‘Velho Chico’ enfim é exportada: edição reduzida a 60 capítulos poupa tragédia com Montagner
Demorou: “Velho Chico” finalmente chegará ao catálogo internacional da Globo, mas como “super série” de 60 capítulos – o original teve 173. A edição internacional permitirá que a Globo poupe os espectadores de fora e a própria obra da tragédia que vitimou o protagonista da trama, Domingos Montagner, no cenário principal da história de Benedito Ruy Barbosa. O ator, intérprete de Santo dos Anjos, morreu por afogamento no Rio São Francisco, a duas semanas do fim de sua exibição no Brasil. As últimas cenas com o personagem foram feitas sob a perspectiva do olhar da câmera, que conversava diretamente com cada ator com quem Domingos estaria contracenando.
Como aqui foi dito por mais de uma ocasião, a Globo tinha pelo menos duas cenas feitas com Domingos que poderiam selar sua despedida da trama, sem a necessidade de inserir numa versão internacional as cenas sem sua presença física: uma em que o coronel Afrânio (Antonio Fagundes), sogro de Santo e inimigo histórico de sua família, rende-se ao caráter do genro e reconhece seu valor, e outra em que Santo, Maria Tereza (Camila Pitanga) e Miguel (Gabriel Leone) celebram o início da recuperação do solo podre herdado do avô pelo garoto, justamente a última cena gravada por Montagner, em que pais e filho se abraçam com cara de happy end.
A Globo sempre negou que a morte de Montagner fosse o motivo do atraso para a campanha de exportação da novela escrita por Bruno Luperi e Edmara Barbosa, com interferência direta do diretor artístico da obra, Luiz Fernando Carvalho. Mas ainda na Natpe do ano passado e nas edições da MIPTV e MIPCOM (Cannes) deste ano, a justificativa era de que o produto não se enquadrava nas estratégias da emissora para o evento.
Agora, na mesma Natpe, essa alegação cai, certamente incentivada pela indicação da produção ao Emmy Internacional de novelas. “Velho Chico” perdeu para um folhetim turco, mas esteve entre as quatro finalistas, ao lado de “Totalmente Demais”, também da Globo e que já circulava no catálogo internacional. E é essa informação, “nominada al International Emmy Award 2017”, que abre o release que anuncia a estreia do título “Viejo Río” no catálogo internacional para o mercado hispânico.
Em inglês, a tradução segue a mesma lógica, como “Old River” (Velho rio)
Em geral, as novelas são de fato reduzidas em suas versões internacionais, mas não tanto como agora se faz com “Velho Chico”. “A Lua me Disse”, de Miguel Falabella, foi transformada em série de 13 episódios. “Vida Nova”, “Pacto de Sangue” e “Salomé” também foram vendidas como macrosséries.
O texto distribuído ao mercado internacional diz que “a trama conta, com muita brasilidade, uma grande história de amor proibido marcada por encontros e desencontros de um casal que se apaixona, apesar da grande rivalidade existente entre suas famílias por gerações”. “Com cenários impressionantes e belas paisagens do Nordeste brasileiro, a supersérie estará em Miami durante a próxima edição da Natpe”.
“No Brasil”, continua o release internacional, “‘Viejo Río’ atingiu mais de 42 milhões de pessoas por dia durante sua exibição, no horário nobre da Globo. Em Portugal, onde foi exibido pelo canal básico da Globo, ganhou oito vezes o posto de programa mais visto do dia na TV paga.”
O texto menciona ainda a qualidade da cenografia e arte, que usaram de material reciclado e o cuidado de preparação com os atores, sem mencionar os créditos dos autores e do diretor, Luiz Fernando Carvalho, com quem a Globo rompeu no início deste ano, após mais de 30 anos de contrato.
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