Transmissão da TV Fla teve torcida, recorde na web, mas audiência bem abaixo da TV
Iniciada pelo menos duas horas antes do início da partida entre Flamengo e Boa Vista pela Taça Rio, a transmissão ao vivo do evento pela TV Fla, canal do Flamengo no YouTube, angariou 3,5 milhões de visualizações ao cabo de cinco horas, incluindo antes, durante e pós-jogo. O pico de público simultâneo foi de 2,1 milhões. Somando Facebook e Twitter, a plateia mais alta rendeu pouco mais de 2,2 milhões.
O número de inscritos do canal também subiu em mais de 500 mil seguidores. Embora o apresentador tenha dito que o espaço já somava 2,5 milhões de inscritos no meio da partida, esse saldo só foi superado após o fim do jogo.
Audiência extraordinária para uma transmissão ao vivo no YouTube? Sem dúvida. Mas quanto vale isso na proporção da audiência que a partida teria pela transmissão da Globo? Considerando apenas 15 regiões metropolitanas, território coberto pela medição em tempo real do Kantar Ibope, teríamos 703.167 para cada ponto de audiência. E considerando que um jogo do Flamengo tem no mínimo 20 pontos no âmbito nacional, mas normalmente supera os 22, teríamos algo em torno de 15 milhões de pessoas assistindo à partida só pela TV aberta, sem contar o resto do país.
Se essa audiência toda se reverte em dinheiro para os clubes já são outros quinhentos, mas é certo que a publicidade na internet ainda rende bem menos que o custo da propaganda na TV. A pergunta é: a troca da TV pela internet vale a pena?
Considere ainda que a transmissão tem um custo, neste caso, arcada pelo time. A TV que compra os direitos de transmissão, seja Globo, Band ou Esporte Interativo, arca com os gastos de link, câmeras e toda a parafernália ali embutida para fazer a imagem chegar sem falhas ao espectador.
A transmissão contou com um Q-Code na tela para que internautas pudessem comprar ingressos virtuais, só como propósito de ajudar o time. A transmissão também teve patrocínio da Brahma, mas o saldo não fecha a conta alcançada pelo faturamento de uma TV aberta.
Outro fator que pode afastar um público em potencial é a torcida declarada. Sabe quando o torcedor/espectador fica irritado com o locutor que, aos seus ouvidos, vibra mais com o gol do time adversário do que com o do seu clube, e desliga a TV? Pois é.
Os torcedores do Boa Vista ao menos não foram enganados na transmissão. Os que ali restaram puderam assistir à partida transmitida pela TV Fla com a certeza de que locutor, comentarista e apresentador só estavam a zelar pelo lado oposto ao seu e a vibrar com a desgraça alheia.
“Isso é mais que um clube, é raça, é religião, Flamengo na veia!”, entusiasmava-se o locutor, que dizia ainda: “Só o Flamengo é campeão mundial”.
Nem em transmissões com seleção brasileira se viu tal desequilíbrio técnico.
Imagine agora um locutor que tem de discutir com o comentarista diante da dúvida se o juiz apitou certo um pênalti contra o seu time?
Não há isenção que se sustente e nem é esse o propósito da TV Fla ou de canais de clubes que vierem a aderir à queda de braço do presidente Jair Bolsonaro contra a Globo. Em uma canetada acordada com o clube carioca, Bolsonaro determinou que os direitos de transmissão sobre os jogos cabe agora ao mandante, e como o Flamengo trava outra queda de braço com a emissora pelo campeonato Carioca, está feita a pirraça de todos os lados.
A Globo briga na Justiça contra a medida editada por Bolsonaro, que fere e a Lei Pelé, e contra o Flamengo, alegando que a decisão do time fere seus acordos com outros clubes, feitos sob outras regras. Em resumo, o presidente quis mudar as regras no meio do jogo e o Flamengo se sentiu vingado pelas negociações frustradas com a emissora.