Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

2021, o ano em que a TV sentiu o peso do streaming

Amanda (Letícia Colin) em cena do 1º episódio da ótima série 'Onde Está o Meu Coração?' / Reprodução

“Quem lê tanta notícia?”, já cantava Caetano Veloso em “Alegria Alegria”. Agora cabe perguntar quem assiste a tantas séries, filmes, reality shows e documentários e similares? Netflix, Amazon Prime Video, GloboPlay, HBO Max, Paramount+, Disney+, Discovery+, Pluto e YouTube somam, de longe, muito mais opções do que o conjunto de títulos oferecidos pela TV paga e TV aberta.

Ainda que a TV nunca tenha sentido de modo tão forte o peso do streaming, como aponta o título aqui, cabe sublinhar com marca-texto que a TV aberta ainda dá as cartas no consumo de vídeos que chegam ao espectador por meio de canais/plataformas.

Mesmo os filminhos que desembarcam diante dos olhos do público por meio de redes sociais, chegam até ali por algum serviço de internet, muitas vezes pago. É por isso que a televisão de sinal gratuito, sem onerar o espectador para além da conta de luz, ainda é tão soberana neste país onde ultimamente fazem fila par comer ossos.

Mas a coexistência de tantas plataformas de streaming com toneladas de conteúdo tem o efeito da abertura que Fernando Collor proporcionou a produtos importados em 1990: uma vez conhecedor do jamón espanhol ou do prosciudo crudo italiano, o sujeito já não vê muita vantagem no presunto local. Uma vez conhecedor de Häagen- Dazs, quem quer saber do sorvete napolitano do potão?

De alguma forma, essa porteira já havia sido aberta pela TVpaga. Mas quando você assiste a uma série como “The Crown”, de que adianta saber que a Netflix está investindo em produções brasileiras? Ok, realizar histórias locais, com elenco local e mão-de-obra local, gerando empregos e knowhow, é melhor do que trazer tudo de fora, mas a gente continua cobiçando uma produção com o 0rçamento dedicado ao enredo da família Real britânica.

Noves fora, é relevante notar como apenas a Globo, entre todos os canais abertos (para falar no velho modelo do negócio), está atenta para a necessidade de avançar nesse terreno de ser ver o que quer, quando quer e como quer. Ainda que a emissora tenha perdido elenco, audiência e volume de produções, a condição do Grupo Globo frente às demais radiodifusoras é de larga vantagem.

Em 2021, só para ficar no terreno nacional, vimos séries como “Onde Está o Meu Coração?” (GloboPlay), de George Moura e Sergio Goldenberg, a melhor nacional do ano, “Dom” (Amazon Prime Video) com direção de Breno Silveira, e “Sintonia 2” (Netflix), da Kondzilla O GloboPlay guarda ainda a joia de “Sob Pressão”, em sua 4ª temporada, exibida na TV aberta.

Dom, vivido por Gabriel Leone na série, com Flávio Tolezani, intérprete do pai, Vitor / Divultação

A HBO Max, a despeito de todas as contratações de ex-globais, ficou longe do saldo que costuma apresentar, com produções mais voltadas à massa e menos biscoitos finos. “Pico da Neblina”, melhor produção da marca em 2019, terá de esperar até 2022 para nos brindar com nova safra de episódios.

Na TV aberta, a Band se preparou para uma virada de cardápio relevante em 2022, mas já agiu com Fórmula 1 e aquisições. No SBT, só restou Libertadores. Todo o restante carece urgentemente de repaginação.

A TV Cultura enfim caiu nas mãos de alguém que entende de televisão, José Roberto Maluf, presidente da Fundação Padre Anchieta, e prevê para 2022 a produção mais bacana até aqui anunciada para o bicentenário da Independência, sob direção de Luiz Fernando Carvalho, com Antonio Fagundes, Daniel Oliveira, Ilana Kaplan, Gabriel Leone, Cássio Scapin e José Rubens Chachá, só para começar.

Record e Globo avançaram na produção de novelas, e que maravilha foi o final de “Amor de Mãe”, de Manuela Dias, guardando dona Lurdes para sempre na nossa memória, e “Um Lugar ao Sol”, de Lícia Manzo, coalhada de questões urgentes tratadas com muita delicadeza.

Imagem de Cauã Reymond duplicado nos gêmeos de ‘Um Lugar ao Sol’ / Reprodução

O mesmo não se aplica a “Verdades Secretas 2”, anunciada como a primeira novela brasileira feita para o streaming. Seria de bom tom que a Globo esquecesse esse título.

Em 2022, o roteiro da vida real promete atrair mais hofotes, com eleições presidenciais e toda a tensão redobrada em um cenário já suficentemente tenso nos últimos três anos, e Copa do Mundo, sem grandes expectativas, apesar da competência do Galvão Bueno em nos fazer crer no gerúndio do gol, aquele que está sempre saindo –ou “a sair”, como diriam os portugueses.

Que Pelé e os orixás nos acompanhem, um na hora da Copa, bem entendido, e outros, na hora do voto.

Feliz Ano Novo, saúde, amor, humor, paz e muito discernimento para entender o que é fake ou não. Esses são os votos deste modesto blog, que vê TV sempre com um pé atrás e o coração na mão.

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Cristina Padiglione

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