Por que o militar da novela da Globo não lê ‘O Globo’?
Na edição desta terça de “Os Dias Eram Assim”, novela das onze da Globo, Ernesto, um militar interpretado por José de Abreu, compra um exemplar de jornal em uma banca.
A trama de Alessandra Poggi e Angela Chaves se passa claramente no Rio de Janeiro. Na capa, pode-se ler o título “Estado”. Poderia ser uma remissão a “O Estado de S.Paulo”, mas não ao pé da letra, já que o “Estadão”, assim como “O Globo”, sempre ostentou o artigo definido masculino na frente de tudo, e o cabeçalho do exemplar fictício não honra essa premissa.
Era de se esperar, na verdade, que Ernesto lesse “O Globo”, jornal de maior circulação do Rio e que apoiou, como o próprio Grupo Globo já reconheceu, o regime militar. Mas não. Pode-se dizer que a Globo evita, assim, endossar a familiaridade estabelecida com os homens de farda que mandaram no Brasil por 20 anos?
Se ele não lê “O Globo”, ficaria ainda mais improvável que lesse o “Jornal do Brasil”. Daí a opção por um título fictício, com o erro, a meu ver, de fazer referência a outra publicação conservadora, que tinha à época, mais do que hoje, um noticiário concentrado em São Paulo, e não no Rio.
Se era para ser um jornal de mentirinha, que criassem outro título.
O melhor, no entanto, seria que a Globo, que já se desculpou pelo apoio ao golpe de 1964, pudesse ser mais verossímil na ficção, ainda mais em uma produção que se gaba de trazer à tona episódios da vida real do Brasil.
Convém lembrar que é comum ver personagens nas novelas e séries da emissora recorrendo a um exemplar de jornal do grupo, sempre que o consumo de jornais é exibido em suas ficções.