Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

70 anos de TV, parte II: os programas e nomes que a nossa lista original injustamente não abraçou

Marcelo Tas no Vitrine, programa que falta hoje à TV brasileira / Dilgaçã

Bem que eu sabia que não conseguiria contemplar 70 anos de TV no Brasil em 210 itens, a saber: 70 programas, 70 criadores e 70 atores.

Muita gente apreciou a lista e o sacrifício que outros fizeram para que aqueles estivessem ali, mas mal tenho dormido pensando nos títulos e pessoas que eu tanto gostaria de estampar nessa vitrine de aniversário da TV, calçada na inauguração da Tupi em 18 de setembro de 1950.

Sim, faltou bater palmas para:

  • O jornalismo da Bandeirantes, em especial na cobertura de eleições e na maestria dos debates eleitorais. Eles não nasceram na Band, mas foram apaixonadamente organizados pela rede dos Saads no período da redemocratização. As cenas de Marília Gabriela heroicamente toreando aquele bando de machos no debate de 1989, ainda em primeiro turno, e em 1994, são memoráveis. Quem não viu, que visite o YouTube e veja o que era uma mulher segura de seu papel diante de um monte de homens que se comportavam, às vezes, como crianças no Jardim de Infância.
  • Queria muito falar de “Som & Fúria”, série adaptada de uma original canadense, pela O2 Filmes, com direção de Fernando Meirelles, com Felipe Camargo, Dan Stulbach, Pedro Paulo Rangel, Regina Casé e outros. É primorosa. Nunca foi tão cruel a interrupção de uma série em sua primeira temporada. A Globo acertou em coproduzir e errou mais ainda ao não lhe dar o devido seguimento.
  • E o que dizer do “Vitrine”, da TV Cultura, programa sobre televisão e mídia que nos revelou Renata Ceribelli e esteve sob o comando de Marcelo Tas, Leonor Corrêa e Maria Cristina Poli e Rodrigo Rodrigues? Como aquilo é bom. Uma pena que a Cultura tenha enterrado a ideia e que nunca nenhuma TV tenha botado aquilo em prática. O Vitrine foi o Vídeo Show que deu certo: falava de produções audiovisuais, de modo geral, e mídia, sem se restringir a um único canal, transitando inclusive pelo cinema e pela internet. Na era do streaming, é o tipo de conteúdo que faz uma falta danada. Seria o meu emprego dos sonhos.
  • O Show do Esporte fez história também na Band, com muito conteúdo, algum blablablá, como cabe a toda mesa esportiva, mas com resultado positivo na memória afetiva das pessoas. Agora, por acaso, acaba de ser ressuscitado pela Band.
  • A música na TV, para além dos festivais dos anos 1960, mereceria uma lista à parte, com vinhetas e trilhas sonoras: vamos fazer.
  • Homero Icaza Sanchéz, o Bruxo: muito antes das minuciosas pesquisas de audiência, este panamenho a serviço da Globo traçava cenários diversos para compreender a cabeça da audiência e auxiliar autores de novelas a encontrar o rumo de tramas mal recebidas pelo público, assim como elaborava diagnósticos de horário adequados para determinados tipos de atração e perfis de apresentadores e atores que funcionassem como ímãs da audiência.
  • Edson Leite, Dermival da Costalima e Jorge Adib, cada um na sua seara, comercial, astítica e de merchandisings, têm os méritos de vários avanços na evolução da TV.
  • Carlos Lombardi, o melhor dialoguista da nossa teledramaturgia, com “Bebê a Bordo” e “Quatro por Quatro” no topo, merece todas as reverências
  • Walcyr Carrasco não preza pela construção dos diálogos, ao contrário, mas sabe como seduzir a plateia e conduzi-la à torcida capaz de derrubar os maiores tabus, como o beijo gay (“Amor à Vida”) e o suicídio (“Verdades Secretas”).
