Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Adnet conta que foi desaconselhado a imitar candidatos: ‘dei minha cara à tapa’

Bial promoveu 'debate' inédito entre Bolsonaro e Haddad, na pele de Adnet / Reprodução

Melhor parte da campanha presidencial que se arrastou ao longo dos últimos meses, os tutoriais dos candidatos, obra de Marcelo Adnet em uma série produzida para o jornal “O Globo”, vão ganhar novos vídeos nesta etapa de segundo turno.

Na noite desta quarta, o humorista permitiu que Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) “debatessem”, ao se revezar nos papéis de ambos, no palco do “Conversa com Bial”. Aliás, o Bolsonaro de Adnet prometeu mudar o nome do programa, se eleito, para “Confessa com Bial”. “Você, Bilau, faz as coisas errada (sic), não tem que conversar coisa nenhuma, tem que dar um tapa na cara!”, disse o Bolsonaro de Adnet em suas considerações finais.

Quando quis saber o que o candidato fará para acabar com a tomada de três pinos, Bial ouviu: “eu vou dar um tiro nisso daí, e você, cidadão de bem que vai ter a sua arma, é só dar um tiro”.

O apresentador fez perguntas a cada cover, para que Adnet improvisasse respostas no palco.

“Bolsonaro, como você se comporta na fila do Bolsa Família?” “O que esse quilombola está fazendo na minha frente na fila”, respondeu Adnet, reproduzindo a fala do candidato do PSL. “Nós temos que atacar essa questão da segurança, temos que atacar isso daí, e você não vai me interromper!” Diante das gargalhadas da plateia, determinou: “Ahahá? Ahahá? Vocês riem? Eu vou anotar a cara de quem riu, vou ligar pro juiz e falar: ‘prende a pessoa!'”

E como seria Haddad dando aula de Ciência Política ao explicar a letra de um funk. “Olha, boa noite a todos os alunos, boa noite a todos e todas, boa noite presidente Lu-la (destacando as sílabas), só um pouquinho, que o assunto é complexo…” A imitação ressaltou o tom prolixo do candidato do PT, entre pausas e pigarros, sem concluir a resposta.

A Ciro Gomes, Bial quis ouvir uma palestra sobre meditação. O ex-candidato do PDT citou Sobral, seu berço político, e reproduziu termos recorrentes em sua narrativa, sem dispensar o termo “protoliberalzinho de merda”.

A Geraldo Alckmin (PSDB), o entrevistador pediu que contasse uma piada, e a imitação perfeita do ex-candidato do PSDB arrancou gargalhadas de Bial e do público. “Como fazer graça com alguém que não tem graça?”, perguntou o entrevistador.

Ao cover de Cabo Daciolo (Partri), Bial pediu que Adnet demonstrasse como ele, apegado ao mantra “Glória a Deus”, pediria votos em um terreiro de candomblé. O humorista pediu para se levantar e passou a circular no palco, conclamando: “Graças e Yansã, obulaiê comigo!”

A imitação de Marina Silva (Rede) também levou a plateia ao delírio, quando Bial pediu que “ela” comentasse um desfile de carnaval.

Henrique Meirelles (PMDB) teve de comentar uma partida entre Flamengo e Botafogo.

Na galeria de imitações desse pleito, que incluíram também alguns dos candidatos ao governo do Rio, como Eduardo Paes e Romário,  Haddad, admitiu Adnet, foi um dos que mais deram trabalho, em razão de ser “muito contido”, de gestuais neutros. Já Álvaro Dias, do Podemos, foi o mais fácil, disse. “Porque eu não entendo o que ele fala, só algumas palavras, como Lava-Jato, Sérgio Moro”, justificou Adnet

Ao longo do programa, Adnet contou que já começou a gravar novos vídeos e explicou como estudou e captou de cada um os trejeitos e vícios, ritmo de fala e gestuais, deixando a caracterização física em segundo plano.

Bial quis saber se as preferências de Adnet influenciaram nas performances de cada imitação.

“Olha, como eu já sei as minhas preferências, eu não sei responder”, disse Adnet, rindo, para completar: “Acho que não. Eu realmente anotei frases que eles disseram, pensamentos que eles realmente articularam, então, foi um trabalho jornalístico. Na verdade, tive preocupação, na hora de fazer imitação, e eu botei minha cara à tapa pra isso, contra os conselhos que me deram de ‘não se envolva nisso, você vai se envolver com gente barra pesada, pessoas que mandam matar’ – e não estou falando exatamente dos candidatos, estou falando do sistema como um todo, pessoas morrem em decorrência disso…”

“De um Brasil muito deflagrado”, interrompeu Bial. “Muito deflagrado”, continuou Adnet, “muito violento, em que o povo, em vez de se ajudar, se dar as mãos, a gente se ataca, se mata uns aos outros. Eu tive a preocupação de ter uma régua jornalística, ouvir o que eles disseram anotar frase reais e trabalhar em cima disso.”

Adnet lamentou a má posição alcançada por Marina Silva, que ficou em 8º lugar no ranking de votação, perdendo para João Amoedo (Novo), Cabo Daciolo  e Henrique Meirlles. “Queria mandar um abraço pra Marina, gostaria de abraçá-la, primeiro porque eu acho ela fofa, e ela tem propostas muito boas para o país e me machucou muito ver ela em sétimo lugar ou oitavo lugar, uma pessoa com uma biografia tão legal foi engolida numa eleição tão macho alfa.”

Que venham os novos tutoriais.

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Cristina Padiglione

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