Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Sérgio Mamberti foi muitos, mas Dr. Victor vive na memória de várias gerações

Sérgio Mamberti como Doutor Victor, sua face mais popular / Divulgação

Santista de nascimento, o ator, diretor e ativista político Sérgio Mamberti morreu nesta sexta (3), aos 82 anos, em decorrência de falência múltiplia dos órgãos. Ele estava internado para tratar de uma infecção pulmonar.

Falamos certa vez em um Roda Viva, na TV Cultura, com o próprio Sérgio Mamberti no centro da roda, que “Tio” Victor –para o ponto de vista do sobrinho, Nino, vivido por Cássio Scapin– ou “Doutor” Victor, para os visitantes e outros moradores do “Castelo Rá-Tim”, era a figura mais conhecida de seu vasto repertório, em mais de 60 anos de carreira.

De certo não era o mais importante socialmente, quesito em que o ator trafegou com maestria, interpretando tantos personagens da maior relevância da história teatral mundial, pulando de Shakespeare em Molière, Brecht e Pirandello. Mas Tio Victor foi, na memória afetiva dos brasileiros, o mais famoso.

Victor Astrobaldo Stradivarius Victorius I era o mais sábio dos sábios do precioso enredo de Flávio de Souza e Cao Hamburger, a melhor produção originalmente criada para a TV nos quase 71 anos de história da televisão brasileira. Pena que o material de gravação, e principalmente o áudio, da produção original não mostre condições técnicas para  uma remasterização decente.

Tio Victor, Morgana (Rosi Campos), Nino, Zeca (Freddy Allan), Pedro (Luciano Amaral) e Biba (Cinthya Rachel), mais Doutor Abobrinha (Pascoal da Conceição), Penélope (Angela Dippe), o monstro Mau, a cobra Celeste, os cientistas, as bailarinas e todos os habitantes daquele Castelo mereciam ficar no ar em uma espécie de looping de seus 90 episódios, ao alcance de algum serviço de streaming para e de qualquer geração.

Além da conjunção de fatores felizes entre texto, elenco, cenário e trilha sonora, a genialidade do “Castelo” está também nesse ponto: a atemporalidade e a universalidade de suas histórias, como convém aos clássicos, capazes de serem entendidos por crianças de qualquer tempo, em qualquer espaço. Vitor era o maestro dessa partitura.

É certo dizer que a magia da bruxa Morgana, com suas centenas de anos, e a sagacidade do menino Nino eram reações diretas àquele Victor de Mamberti, respeitado por sua austeridade e ao mesmo tempo, fonte de inesgotável valor afetivo para as crianças do Castelo.

Em segundo lugar na TV, e aí falamos de uma televisão que ainda mantém vivas as cenas de uma memória destruída por tantos incêndios e negligência, vem o mordomo Eugênio, adorável personagem de “Vale Tudo” (1988), de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères.

Na era do Twitter, quando o canal Viva trouxe “Vale Tudo” de volta, o atento Eugênio inspirou um dos mais divertidos perfis da rede de microblogs, alguém que tudo vê e tudo sabe, útil à informação de quem está de passagem ou veio para ficar na mansão de Tia Celina (Nathália TImberg) e Odete Roitman (Beatriz Segall).

Cinéfilo como o próprio Mamberti –e como Gilberto Braga– o mordomo tinha estofo cultural e citava de cabeça constantes referências encontradas nos clássicos da Sétima Arte.

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Cristina Padiglione

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