Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

No ar há 27 anos, Manhattan Connection se despede da GloboNews

Lucas Mendes, Caio Blinder, Diogo Mainardi e Ricardo Amorim / Reprodução

A GloboNews exibe neste domingo (22) a última edição do Manhattan Connection, mesa pilotada desde sempre por Lucas Mendes, com Caio Blinder, por onde passaram Paulo Francis, Nelson Motta, Lúcia Guimarães e Arnaldo Jabor. Diogo Mainardi está no time desde 2004. Depois chegaram Ricardo Amorim e Pedro Andrade.

Nascido no canal GNT em 1993, o Manhattan é, ao lado do Saia Justa, até hoje no ar pelo GNT, um dos programas nacionais mais antigos da TV paga.

Diretor de jornalismo da Globo, Ali Kamel comunicou o fato aos jornalistas da GloboNews, onde o Manhattan é exibido desde 2011.

É verdade que o Manhattan já repercutiu mais no passado, mas Ali Kamel não explicita as razões da saída da mesa do canal. Lucas Mendes deve levar a ideia para a internet, mas ainda sob expectativa de ganhar outra tela de exibição na TV, quem sabe?

Eis o comunicado de Ali Kamel:

“O programa praticamente se confunde com a história da TV por assinatura no país. Em 14 março de 1993 estreava no GNT, Manhattan Connection – “direto de Nova York”. Letícia Muhana, diretora do canal, e Alberto Pecegueiro, diretor da Globosat, viram desde o início o potencial e a força do programa. Dois craques. Estavam certo: são 28 anos consecutivos no ar. As autodeclaradas ratazanas Lucas Mendes, Caio Blinder, Nelson Motta e Paulo Francis, com Lúcia Guimarães e a Angélica Vieira nos bastidores, foram sucesso imediato. Por que ratazanas? Não sei. Mas suspeito: sempre correram soltas, assustando apenas políticos, economistas e outros personagens do noticiário que preferiam se esconder, fugindo rente ao meio-fio. A turma do Manhattan sempre se divertiu com a brincadeira, pegando carona na fama macabra da cidade. O público adorou.

Era uma novidade na grade. Programa de bancada, com debate ardido mas descontraído, e um elenco incrível.

Lucas, ídolo de todas as gerações de jornalistas de televisão. Além de mestre na arte da reportagem, transformou-se num apresentador magnífico. Costuma dizer que tem o papel de extrair o máximo e o melhor dos participantes – e contribuir só com informações de apoio. Faz muito, mas muito mais do que isso. É um maestro, de texto afinado. Sempre ao lado da inseparável, muito querida e sempre atenta e competente Angélica. Na hora do sufoco, a quem ele pede socorro ? Angélica, a matéria já está no ponto ?! Angélica, quanto tempo a gente ainda tem?! Angélica ! Ainda bem, a Angélica, além de defender os bastidores, começou também a aparecer na frente da câmera, em passeios amorosos por Nova York. Fez fama em on e em off.

Paulo Francis fez barulho e história por onde passou e assim foi no Manhattan, com passagens antológicas, na memória de todos nós. Inteligência refinada, mente brilhante, e isso é mais do que clichê, eu juro. Que falta ao Brasil faz um Francis. Tive o prazer e a honra de editar sua coluna no Globo, quando eu fui editor do Segundo Caderno. Tão fã dele, que guardo algumas trocas de correspondência em “fax” (não existia e-mail), uma ou duas vezes sobre comentários dele sobre o Islã. Ninguém que tenha visto o Manhattan de então deixa de pensar em Francis vendo o Manhattan de hoje. É isso o que fazem aqueles que são grandes: deixam marcas.

Caio Blinder: jamais deixou de participar de uma edição do programa nesses quase 28 anos! Uma trajetória linda, incrível, de um jornalista notável, profundo conhecedor de relações internacionais. Minha relação profissional com ele remonta também ao Globo onde mantinha uma coluna. E a admiração vem de anos. Profissional completo. Poucos sabem, mas ele tem outra função no Manhattan: descobridor de talentos. Foi ele quem “descobriu” Ricardo Amorim, economista respeitado e que sempre desfilou comentários seguros sobre todos os temas, no programa desde 2003.

Nelson Motta levou para o programa seu conhecimento dos meandros da cultura, jornalista, compositor e escritor que é. Comentários certeiros. E o bom humor e o sorriso que nos fazem tão bem. Ficou no programa até 2001, quando voltou ao Brasil. Lúcia Guimarães foi então para frente das câmaras com desenvoltura, completando o time, aquele olhar especial. Saiu em 2008 e, no ano seguinte, foi substituída por Pedro Andrade, no programa até hoje.

Depois da morte prematura de Francis em 1997, Arnaldo Jabor com sua assinatura

própria: análise, ironia e polêmica.

Em 2003, entrou Diogo Mainardi, substituindo Jabor. São já 17 anos. Uma peça que se encaixou com perfeição ao Manhattan. Um texto privilegiado, sem temor algum de defender suas opiniões, sem compromissos senão com sua independência. Levou para o programa o espírito da coluna que por tantos anos manteve na Veja, leitura obrigatória, tanto para os que concordavam com ele quanto para os que não concordavam (bons tempos em que as pessoas não se importavam de conhecer a opinião dos outros). Nada tenho a ver com a ida dele para o programa, mas somos amigos desde o início dos anos 2000, quando veio morar no Rio por um tempo. Amizade de que me orgulho. E que permanece mesmo ele estando em Veneza.

Em 2011, o Manhattan deixou o GNT e veio para a GloboNews. Trouxe a sua marca, o seu sucesso.

Esses meus e-mails demorados, vocês sabem, escrevo quando é o momento de comunicar mudanças. E de exaltar a trajetória de colegas queridos, profissionais exemplares. E para agradecer. Agradecer muito.

Hoje à noite, na GloboNews, teremos o último episódio do Manhattan Connection. Convido todo mundo a assistir.

Em nome da Globo e no meu, o meu muito obrigado ao Lucas, ao Caio, ao Diogo, ao Ricardo, ao Pedro e à Angélica.

Ali”

 

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