Único divã com plateia, Altas Horas completa 20 anos produzindo repertório
Nesses tempos em que sites de toda espécie se estapeiam para obter em primeira mão uma revelação inédita sobre a vida de famosos e emplacar uma posição privilegiada no índice de buscas do Google, um programa de TV com 200 pessoas na plateia é capaz de trazer à tona revelações, frases e situações ainda desconhecidas ou não ditas pelos protagonistas desse universo.
O Altas Horas, onde os convidados vão se sentindo tão à vontade que passam a confundir a arena com um divã, mesmo com tanta gente em volta, está completando 20 anos.
Seu maestro, Serginho Groisman, jamais faz perguntas constrangedoras, ou aqui não sou capaz de me lembrar de uma só vez em que isso tenha ocorrido, mesmo quando a atração era Programa Livre, em seus oito anos de SBT, ou Matéria Prima, por dois anos na TV Cultura, onde a receita começou.
O efeito é que os entrevistados acabam por baixar a guarda e derrubar aquele paredão que normalmente se ergue diante dos emissários dos sites e programas de fofoca, ou mesmo em cenários de programas de entrevistas intimistas, entregando-se então a um inesperado ataque de sinceridade. Revelam e se revelam em aspectos quase sempre relevantes.
Na edição de sábado (29), Rodrigo Sant’Anna falou abertamente sobre sua homossexualidade de uma forma como nunca se ouviu de sua voz. Contou por que decidiu publicar no Instagram fotos de seu casamento com o marido, mas, mesmo naquela ocasião, abriu-se no limite da franqueza e só para inibir possíveis comentários alheios sobre sua orientação antes que ele o fizesse.
Há coisa de dois ou três meses, Cláudia Raia disse que deveria ser uma das poucas amigas que Murilo Benício não namorou, o que embute a lembrança de que o ator sempre iniciou um novo relacionamento em meio às mulheres com quem contracena, e eles, afinal, estiveram juntos no set em mais de uma ocasião. “Ainda tá em tempo”, brincou Benício, diante do atual marido dela, Jarbas Homem de Mello, que riu da situação e fez questão de lembrar que estava presente.
Na edição que vai ao ar neste sábado (7), Galvão Bueno conta em detalhes como acordou durante a anestesia do cateterismo a que se submeteu, pedindo que o médico acabasse logo o seu serviço.
Em duas décadas, teríamos outras tantas revelações a relembrar. Todo domingo, dia seguinte ao programa, os sites de notícia reproduzem alguma frase, situação ou detalhe sobre uma apresentação musical, outro ponto alto da atração, em razão do ineditismo ali exibido.
Digamos que não seja fácil manter essa proposta por 20 anos, lembrando que a carreira anterior do Altas Horas era mais modesta na infra-estrutura e na variedade de convidados (já que a Globo não permitia a presença de seu elenco na concorrência), mas não menos nobre na produção de conteúdo e repertório. Até em presídio Groisman já apresentou sua arena.
O segredo é não achar nunca que a batalha está ganha nem que seus entrevistados, por mais vezes que ali tenham ido, não tenham mais nada a dizer ou cantar.
Em conversa com jornalistas na terça-feira (3), pouco antes de gravar a edição deste sábado (7), que abre as comemorações pelos 20 anos do Altas Horas, Serginho contou que nunca planejou essa trajetória.
Era diretor da rádio Cultura AM quando a TV Gazeta, por meio de Marcelo Machado, o convidou para assumir o projeto da TV Mix. A essa altura, ele já tinha seus 40 anos. “Fui pra lá ganhando menos que o meu salário na Cultura. E um ano depois, a Cultura me chamou para voltar e fazer lá o que veio a ser o Matéria Prima, ganhando então mais do que eu ganhava quando tinha saído. Achei que ia passar a vida na Cultura. Aí veio o Silvio Santos e me convidou a levar o programa para o SBT, me convenceu que teria mais público e queria levar até o cenógrafo da Cultura pra fazer lá a mesma coisa. Achei que ia passar minha vida no SBT. E então veio a Globo e quando comecei o Altas Horas, vim achando que ia passar a vida aqui.”
Serginho não pensa em quando vai parar. “O público é quem vai dizer, não sou eu que vou resolver. É claro que eu tenho que ter bom senso, mas a hora que não funcionar mais, as pessoas vão dizer”, concluiu.
O programa do dia traz uma emocionante homenagem a Milton Nascimento, que comparece à ocasião para inaugurar o Palco Milton Nascimento. O depoimento de uma fã que esteve no Altas Horas em outra ocasião e declarou sua idolatria ao músico é relembrado, e ela volta a se comunicar com Milton, agora por meio de uma videochamada, contando que hoje é professora de português e mora nos Estados Unidos. “A sua música faz com que eu me conheça melhor e me conecte não só comigo, mas com o meu país”, declarou. “Você é linda”, devolveu-lhe o músico.
Na mira das celebrações, Serginho pretende promover um reencontro com os músicos da formação original dos Titãs, lembrando que Marcelo Fromer morreu em 2001. Vai ter de aguardar o fim da nova temporada do The Four Brasil, com Xuxa, que estreia neste domingo (8) na Record TV, com Paulo Miklos no júri.
Também pensa em promover uma pauta mais amadurecida na conversa da sexóloga Laura Müller, pois todas as dúvidas sobre sexo que norteiam a faixa etária do público do auditório já foram feitas. Afinal, aaquela plateia tem questões muito básicas a fazer sobre o assunto, lembrando que a maioria nem era nascida quando do Altas Horas nasceu.