Tiago Leifert é o grande herói do BBB 21
O jornalista e apresentador vence todos os paredões para salvar o entretenimento do Brasil
Por Sérgio Ribas *
Tiago Leifert brilhou na apresentação do “Big Brother Brasil 21”. Como quem não quer nada, sempre saindo de fininho para não roubar a cena, o jornalista e apresentador termina o game como uma das figuras mais notáveis do showbiz.
O jeito cool, relax, fazendo parecer que não se leva tão a sério, o tom empático-cúmplice da fala e as tiradas surpreendentes seguem cativando instantaneamente. Quatro edições depois de entrar no jogo, Leifert é campeão.
Enquanto o país odiava a “lôka” do rolê, se encantava com a tagarelice da advogada-maquiadora, ria e chorava com os delírios do economista tantã, Leifert foi se superando nas provas de resistência.
Ao longo de três meses, noite após noite, olhos brilhantes, sorriso de quem está se divertindo, deixou evidentes a devoção que tem pela televisão e todo o prazer de viver sua vocação no espaço que ocupa.
Não é pouca coisa. Ossos do ofício –ou o próprio ofício– entreter a nação com espontaneidade e sagacidade, sensibilidade e responsabilidade, pisando em ovos de temas difíceis ou interesses comerciais milionários e insistentes, tudo no meio de uma tragédia, com um país despedaçado, não é, definitivamente, para os fracos.
E Leifert tem a força ao personificar, na tela, o trabalho da equipe que representa. A cara do programa, faz tudo ficar melhor. Mestre de cerimônia do fair play, ele consegue, como poucos, acolher audiência e desviar dos ataques, ambos igualmente vorazes.
O apresentador é, no BBB, a imagem idealizada daquele amigo-boa-gente que todo mundo quer ter ou encontrar. Afável, inteligente, espirituoso, bem-humorado ou ácido, está sempre ali, simples mortal, de igual pra igual, na batalha.
Ao fazer o circo pegar fogo, que é a alma do negócio, Leifert não perde a linha –nem a aparente tranquilidade. Na alegria ou na tristeza, usa os poderes supremos da diversão para seguir na sua jornada de herói.
Alto astral, avesso a textões que não sejam apenas os essenciais, didático como só os melhores repórteres sabem ser, vendedor que é uma beleza, Leifert ganha na presença, no olhar e no gestual, misto de reflexo, instinto e improviso.
Diante de milhões de telespectadores-juízes, joga para a torcida.
“Tudo pelo entretenimento do Brasil”, disse, risadinha sarcástica, malévola, êxtase da revelação, num domingo recente, com os tais brothers irados depois de outra tática mirabolante pré-eliminação.
Citado de maneira recorrente dentro e fora da casa do reality show, Leifert venceu todos os paredões (veja abaixo) do programa mais comentado do país.
QUERIDÔMETRO
“Hoje quem lacrou foi o Tiago Leifert”. Mais de uma vez, as redes sociais, uma extensão do programa, bombaram com tietagem, que também chegou ao C.A.T – Central de Atendimento ao Telespectador, quadro do humorista Rafael Portugal no Big Brother. Foi ele quem destacou a mensagem da telespectadora Rose: “o melhor do ‘BBB’ é o Tiago”. Para felicidade de quem pensa exatamente como a Rose.
JOGO DA DISCÓRDIA
No contraponto, Leifert também ensina a lidar com excessos histéricos ou odiosos e críticas de aficionados e detratores que obviamente partem para cima dele, online, qualquer motivo, com cobranças e julgamentos de toda natureza. Cirúrgico nas aparições estratégicas na web, veio a público dizer que não gostou quando insinuaram um desvio de ordem moral em sua conduta profissional, acusando-o de favorecer um dos participantes. Tudo tem limite, alertou. E ponto.
PROVA DO LÍDER
Se manda quem pode e obedece quem tem juízo, Leifert põe todos em seus devidos lugares. Nas interlocuções ao vivo, via ponto de áudio no ouvido, só se referia ao diretor como chefe, o “big boss”. Com o elenco do programa, o apresentador foi líder absoluto, mediador dos sonhos e dos pesadelos nos momentos de maior turbulência, quando temas e/ou situações de abuso psicológico, ódio-cancelamento, racismo, homofobia e pandemia ameaçaram o divertimento escapista.
