Por que o militar da novela da Globo não lê ‘O Globo’?
![](https://telepadi.com.br/wp-content/uploads/2017/07/Ernesto1-1140x545.jpg)
Na edição desta terça de “Os Dias Eram Assim”, novela das onze da Globo, Ernesto, um militar interpretado por José de Abreu, compra um exemplar de jornal em uma banca.
A trama de Alessandra Poggi e Angela Chaves se passa claramente no Rio de Janeiro. Na capa, pode-se ler o título “Estado”. Poderia ser uma remissão a “O Estado de S.Paulo”, mas não ao pé da letra, já que o “Estadão”, assim como “O Globo”, sempre ostentou o artigo definido masculino na frente de tudo, e o cabeçalho do exemplar fictício não honra essa premissa.
Era de se esperar, na verdade, que Ernesto lesse “O Globo”, jornal de maior circulação do Rio e que apoiou, como o próprio Grupo Globo já reconheceu, o regime militar. Mas não. Pode-se dizer que a Globo evita, assim, endossar a familiaridade estabelecida com os homens de farda que mandaram no Brasil por 20 anos?
Se ele não lê “O Globo”, ficaria ainda mais improvável que lesse o “Jornal do Brasil”. Daí a opção por um título fictício, com o erro, a meu ver, de fazer referência a outra publicação conservadora, que tinha à época, mais do que hoje, um noticiário concentrado em São Paulo, e não no Rio.
Se era para ser um jornal de mentirinha, que criassem outro título.
O melhor, no entanto, seria que a Globo, que já se desculpou pelo apoio ao golpe de 1964, pudesse ser mais verossímil na ficção, ainda mais em uma produção que se gaba de trazer à tona episódios da vida real do Brasil.
Convém lembrar que é comum ver personagens nas novelas e séries da emissora recorrendo a um exemplar de jornal do grupo, sempre que o consumo de jornais é exibido em suas ficções.