  • Walter George Durst levou para a TV os nossos maiores clássicos, alguns com invejável fidelidade, outros, com desafios temeroros, com “Grande Sertão: Veredas” no topo.
  • Lícia Manzo, Thelma Guedes e Duca Rachid também estão na vitrine dos melhores dramaturgos da TV.
  • Ricardo Boechat e Chico Pinheiro quebraram o protocolo da impostação de voz, elegendo o tom conversado no lugar do ritmo robótico dos scripts de teleprompter.
  • Jorge Furtado sabe se reinventar e reinventar a linguagem da dramaturgia de TV.
  • Tereza Rachel, Carlos Zara, Cláudio Corrêa e Castro, Rosamaria Murtinho, Mauro Mendonça, Nicette Bruno, Neusa Borges, Felipe Camargo, Wagner Moura, Selton Mello, Lázaro Ramos, Daniel Dantas, Angelo Antonio, Julio Andrade, Marco Ricca, Zezé Motta, Matheus Nachtergaele, Drica Moraes, Jéssica Ellen, Leandra Leal, Angela Leal e Antonio Calloni fazem jus aos melhores atores da TV nos 70 anos dela.
  • Bruno Mazzeo, Cláudio Manoel, Bussunda e Hélio de La Peña também têm lugar assegurado nessa história, mas, acima de todos eles, Agildo Ribeiro deveria estar na primeiríssima lista, assim como Grande Otelo.
  • Tampouco lembramos do Ponto P, da Penélope Nova, na MTV, falando abertamente sobre sexo, assunto tão velado na TV.
  • E do Rock&Gol, da mesma MTV Brasil, campeonato entre estrelas da música e da tela.
  • Alguém se lembra do Quem sabe sabe? Com Walmor Chagas? E do É Proibido Colar, que Antonio Fagundes apresentava com Clarice Abujamra, na Cultura? Por que não reeditamos os dois?
  • Adoraria ainda relembrar de “Os Maias”, adaptação de Maria Adelaide Amaral para a obra de Eça de Queiroz, com direção de Luiz Fernando Carvalho, tendo em cena Fábio Assunção, Selton Mello, Leonardo Vieira, Simone Spoladore, Myrian Muniz, Ana Paula Arósio e Matheus Nachtergaele.
  • É preciso reservar um assento para “Os Dez Mandamentos”, como a primeira e mais bem-sucedida de uma fileira de novelas bíblicas na Record.
  • Poderíamos ainda nos comover diante de “Hilda Furacão”, minissérie de Glória Perez adaptada do romance de Roberto Drumont, de “Chiquinha Gonçaga”, por Lauro César Muniz, e “Kananga do Japão”, de Wilson Aguiar Filho, na Manchete.
  • Estenderíamos nossos louros ao xadrez de Silvio de Abreu em “A Próxima Vítima”, dona de uma das melhores aberturas de novelas ever.
  • Faltou falar do Pânico, que pode ter ficado meio datado com aquele festival de glúteos perfeitos ocupando o foco das câmeras, mas deixou seu legado na TV e segue sendo grande sucesso no rádio e agora na Panflix, plataforma de vídeo sob demanda da Jovem Pan.
  • Justiça se faça, por fim, ao longevo seriado “O Vigilante Rodoviário”, de 1962 a 67 com Carlos Miranda, na TV Tupi.
  • Uma salva de palmas a outro seriado nacional, “Shazam e Xerife” (1972-74), de Walther Negrão, com Paulo José e Flávio Migliaccio, um spin-off (temos que nem se conhecia na época) da novela “O Primeiro Amor”, do mesmo autor, na Globo.
  • E precisamos guardar um lugar na história, um bom lugar, para o Cocoricó, infantil de bonecos da TV Cultura, que seduziu mais de uma geração com seus videoclipes educativos.
  • Justiça se faça aos jurados mais famosos dos auditórios, a saber, Aracy de Almeida, rigorosíssima no Show de Calouros de Silvio Santos, Elke Maravilha, pura purpurina no Cassino do Chacrinha, Pedro de Lara e Décio Piccinini, ambos também da tribuna do Silvio.
  • E por falar em auditórios, não citamos Bolinha nem Gugu Liberato, ambos donos de trilhas próprias no comando de suas plateias.

Leia mais:

70 programas, 70 criadores e 70 atores em 70 anos de TV no Brasil

Curta nossa página no Facebook e siga-nos no Twitter

Cristina Padiglione

Cristina Padiglione