RAIO X
Para além do “fogo no parquinho”, um clássico do repertório do apresentador, Leifert seduz com a dinâmica e a vivacidade do vocabulário. O “segura aí” para anunciar o intervalo comercial e pedir ao espectador que espere é outro exemplo de adequação e traquejo absoluto. Naturalmente, entre uma imitação e outra, Leifert acha graça até nos slogans e vinhetas-chicletes dos anunciantes, fazendo a truculência publicitária soar menos agressiva.
NO CONFESSIONÁRIO
Uma vez dita, a palavra não tem volta. De que maneira, então, dizer o impensável? Leifert conseguiu manter certa “ternura” ao revelar para a rapper que se achava o máximo que ela teve um índice de rejeição histórico de quase 100%. Com habilidade e cuidado, ele pelo menos tentou trazer a eliminada para a vida real. E conseguiu ser acolhedor na medida do possível, mesmo que, especulou-se, a artista tenha sido avisada previamente da notícia que receberia na transmissão vivo.
ALMOÇO DO ANJO
Fake news com Leifert não passa. Exausto, dedicação total e zero glamour, Tiago também vem a público para corrigir notícias falsas. No caso, a de que teria pedido para sair do programa, que Leifert diz amar, por “desgaste emocional” com a direção. Na aparição para correção, ainda citou um almoço, na véspera, com os diretores, referindo-se a eles como “amigos e oráculos”.
COLAR DA IMUNIDADE
Sem notícias externas para os confinados, Leifert abriu uma bela exceção para ser, até agora, o divulgador mais animado da campanha Vacina sim. Gente como a gente, ainda humanizou a longa fila de espera pelo imunizante ao compartilhar com o Brasil que seus amigos sequer puderam conhecer sua primeira filha, que nasceu durante a pandemia. Prometeu comemorar com churrasco, mas só quando isso for possível.
BATE-E-VOLTA
No dia seguinte a mais uma bronca no galã pop do elenco, o que rendeu tititis e planejados pedidos de desculpas do ator-cantor –advertido ao vivo, ao vacilar–, Leifert virou-se para o lado e cobriu o rosto com a ficha que usa para anotações, como uma criança que se esconde quando “está de mal” do coleguinha, na hora do boa noite ao participante, a quem carinhosamente se referiu chamando no diminutivo. O que poderia ser uma saia-justa foi só alegria. E ainda revelou, momento afeto, que gosta de todos os brothers igualmente, sempre com mesmo tom casual-amigão, idêntico ao usado para se dirigir aos telespectadores.
VIP x XEPA
Crítico dos estragos do mau uso das redes no bom jornalismo, induzindo a inverdades que viram manchetes com teor caça-likes, Leifert deixou sua alfinetada quando uma imagem divertida de dois participantes nus foi, na percepção dele, “censurada” na rede social em que Tiago tem mais de 6 milhões de seguidores. E ainda saiu em defesa da TV aberta, que, prometeu e cumpriu, mostraria os dois peladões que a rede deletou.
CASTIGO DO MONSTRO
Entre o teleprompter, equipamento em que se lê textos em estúdio, e o ponto de áudio, Leifert opta pelo essencial do jornalismo de qualidade, a credibilidade, ao atuar como garoto-propaganda que, impressionante, vende qualquer coisa. Comida, muita comida, bebida, roupa, cosméticos, e-commerce, capital digital, celular, pouco importa. Entre QR codes e promoções, o ostensivo shoptour do programa seria insuportável não fosse pela versatilidade do apresentador para, ato heroico, assumir o roteiro-conteúdo e os anúncios como uma coisa só. Leifert se desdobra e se multiplica. Como nas noites em que apareceu falando de uma marca de carnes durante o programa e na sequência, imediatamente depois, no intervalo comercial, como garoto-propaganda no anúncio de outra. Ainda que ambas as “grifes” sejam do mesmo frigorífico, Leifert foi apetitosamente surreal. E ainda voltou todo todo para encerrar a atração, pronto para encarar qualquer eventual fúria vegana.
*O jornalista Sérgio Ribas é fã de Tiago Leifert e escreveu este texto especialmente para o Telepadi, do qual é leitor assíduo e amigo fiel.