‘Piada de preto não pode’, ensina Porchat a Waack sobre ambiente da web
Prestes a lançar o “Painel WW” na internet, uma versão online do programa que apresentava na GloboNews, William Waack pediu a Fábio Porchat que lhe desse algumas dicas sobre esse ambiente da web. “Piada de preto não pode”, rebateu Porchat, que entrevistou o jornalista na edição de estreia da temporada 2018 do “Programa do Porchat”, na noite desta segunda-feira, pela Record.
“Mas como é que você vai prosperar sem fazer piada?”, questionou o entrevistado. “Pode fazer, é só o jeito de fazer. Lá no Porta dos Fundos a gente fala de tudo, fala de machismo, racismo, religião, e tem dado certo”, arrematou.
Em sua primeira entrevista à TV sobre o episódio que resultou na sua saída da Globo, Waack não se esquivou de responder a todas as perguntas de Porchat, que também não facilitou as justificativas do outro. Ao final, quando perguntou se havia aprendido algo com isso, o entrevistador ouviu do entrevistado: “Aprendi a ter mais sensibilidade para algumas cosias e a ser mais humilde”.
Enquanto isso, no Twitter, os internautas se dividiam entre acusá-lo de brilhante e arrogante.
Waack admitiu que tinha mesmo de “tomar porrada” pela “piada idiota” que vazou, mas voltou a observar que tornar-se refém do que chama de “gritaria” das redes sociais não favorece o debate.
“Essa piada foi racista?”, perguntou-lhe Porchat. “Não, pelo simples fato de que um pensamento racista jamais será uma piada”, respondeu Waack.
O jornalista justificou que sempre foi muito gozador, mas reconhece que sua imagem nunca foi a de um sujeito bem-humorado, até em função das notícias que dava na bancada do “Jornal da Globo”.
Contou que sempre foi de colocar apelido em todo mundo e debochava até de si, ao se chamar de “vampirão”, quando a imagem na tela da Globo trocava Fernanda Lima, apresentando seu “Amor & Sexo”, pelo close dele, falando sobre impeachment, Lava Jato e outras notícias pesadas.
Porchat cresceu
Além do valor que a conversa teve, em si, para ampliar o debate sobre o assunto, a entrevista pode ser tratada, sem exagero, como um divisor de águas no talk show do humorista.
Se Porchat já vinha demonstrando maturidade e repertório para conduzir conversas que não necessariamente resvalam para o riso, o encontro com Waack endossou o quanto o entrevistador está preparado para encarar, sem perder a ternura, um entrevistado munido de estofo intelectual e disposto a contra argumentar.
Foi um duelo abastecido de argumentos de lado a lado, sem que nenhum dos dois perdesse a cordialidade. Porchat não se mostrou intimidado diante da segurança do entrevistado em se defender, ao contrário, rebateu algumas respostas por mais de uma vez, sem elevar o tom de voz ou apontar qualquer desconforto nessa função.
Poucos minutos antes da conversa, o apresentador da Record se fazia notar por uma paródia de “Vai, Malandra”, o funk sensação de Anitta, com shortinho cavado nas nádegas peludas, mas com letra politizada, citando Sérgio Moro e Lula. Fez ainda um esquete de deboche em cima dos indicados ao Oscar, com Paulo Vieira, seu partner no stand up reservado ao palco.
Daí a surpresa maior com o que viria a seguir: era pouco crível que aquela mesma figura do videoclipe e do esquete fosse capaz de encarar Waack, alguém que, como ele mesmo disse, sabe “lidar bem com adrenalina”.
“Eu sou terrivelmente piadista, só que você ganha dinheiro com isso, e eu arrumei um jeito de perder o emprego”, disse-lhe Waack.
Porchat é um piadista que vem permitindo à plateia respeitá-lo também na hora de falar sério. Ter um pé em cada uma dessas canoas, como bem sabe Waack, não é para qualquer um.
Pedro Bial, na Globo, ainda é o cara que fala sério, mas, apesar da leveza, não é o que se possa chamar de sujeito engraçado – e não é que isso faça falta ao ótimo programa que ele conduz nos fins de noite, mas, ser divertido é inegavelmente uma atração extra na hora de seduzir a plateia.
Danilo Gentili, no SBT, tem graça para muita gente, mas não alcança crédito nem repertório para aprofundar uma conversa, quando a ocasião assim pede.
Não à toa, Porchat abriu o programa desta segunda enaltecendo o “Livro de Jô”, ótima autobiografia de Jô Soares, seu grande ídolo. É claro que ele ainda precisa comer muito arroz e feijão para ser comparado ao Jô (até pela vivência), mas, de todos os titulares de latte show hoje presentes na TV brasileira, ninguém se mostra mais completo que Porchat na arte de fazer rir sem deixar de pensar, uma composição que Jô tinha de sobra à frente de seu talk show.