Vilão no SBT, Dalton Vigh ainda coleciona fãs internacionais de Said
Otto, ou Sr. Pendleton, o personagem de “As Aventuras de Polyana” que levou Dalton Vigh de volta ao SBT, após 21 anos, mais late do que morte – ou é mais assustador do que malvado, pelo menos até aqui. Tornado famoso em 2001 pelo antagonista na novela “O Clone” (2001), Dalton até hoje coleciona fãs de Said mundo afora – em boa parte pelas reprises que, vira e mexe, põem o folhetim de Glória Perez na tela, de novo e de novo, em outros países.
Hoje, os ecos de Said lhe chegam inclusive por fãs clubes no Instagram, coisa que, na época da trama, tinham mais caráter de ficção científica que a própria clonagem humana, mote central do enredo. “A novela foi muito vendida”, conta ele ao TelePadi, em conversa exclusiva.
“Até hoje, recebo carta, de papel mesmo, mandam para a Globo, mandaram pra o teatro que eu estava apresentando. Acho que ‘O Clone’ vinha sendo reexibida. No Instagram, tem muita gente da Rússia, da Ucrânia, com fã-clubes.”
No SBT, o taciturno vizinho da protagonista, Poliana (Sophia Valverde), foi responsável por um dos maiores acessos do canal oficial da novela no YouTube, quando se revelou, o capítulo 50, que Otto e Sr. Pendleton eram a mesma pessoa. Até a presente data, o vídeo soma mais de 5,2 milhões de visualizações.
Dalton esteve no SBT em 1997, fazendo “Os Ossos do Barão”. Antes de voltar à rede de Silvio Santos, recusou uma proposta para “Apocalipse”, na Record, um pouco pelo prazer de reencontrar a TV de Silvio Santos, um pouco pelo prazer de reencontrar São Paulo como residência fixa, mas muito mais pelo personagem.
Sorte a dele. Além de “Apocalipse” ter sido derrotada pelo SBT em audiência, a novela bíblica sofreu um sem número de intervenções vindas diretamente da filha de Edir Macedo, Cristiane Cardoso, o que fez a produção desandar completamente. Já “As Aventuras de Poliana” vai muito bem no ibope – inclusive vencendo a atual novela da Record, “Jesus”.
“Optar pelo Rio também significava custo”, admite o ator, em conversa com o TelePadi. “A opção de voltar para São Paulo tem muito a ver com o preço do imóvel no Rio. Eu estava nessa de comprar imóvel, tive duas experiências que deram errado e pensei: ‘isso deve ser um sinal’. Vale muito mais a pena comprar em São Paulo, num lugar melhor, e eu fiz essa opção. Sou um carioca exilado”, brinca.
A troca de canal lhe trouxe ainda a sensação de empresa familiar. Há, no SBT, um tom intimista que a mega indústria da Globo já não se permite alcançar. É natural que uma emissora mais concentrada em menos produções e funcionários proporcione maior conhecimento mútuo entre quem frequenta o pedaço, coisa de cidade menor, onde todo mundo se cruza.
Mas é preciso dizer que o SBT é mais que isso. Sob os domínios de Silvio Santos, não há o cerceamento ideológico ou religioso vigente na Record nem a pressão pelo sucesso estrondoso imposto pela Globo, o que certamente conspira a favor daquele slogan que atribui ao SBT o caráter de “TV mais feliz do Brasil”.
“Exatamente”, concorda o ator, que tem contrato com a casa até o início de 2019.
Até por isso, não foram poucas as pessoas que Dalton reencontrou neste retorno ao SBT, gente que saiu e voltou, como ele, ou que responde a Silvio Santos há mais de 18 anos. “Tem gente que está em outros núcleos e passa por lá para me cumprimentar, existe uma proximidade”, diz.
Do camarim, especialmente, à alta cúpula, não há estranheza.
A magia de Otto/Sr. Pendleton, Dalton atribui à destreza de Poliana em abordar aquele sujeito que as outras crianças tanto temem. “Ela não tem medo dele e acaba vencendo a cara fechada do vizinho”, diz Dalton.
Antes do SBT, Dalton esteve na extinta rede Manchete (“Tocaia Grande” e “Xica da Silva”) e passou também pela Record, em “Vidas Cruzadas”.
Contrato por obra
Desde o fim de “O Clone”, quando seu contrato por obra certa foi renovado continuamente, Dalton vinha trabalhando para a rede dos Marinhos em sistema de longos acordos. É um modelo agora em extinção por lá. A Globo enxugou bastante a lista de nomes que mantinha sob esse sistema, reservando contratos longos apenas a 20 ou 30 medalhões da casa.
Seu último trabalho na Globo foi “Liberdade Liberdade”, de Mario Teixeira, como Raposo, o amigo de Tiradentes que salva a vida da pequena Joaquina, tornando-se seu pai adotivo.
E o que é melhor? Ter liberdade para trabalhar em outros espaços e incentivar o mercado audiovisual para além de uma única empresa, ou desfrutar da comodidade de ter um salário fixo garantido?
“Depende muito do que cada ator acha mais interessante num determinado momento, se é a liberdade ou se é a estabilidade. Em um momento que não há tantas escolhas a fazer, é melhor ter estabilidade, mas agora tem muitas opções e o fato de estar no SBT, como o esquema de gravações é mais tranquilo, também me permite fazer outras coisas.”
Em curto prazo, ainda sem data para estreia, poderemos vê-lo na série “A Divisão”, sobre sequestros, produzida pela produtora do Afro Reggae para o Multishow, e no filme “Kardec”, ainda sem data de estreia – ambos gravados antes do início do expediente na novela infantil.
Dalton esteve ainda em quatro episódios da última e recente temporada de “O Negócio”, até aqui, a mais longeva série de ficção da HBO no Brasil.
Quem tem medo do Sr. Pendleton? Vamos derrubar os estereótipos: ele é um amor de pessoa, “uma gracinha”, como diria a Hebe.
Com adaptação de Iris Abravanel, “As Aventuras de Poliana” ficará no ar por mais de um ano – para o desespero da Record e algum descontentamento da Globo, que sempre perde uma fatia de público para a novela infantil.