Canal Viva troca ‘Roda de Fogo’ por ‘A Indomada’ para suceder ‘Explode Coração’
Os dias estão movimentados no Canal Viva. Além da decisão inédita de editar uma novela – no caso, “Bebê a Bordo”, como foi noticiado em primeira mão pelo TelePadi, – o canal trocou uma vaga na fila de reprises aos 35 minutos do segundo tempo. Anunciada para substituir “Explode Coração” na faixa das 23h30, a partir do final de julho, “Roda de Fogo” voltará para a gaveta. No seu lugar, virá “A Indomada” (1997), de Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares.
A mudança de rumos tem a ver com a mesma motivação para editar “Bebê a Bordo”: audiência. “A Indomada” é 11 anos mais nova que “Roda de Fogo” e mais atemporal que a novela de Lauro César Muniz. Há a caricatura de Brasil refletida no microcosmo da fictícia Greenville, município onde se passa “A Indomada”, com todo o deslumbramento cafona que os brasileiros nutrem por estrangeirismos e muito fôlego para rirmos dos nossos defeitos.
“A Indomada”, aliás, com todo o DNA de Aguinaldo Silva, tem um perfil muito próximo de “O Sétimo Guardião”, folhetim que o mesmo autor prepara para a faixa nobre da Globo, com estreia prevista para novembro. Após algumas tramas realistas, ele volta a pisar justamente nesse terreno do realismo fantástico retratado em pequena cidade fictícia – no caso, Cerro Azul, vizinha de Tubiacanga (“Fera Ferida”) e a Greenville agora revivida no Viva.
Outro ponto a se observar, só como curiosidade, é que “A Indomada” é estreladíssima por Eva Wilma, a figura mais marcante desse enredo, como a pérfida Altiva, mais Adriana Esteves, Renata Sorrah, Cláudio Marzo, Eva Wilma, Betty Faria, Ary Fontoura, Betty Faria e, de novo ele, José Mayer. Afastado há 13 meses de qualquer produção inédita, por acusação de assédio a uma figurinista da Globo, Mayer mal tem saído do ar nesse período, ora nas reprises do “Vale a Pena Ver de Novo”, na Globo, ora nas reprises do Viva.
Greenville fica supostamente no litoral de Pernambuco e pede sotaque padrão novela nordestina, também beirando a caricatura. Foi construída ao estilo da antiga Inglaterra, dada a influência de britânicos que, muito tempo antes, ali haviam construído a Estrada de Ferro Great Western. Orgulhosos da sua cidade, que dizem ser “um pedaço da Inglaterra no Brasil”, os greenvillenses seguem à risca as tradições britânicas: não abdicam nem do “chá das cinco”, o five o’clock tea, e adoram misturar inglês com português, prática encabeçada especialmente pela inesquecível Altiva, de Eva Wilma.
Com Tarcísio Meira, Cecil Thiré e Cláudio Curi, “Roda de Fogo” vinha sendo aguardada como a primeira reprise de novela de Lauro César Muniz no Viva. Até hoje, a única produção assinada pelo autor a ganhar uma reapresentação no canal foi as minissérie “Chiquinha Gonzaga”.
O canal não esclareceu oficialmente os motivos da troca.
O Viva tampouco explica por que resolveu editar “Bebê a Bordo”. Em e-mail trocado com a direção de programação e comunicação do canal, não nos foi confirmada nem negada a justificativa de que a fuga de uma audiência conservadora, incomodada com tratamento arrojado dos diálogos e comportamento da novela de Carlos Lombardi, teria pesado na decisão de encurtar sua exibição.
Como consolo, o canal avisa que todos os capítulos de “Bebê a Bordo” estarão disponíveis na íntegra no Viva Play. Quem quiser que acesse o streaming e ponto final. A definição endossa a suspeita de que nem todo mundo estava digerindo bem a trama, uma pena. Eu, sinceramente, tinha a esperança de que a plateia notasse o nível elevado dos diálogos, afiadíssimos, de Lombardi, em meio a um ritmo clipado condizente com a época e uma linguagem HQ.
Na internet, seguidores da novela fizeram memes e protestos para ter “Bebê a Bordo” de volta na íntegra. Mas agora, isso virou luxo do Viva Play.