Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

‘Masterchef Profissionais’ lavam roupa suja e negam machismo

Marcelo cumprimenta Dayse, mas mantém dúvida sobre suas notas.

Marcelo Verde, segundo lugar na 1ª temporada do “Masterchef Profissionais”, encerrado pela Band na terça passada, finalmente cumprimentou Dayse, competidora que venceu a “corrida”. No dia do encerramento, ao ouvir o anúncio, o rapaz deixou o palco sem falar com ninguém.

Reunidos no dia seguinte à final para gravar o programa “Masterchef Profissionais – A Reunião”, uma espécie de lavagem de roupa suja em que esclarecem mal entendidos durante a temporada, 13 dos 14 candidatos compareceram aos estúdios da Band, sob a precisa batuta de Ana Paula Padrão. Por vários momentos, em especial quando a questão do machismo na cozinha foi debatida, Ana Paula teve de ser firme nas proposições e réplicas, a fim de não permitir que os participantes negassem ter dito o que disseram.

Embora tenha parabenizado Dayse na ocasião, Marcelo questionou uma nota 2 a ele atribuída pela chef Paola Carosella, membro do júri, que havia lhe dito que gostara do prato. “Como alguém diz que gostou do seu prato e te dá 2?”, perguntou. Para ele, que ficou em 2º lugar por apenas 3 pontos nas notas, essa avaliação foi contraditória e certamente teria lhe dado vantagem no resultado final. Ana Paula o acalmou. Explicou que, na soma de todas as notas de Carosella, ele seria vencedor. A diferença se deu justamente por notas dos outros dois jurados, Erick Jacquin e Henrique Fogaça.

O programa que vai ao ar nesta terça, no horário do próprio “Masterchef”, contou com a presença de quatro críticos no estúdio – dois de gastronomia, Arnaldo Lorençato (Veja São Paulo) e Luíza Fecarotta (Folha de S.Paulo), e dois de televisão, Nilson Xavier (UOL) e esta que vos fala, editora do TelePadi. Ajudamos a botar mais lenha naquela fogueira. Aliás, nenhum deles reconheceu que houve qualquer fogueira durante a temporada. Tudo o que foi dito não teve, segundo eles, a real intenção do que pareceu aos olhos do público, a começar pela questão do machismo. Interessada em manter em primeiro plano seu mérito pelo talento na cozinha, Dayse refutou qualquer vitimização pelo pouco caso que seus competidores fizeram a seu respeito (Ivo chegou a dizer-lhe “pega uma vassoura e vai varrer o chão”, no meio de uma prova em que ela se viu sem funções, apesar de propor colaboração o tempo todo, sem ser ouvida).

Os participantes, incluindo Dayse, atribuíram as frases que pareceram ásperas aos espectadores como mero estresse do ambiente de uma cozinha profissional, onde a temperatura é invariavelmente alta e o nível de cobrança, idem. Conversa vai conversa vem, chegamos à declaração de Fádia sobre a opção que ela e Dayse fazem de se masculinizar “um pouco” na cozinha. Era a deixa para a certeza de que o machismo continua em alta, da copa ao fogão. Embora o mundo tenha ainda uma cultura muito machista, a alta gastronomia reflete esse desnível de respeito entre meninos e meninas de forma ainda mais acentuada.

Críticos engrossam plateia para o debate

Críticos engrossam plateia para o debate

Ivo e Marcelo se defenderam das acusações que lhes caberiam. João Lima, apontado pelas redes sociais como alguém arrogante, por discordar das escolhas dos chefs e criticar outros colegas, também se defendeu, alegando que seu ofício é avaliar o desempenho do trabalho dos cozinheiros, inclusive como professor. Faz isso quase automaticamente, mas custou a se render aos argumentos de Ana Paula, a quem chamou de “leiga” ao ser desclassificado. “Eu sou leiga, mas eu sou a ponta do seu trabalho. Se eu não gostar do seu prato, nada acontece”, ela disse na ocasião. E voltou a repetir na “Reunião”, por mais de uma vez: “O sabor é o que importa, e os chefs repetem isso desde a primeira edição”, ela voltou a dizer a ele, no debate.

Os participantes se mostraram assustados com a exposição provocada pelo programa, alegando que são profissionais e têm um nome a zelar. Ana Paula argumentou que a exposição é um preço que figuras públicas têm a pagar. “Eu já ouvi críticas negativas, positivas, construtivas ou não, ao longo da minha carreira, e sei que a imagem pública tem esse custo, é preciso saber disso”, ensinou aos contestadores chefs.

 Marcelo argumentou que eles não foram lá para serem julgados como pessoas, e sim pela gastronomia. Ora, não havendo a chance de o público provar ou sentir o delicioso aroma do que eles produzem, foi preciso lembrá-lo que estamos num programa de televisão, onde a imagem, pessoal ou do prato, é o que fica para o espectador. E quanto maior o conflito entre personagens, melhor a “novela”, digo, melhor o show. A julgar pela overdose de conflitos entre candidatos e jurados, vista nesta edição, em proporção tão maior do que nas temporadas com cozinheiros amadores, a Band só tem a ganhar com novas temporadas com profissionais. Eles dão trabalho ao júri, beiram a insubordinação exigida pela hierarquia da cozinha. Por isso mesmo, são um prato cheio para a audiência.

Masterchef Profissionais: nesta terça, 20 de dezembro, às 22h30.

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Cristina Padiglione

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