Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

A Fábrica BBB, que transforma anônimos em veículos midiáticos

Juliete no momento em que foi informada que tinha 'quase 24 milhões de seguidores'. E ganhou mais de 2 milhões após a vitória / Reprodução GloboPlay

Por Rafael Coca, COO da Spark *

Foi-se o tempo em que ganhar o prêmio fornecido pela Rede Globo para o vencedor do BBB era o objetivo principal de participar do reality show. Há alguns anos, a expectativa era ficar tempo o suficiente na casa mais vigiada do Brasil para, ao sair, receber convites de presença em eventos e entrevistas em programas de TV e revistas. O desafio era esticar o máximo possível os chamados “15 minutos de fama”.

Entretanto, hoje, com o avanço das redes sociais e com o crescimento exponencial do marketing de influência, a exposição maciça em rede nacional deixa como legado algo mais concreto e duradouro: seguidores. O participante sai da casa para avaliar propostas de #Publi e não mais de presença em eventos.

Quem acompanhou a edição 2021 pode ver o participante Gil do Vigor, 4º colocado, tranquilizar os demais com a expectativa de “faturar pelo menos R$ 100.000 em uma semana” com o uso das suas redes sociais fora do programa. Em 2020, a primeira reação do participante Babu Santana ao sair do programa e saber que mais de 6 milhões de pessoas o seguiam nas redes sociais foi: “E agora? Não sei criar conteúdo para 6 milhões de pessoas e o que elas querem ver por aqui”.

O participante hoje entra anônimo, ou pouco conhecido, e dependendo de sua performance, sai da casa como um potente veículo de comunicação com seus perfis em redes sociais, podendo atingir e engajar milhares –muitas vezes milhões– de pessoas. E sabemos que o poder de influência desses perfis é gigantesco.

Juliette Freire, ganhadora do programa deste ano, é um exemplo muito claro disso. Desde o início da divulgação dos participantes do programa ela liderou todos os rankings de ganho de seguidores, alcançando, agora, o posto de segunda ex-participante do BBB com mais seguidores no Instagram, atrás apenas da midiática Sabrina Sato.

Com mais de 26 milhões de seguidores só no Instagram, a paraibana quebrou recordes nas redes. Segundo a equipe que administra os perfis de Juliette, uma foto publicada após um paredão alcançou mais rapidamente o primeiro milhão de likes no Instagram, o recorde antes pertencia à cantora americana Billie Elish.

Ainda segundo a equipe dela, mais de 100 marcas estão aguardando o final do programa para fechar contratos publicitários com a maquiadora, o que fará com que o seu prêmio de R$ 1,5 milhões torne-se apenas uma das conquistas financeiras.

Mas não foi só quem se hospedou por muito tempo na casa que conseguiu criar sua comunidade nas redes sociais. Kerline Cardoso, participante eliminada na primeira semana do programa, mesmo com pouco tempo para que os fãs a conhecessem, hoje, já bate a marca de mais de 1,3 milhão de seguidores.

Esses perfis se tornam extremamente atraentes para marcas e campanhas. Depois de sua participação no BBB 2020, Manu Gavassi não apenas se tornou o rosto das campanhas das marcas, como assumiu o posto de Head de Conteúdo da Tanqueray e chegou também a dirigir uma campanha publicitária para O Boticário.

Além das parcerias com marcas, hoje existem novas maneiras de monetização dessa audiência, seja apostando na criação de produtos licenciados ou vendendo assinatura de conteúdo exclusivo para grupos de assinantes através da ferramenta close friends no stories do Instagram, ou mesmo perfis e grupos fechados em outras plataformas como Whatsapp, Telegram, Facebook ou Instagram. Hoje, no mercado, há plataformas que facilitam a gestão desse negócio para os criadores digitais.

Esse novo modelo de renda gera uma receita recorrente e que não depende de contratos publicitários. Isso facilita para os criadores de conteúdo que não precisam esperar que alguma marca entre em contato para oferecer um serviço. Um exemplo que podemos ver mais para frente é a Juliette, aproveitando seu vasto número de seguidores, vendendo um curso de maquiagem. A julgar pelo número de seguidores do perfil @JulietteFreireMakeUp no Instagram, já podemos considerar mais de 1 milhão de potenciais clientes.

Hoje estima-se que existam cerca de 9 milhões de influenciadores digitais no Brasil. Destacar-se no meio de tanta gente requer criatividade e recorrência. A questão ao sair da casa do BBB atualmente não é mais como monetizar a exposição gerada pelo programa no curto prazo, mas, sim, como manter esse poderoso veículo de comunicação em ação, impactando a decisão de multidões.

* Rafael Coca é formado em Marketing e Comunicação pela ESPM-SP com especialização em Varejo pela FGV-SP. Atuou nas principais agências de publicidade do Brasil, tendo liderado projetos de comunicação para marcas como Casas Bahia, Danone, TAM, Bradesco e Cielo, além de gerir a imagem e relações com marcas de celebridades como Ronaldo Fenômeno, Neymar e Anderson Silva. Em 2014, com outros sócios, fundou a Spark, empresa de marketing de influência.

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Cristina Padiglione

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