca outras fontes de informações, só ficará sabendo que houve alguma controvérsia com Wajngarten ou com Tarcísio Gomes quando for assistir ao próprio SBT.

Cioso da concessão do canal de TV, Silvio Santos já declarou, e o fez recentemente, que não faz oposição a qualquer governo. Durante a era Lula-Dilma, foi simpático ao governo, até o ponto em que a corda parecia começar a arrebentar para o lado de Dilma. Empossado do posto maior, o até então vice-presidente Michel Temer encontrou no patrão a primeira vitrine relevante para vender o peixe de suas reformas, embora uma série de denúncias envolvendo seu nome tenha impedido, a seguir, que ele consumasse tais planos.

Quem acompanhava a famigerada Semana do Presidente sabe que faltará à nova versão um fator fundamental para se equiparar ao modelo original: a voz de Lombardi, o famoso locutor que acompanhou Silvio Santos até uma década atrás. Reata saber a quem caberá agora o áudio que enumera os atos do chefe da nação naquele tom glorioso.

Veja abaixo uma mostra do tom bajulatório que compunha o texto lido por Lombardi, a começar pelo tratamento “O nosso querido presidente…”, com menções ao poder divino em pleno estado laico.

Aqui, o próprio Silvio Santos, formado pela escola de paraquedistas do exército, recebe uma medalha de condecoração:

E aqui, o aniversário de Fernando Collor:

 

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Cristina Padiglione

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