Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Após sucessivas intervenções em ‘Apocalipse’, Record afasta autora da novela

Vivian Oliveira, autora de 'Apocalipse', foi afastada da novela pela direção da Record

Altamente celebrada em “Dez Mandamentos”, maior sucesso que a Record já experimentou até hoje, no campo das novelas, a autora Vivian de Oliveira foi afastada pela direção da emissora de “Apocalipse”.

Desde o primeiro mês, a novela vem sofrendo intervenções às cegas da filha de Edir Macedo, Cristiane Cardoso, muitas vezes sem o conhecimento da própria autora, Vivian, que foi submetida a um estresse sem precedentes.

As constantes encomendas para mudanças de rumo do enredo, estratégias tentadas para elevar a audiência do folhetim, foram retardando o trabalho da autora, que questionava a eficácia dessas alterações e passou a acumular uma sequência de frustrações. Quando teve início, o expediente se mostrava bem adiantado, até em função dos efeitos especiais propagados pela Record aos quatro cantos.

Some isso ao fato de a produção não ser da Record, mas sim terceirizada, nas mãos da produtora Casablanca, o que inevitavelmente gera um passo a mais, no mínimo, para o andamento das coisas.

A Record afastou Vivian então sob a alegação de que ela vinha atrasando a entrega de capítulos, e de fato a situação chegou a um ponto grave, comprometendo a produção da novela. O atraso, no entanto, segundo atestam atores envolvidos na história e ouvidos pelo TelePadi, estão muito mais relacionados ao processo de intervenção a que foi submetida a autora, do que a qualquer desleixo de uma profissional que, não custa lembrar, foi capaz de criar, do nada, de um dia para o outro, uma segunda etapa em “Dez Mandamentos”, três anos atrás.

Todas as evidências mostram que Vivian não é um Manoel Carlos, que, confessadamente, adora escrever de véspera – diz o Maneco que, se pudesse, teria em cena o jornal da véspera no capítulo do dia.

Muita coisa mudou de “Dez Mandamentos” para cá. Com a terceirização, autores e diretores da dramaturgia perderam autonomia sobre suas criações. O planejamento, que nunca foi o forte da Record, só piorou, haja visto o atraso na produção da substituta de “Apocalipse”, “Jesus”, que tem estreia prevista para julho e sequer começou a ser gravada.

Para sanar o buraco que deve surgir entre um título e outro, a Casablanca produzirá, por encomenda da Record, uma minissérie, bíblica, claro, “Lia”, de 15 capítulos, mas escrita pela mesma Paula Richard que assina “Jesus”.

Não faz o menor sentido que se sobrecarregue um profissional na véspera de um trabalho de tão longo prazo como é o caso de um folhetim. Mas, para a Record, tudo isso é normal. As consequências de um cronograma tão desorganizado saltam nos números de audiência, não há outra resposta. Alcançar êxito, como aconteceu com “Dez Mandamentos”, passa a ser um golpe de sorte – quase sempre depende muito mais de a novela concorrente, na Globo, “fracassar” em suas altas metas.

Mas nem é preciso mirar a Globo para entender que as coisas funcionam de outro modo. Basta ver o SBT, que modestamente consegue estrear uma nova novela (“As Aventuras de Polyana”) enquanto a outra (“Carinha de Anjo”) ainda está no ar.

Nesse contexto, tudo se resume a uma questão de planejamento e do aproveitamento do alto investimento sempre requerido por uma novela.

Em tempo: o contrato de Vivian com a Record vai até 2020, mas as relações estão abaladas, altamente desgastadas.

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Cristina Padiglione

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