Após sucessivas intervenções em ‘Apocalipse’, Record afasta autora da novela
Altamente celebrada em “Dez Mandamentos”, maior sucesso que a Record já experimentou até hoje, no campo das novelas, a autora Vivian de Oliveira foi afastada pela direção da emissora de “Apocalipse”.
Desde o primeiro mês, a novela vem sofrendo intervenções às cegas da filha de Edir Macedo, Cristiane Cardoso, muitas vezes sem o conhecimento da própria autora, Vivian, que foi submetida a um estresse sem precedentes.
As constantes encomendas para mudanças de rumo do enredo, estratégias tentadas para elevar a audiência do folhetim, foram retardando o trabalho da autora, que questionava a eficácia dessas alterações e passou a acumular uma sequência de frustrações. Quando teve início, o expediente se mostrava bem adiantado, até em função dos efeitos especiais propagados pela Record aos quatro cantos.
Some isso ao fato de a produção não ser da Record, mas sim terceirizada, nas mãos da produtora Casablanca, o que inevitavelmente gera um passo a mais, no mínimo, para o andamento das coisas.
A Record afastou Vivian então sob a alegação de que ela vinha atrasando a entrega de capítulos, e de fato a situação chegou a um ponto grave, comprometendo a produção da novela. O atraso, no entanto, segundo atestam atores envolvidos na história e ouvidos pelo TelePadi, estão muito mais relacionados ao processo de intervenção a que foi submetida a autora, do que a qualquer desleixo de uma profissional que, não custa lembrar, foi capaz de criar, do nada, de um dia para o outro, uma segunda etapa em “Dez Mandamentos”, três anos atrás.
Todas as evidências mostram que Vivian não é um Manoel Carlos, que, confessadamente, adora escrever de véspera – diz o Maneco que, se pudesse, teria em cena o jornal da véspera no capítulo do dia.
Muita coisa mudou de “Dez Mandamentos” para cá. Com a terceirização, autores e diretores da dramaturgia perderam autonomia sobre suas criações. O planejamento, que nunca foi o forte da Record, só piorou, haja visto o atraso na produção da substituta de “Apocalipse”, “Jesus”, que tem estreia prevista para julho e sequer começou a ser gravada.
Para sanar o buraco que deve surgir entre um título e outro, a Casablanca produzirá, por encomenda da Record, uma minissérie, bíblica, claro, “Lia”, de 15 capítulos, mas escrita pela mesma Paula Richard que assina “Jesus”.
Não faz o menor sentido que se sobrecarregue um profissional na véspera de um trabalho de tão longo prazo como é o caso de um folhetim. Mas, para a Record, tudo isso é normal. As consequências de um cronograma tão desorganizado saltam nos números de audiência, não há outra resposta. Alcançar êxito, como aconteceu com “Dez Mandamentos”, passa a ser um golpe de sorte – quase sempre depende muito mais de a novela concorrente, na Globo, “fracassar” em suas altas metas.
Mas nem é preciso mirar a Globo para entender que as coisas funcionam de outro modo. Basta ver o SBT, que modestamente consegue estrear uma nova novela (“As Aventuras de Polyana”) enquanto a outra (“Carinha de Anjo”) ainda está no ar.
Nesse contexto, tudo se resume a uma questão de planejamento e do aproveitamento do alto investimento sempre requerido por uma novela.
Em tempo: o contrato de Vivian com a Record vai até 2020, mas as relações estão abaladas, altamente desgastadas.