‘Vai tomar no …’, diz Mainardi a convidado no ‘Manhattan Connection’
Um dos convidados do Manhattan Connection nesta quarta-feira (28), o advogado criminalista Antonio Carlos de Almeida Castro, conhecido como Kakay, foi xingado por Diogo Mainardi ao final da edição, recebendo um bip que cobriu sua fala. “Como diria Olavo de Carvalho, vai (piiii)”, disse o jornalista, logo após o âncora, Lucas Mendes, agradecer a Kakay pela presença no programa.
A leitura labial identifica a frase “Vai tomar no c…”. Mendes emendou: “Boa noite, sem Olavo de Carvalho”. (*)
Não me recordo de ter visto um anfitrião dizer isso a um convidado em um programa de TV, o que dirá em uma emissora que carrega Cultura no nome e princípios públicos no seu estatuto. Ainda que o canal tenha tido o cuidado de encobrir o xingamento, o nome feio aí é o de menos. Trata-se de uma postura inesperada para um programa norteado por ideias e argumentações.
“Antonio Carlos, eu não estou a fim de ouvir as suas baboseiras. Você pra mim representa o atraso do desenvolvimento do Brasil”, começou Mainardi.
“Essa sua asneira de prisão em segunda instância, pergunta para os meus colegas dos Estados Unidos, é prisão em primeira instância, as tais das mensagens roubadas, você construiu a sua carreira sussurrando na orelha de ministro do STF, do STJ. Que história é essa? Eu até prefiro falar com você sobre outros assuntos porque me vem ânsia de vômito ouvir esse seu discurso.”
“Eu quero te responder, Diogo”, reagiu Kakay: “Uma vez eu estava conversando com Chico Anysio e ele me disse que quase todo humorista é mal-humorado. Eu não conheço muito a sua vida, mas acho você um humorista. Mas o humorista que é mal-humorado, ele tem que ter uma inteligência rara, e você ficou só no mau humor. É muito difícil, entendeu? A sua acidez, eu não sei onde ela leva.”
“Antonio Carlos, você está atrás de cliente aqui no nosso programa”, disse Mainardi.
“Não, não. De vinte clientes que me procuram, eu pego um. Meu escritório é um escritório pequeno”, respondeu o convidado.
Kakay disse ainda: “Não aceito provocação barata. A pessoa, pra me provocar, precisa ter no mínimo um bom humor, uma inteligência específica”.
“Eu nem sei o que você está fazendo nesse programa”, rebateu Mainardi. “O que você fala, a gente ouve todo dia na boca do Gilmar Mendes.”
“Eu estou aqui porque fui convidado”, emendou o advogado, sempre sorrindo.
“Não foi por mim”, reagiu Mainardi, que seguiu debochando do que o outro dizia.
Em dado momento, Mendes precisou pedir que cada um falasse de uma vez, pois não era possível entender o que ambos diziam ao mesmo tempo.
Crítico de longa data de Sergio Moro, Kakay respondeu aos questionamentos de Mendes, que disse que a opinião dos apresentadores do programa sobre o ex-juiz era diferente da dele. O advogado reforçou que gosta de debater e trocar ideias, “mas só se pode trocar ideia com quem as tem”.
A Mendes, que de modo civilizado voltou a questioná-lo sobre a defesa da prisão em segunda instância, o advogado respondeu que apenas segue a Constituição brasileira. Se quiserem que seja diferente, que mudem a Constituição, disse.
Antes de entrar no ar, Kakay foi equivocadamente apresentado como ex-advogado de Lula, o que ele corrigiu assim que chegou à tela: “Eu nunca advoguei para o Lula”.
Ao se despedir de Kakay, e antes que Mainardi o xingasse, Mendes perguntou: “Você absolve ou condena esse programa?”
“Eu acho esse programa quase perfeito“, respondeu o convidado. “Tem três pessoas extremamente preparadas, pessoas que vivem no mundo, e tem um mau humorado pra poder falar, gritar, xingar, isso tudo é alegria, faz parte. Humorista que tem mau humor é tradicional, mas que tem mau humor e não tem inteligência, vocês são muito corajosos”.
Ao ouvir o xingamento, Pedro Andrade cobriu os olhos com a mão, enquanto Mendes e Caio Blinder riam.
Veja a edição aqui. Kakay aparece na segunda metade do programa, que recebeu também Fábio Porchat na primeira parte.
(*) Após a publicação deste post, Mainardi disse em seu site, O Antagonista, que “o xingamento era uma referência singela a algo que foi dito na primeira parte do programa, por Fábio Porchat”. Àquela altura, no entanto, Porchat já havia se despedido do programa fazia tempo, de modo que o espectador ficou sem a compreensão do contexto alegado pelo jornalista.