‘Masterchef Profissionais’ lavam roupa suja e negam machismo
Marcelo Verde, segundo lugar na 1ª temporada do “Masterchef Profissionais”, encerrado pela Band na terça passada, finalmente cumprimentou Dayse, competidora que venceu a “corrida”. No dia do encerramento, ao ouvir o anúncio, o rapaz deixou o palco sem falar com ninguém.
Reunidos no dia seguinte à final para gravar o programa “Masterchef Profissionais – A Reunião”, uma espécie de lavagem de roupa suja em que esclarecem mal entendidos durante a temporada, 13 dos 14 candidatos compareceram aos estúdios da Band, sob a precisa batuta de Ana Paula Padrão. Por vários momentos, em especial quando a questão do machismo na cozinha foi debatida, Ana Paula teve de ser firme nas proposições e réplicas, a fim de não permitir que os participantes negassem ter dito o que disseram.
Embora tenha parabenizado Dayse na ocasião, Marcelo questionou uma nota 2 a ele atribuída pela chef Paola Carosella, membro do júri, que havia lhe dito que gostara do prato. “Como alguém diz que gostou do seu prato e te dá 2?”, perguntou. Para ele, que ficou em 2º lugar por apenas 3 pontos nas notas, essa avaliação foi contraditória e certamente teria lhe dado vantagem no resultado final. Ana Paula o acalmou. Explicou que, na soma de todas as notas de Carosella, ele seria vencedor. A diferença se deu justamente por notas dos outros dois jurados, Erick Jacquin e Henrique Fogaça.
O programa que vai ao ar nesta terça, no horário do próprio “Masterchef”, contou com a presença de quatro críticos no estúdio – dois de gastronomia, Arnaldo Lorençato (Veja São Paulo) e Luíza Fecarotta (Folha de S.Paulo), e dois de televisão, Nilson Xavier (UOL) e esta que vos fala, editora do TelePadi. Ajudamos a botar mais lenha naquela fogueira. Aliás, nenhum deles reconheceu que houve qualquer fogueira durante a temporada. Tudo o que foi dito não teve, segundo eles, a real intenção do que pareceu aos olhos do público, a começar pela questão do machismo. Interessada em manter em primeiro plano seu mérito pelo talento na cozinha, Dayse refutou qualquer vitimização pelo pouco caso que seus competidores fizeram a seu respeito (Ivo chegou a dizer-lhe “pega uma vassoura e vai varrer o chão”, no meio de uma prova em que ela se viu sem funções, apesar de propor colaboração o tempo todo, sem ser ouvida).
Os participantes, incluindo Dayse, atribuíram as frases que pareceram ásperas aos espectadores como mero estresse do ambiente de uma cozinha profissional, onde a temperatura é invariavelmente alta e o nível de cobrança, idem. Conversa vai conversa vem, chegamos à declaração de Fádia sobre a opção que ela e Dayse fazem de se masculinizar “um pouco” na cozinha. Era a deixa para a certeza de que o machismo continua em alta, da copa ao fogão. Embora o mundo tenha ainda uma cultura muito machista, a alta gastronomia reflete esse desnível de respeito entre meninos e meninas de forma ainda mais acentuada.
Ivo e Marcelo se defenderam das acusações que lhes caberiam. João Lima, apontado pelas redes sociais como alguém arrogante, por discordar das escolhas dos chefs e criticar outros colegas, também se defendeu, alegando que seu ofício é avaliar o desempenho do trabalho dos cozinheiros, inclusive como professor. Faz isso quase automaticamente, mas custou a se render aos argumentos de Ana Paula, a quem chamou de “leiga” ao ser desclassificado. “Eu sou leiga, mas eu sou a ponta do seu trabalho. Se eu não gostar do seu prato, nada acontece”, ela disse na ocasião. E voltou a repetir na “Reunião”, por mais de uma vez: “O sabor é o que importa, e os chefs repetem isso desde a primeira edição”, ela voltou a dizer a ele, no debate.
Os participantes se mostraram assustados com a exposição provocada pelo programa, alegando que são profissionais e têm um nome a zelar. Ana Paula argumentou que a exposição é um preço que figuras públicas têm a pagar. “Eu já ouvi críticas negativas, positivas, construtivas ou não, ao longo da minha carreira, e sei que a imagem pública tem esse custo, é preciso saber disso”, ensinou aos contestadores chefs.
Marcelo argumentou que eles não foram lá para serem julgados como pessoas, e sim pela gastronomia. Ora, não havendo a chance de o público provar ou sentir o delicioso aroma do que eles produzem, foi preciso lembrá-lo que estamos num programa de televisão, onde a imagem, pessoal ou do prato, é o que fica para o espectador. E quanto maior o conflito entre personagens, melhor a “novela”, digo, melhor o show. A julgar pela overdose de conflitos entre candidatos e jurados, vista nesta edição, em proporção tão maior do que nas temporadas com cozinheiros amadores, a Band só tem a ganhar com novas temporadas com profissionais. Eles dão trabalho ao júri, beiram a insubordinação exigida pela hierarquia da cozinha. Por isso mesmo, são um prato cheio para a audiência.
Masterchef Profissionais: nesta terça, 20 de dezembro, às 22h30.