Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Aguinaldo Silva resgata Luz Del Fuego na inauguração do teatro de sua nova escola, em SP

Lucélia Santos, a Luz Del Fuego do filme de 82, com um travesti

Luana Piovani, Ana Paula Arósio, Leona Cavalli e Bárbara Paz são alguns dos nomes cotados para viver a lendária Luz Del Fuego em uma nova montagem teatral produzida e supervisionada por Aguinaldo Silva, com texto de Júlio Kadetti. O espetáculo tem previsão de estreia para maio e deve inaugurar o teatro da nova Casa Aguinaldo Silva Arte em São Paulo, na região da Vila Buarque.

Luz Del Fuego chega na esteira do grande sucesso de “Lili Carabina”, peça também escrita por Kadetti com supervisão de Aguinaldo, que logo voltará a entrar em cartaz, em turnê pelo país. A nova protagonista feminina, aliás, na montagem há muito acalentada na lista de propósitos de Aguinaldo, já teve como alvo a própria Viviane Araújo, que no momento honra o figurino de Lili.

O novo espetáculo tem como base a  vida da vedete que nos 1940 e 50 escandalizou o Brasil com números musicais onde aparecia dançando nua e enrolada em uma cobra.

Diferentemente do filme lançado em 1982, com Lucélia Santos, que seguia a linha da pornochanchada, o espetáculo teatral promete ir bem além da nudez e jogar holofotes sobre a luta de uma mulher vanguardista na militância pelos direitos ao divórcio, à orientação homossexual e à liberdade de expressão.

O autor Aguinaldo Silva e seu discípulo, Júlio Kadetti, em apresentação no Teatro Folha

Para Kadetti, Luz Del Fuego (ou Dora Vivacqua, nome de batismo) é a personagem dos sonhos de qualquer roteirista: moça rica e rebelde que costumava escandalizar a família andando nua pela casa, ela foi internada como louca, fugiu para o Rio de Janeiro, renegou o sobrenome tradicional, transformou-se na vedete mais comentada da Era Vargas, fundou um partido naturista cujo lema era “ menos roupa e mais pão”, criou um colônia naturista frequentada por astros de Hollywood e acabou falida, amargurada e cercada de inimigos e de homens que a exploravam, sendo assassinada de modo misterioso.

Fã e, pode-se dizer, especialista em Luz Del Fuego, Aguinaldo ressalta que “hoje em dia ninguém sabe quem foi Dora Vivacqua”. “Só alguns fanáticos como eu”, continua, “ainda se lembram do mito que sob o nome de Luz Del Fuego foi no século passado, durante nas décadas de 40 e 50, a ‘luz no escuro’, como ela gostava de dizer.”

“Frases de Luz Del Fuego, que naquela época escandalizavam e se mostravam, para alguns, estapafúrdias, hoje se transformaram em verdadeiros chavões do feminismo e da ecologia. É essa capacidade de avançar muitos anos sem relação à sua época e ser moderna que nos fascinou”, completa o autor.

Júlio emenda que “o espetáculo terá um cunho político, afinal, no momento em que estamos vivendo, em que as forças obscurantistas claramente se movimentam e buscam se organizar no sentido de acabar com todas as conquistas sociais das últimas décadas, falar sobre Luz Del Fuego é uma maneira de alertar e resistir”. “Mas não vamos deixar de fora o lado ‘sacana’ da personagem, que não foi nem nunca quis ser santa”, avisa.

O projeto será oficialmente lançado no próximo dia 13, com a primeira leitura de texto. O elenco já tem grande parte de seus 16 personagens definida, com atores que concluíram o primeiro módulo do curso de interpretação da Casa Aguinaldo Silva.

A protagonista, no entanto, ainda é dúvida.

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