Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Ainda de custo salgado, Apple TV em 4K é um convite a abandonar a TV linear

Imagens da nova Apple TV em 4K, com menu que oferece filmes recentes

A Globo demorou a perceber o tamanho da encrenca, mas parece ter acordado em tempo.

A Globo Play, ao lado da HBO GO, da Netflix, Hulu Plus e de outros serviços pagos e gratuitos de streaming, vídeos e jogos compõe o menu da Apple TV, que até o fim do ano promete oferecer também a Amazon nessa farta lista de opções. A HBO também promete para logo um meio de assinatura que independe de pacotes da TV paga. É um painel de atrações sem fim, com jogos, filmes para alugar e comprar, Facebook, Twitter, YouTube e afins, aplicativos para curso de culinária, de ioga e o que mais houver, pronta para roubar ainda mais a atenção que até dez anos atrás era exclusiva da televisão linear.

Esta semana, a Apple desembarca por aqui sua nova caixinha minimalista para ler imagens em 4K naquela tela que ainda pode ser chamada de televisor. Capaz de abrigar uma infinidade de conteúdos, a nova engenhoca também promove uma espécie de filtro na imagem, o HDR, recurso que amplia contrastes e cores dos milhões de pixels promovidos pelo 4K, que tem definição quatro vezes maior que uma TV Full HD (hoje sabemos, nem tão Full assim).

Convidada a testemunhar essa nova tecnologia, tive a sensação de estar diante de uma TV do tipo Instagram, em que as cores da imagem podem ganhar um filtro que torna a cena ainda melhor que a olho nu.

O avanço tecnológico é só mais um passo para seduzir o espectador, mas não é qualquer passo, quando se tem diante de si um menu tão farto de serviços e produtos.

No caso das plataformas de streaming, no entanto, temos ainda outra tendência se desenhando, bem capaz de abalar ainda mais a indústria da TV paga. Até quantas assinaturas o bolso do cidadão que não tem dinheiro sobrando poderá abraçar? Temos ali a GloboPlay, a Netflix, a HBO GO, em breve, a Amazon, e num futuro não tão distante, a Disney, que está tirando seu time de campo na Netflix justamente para lançar sua própria plataforma de vídeo sob demanda.

Desse modo, temos não só um espectador com tempo cada vez mais roubado da TV linear, como uma plateia cada vez mais interessada em pagar pelo que quer assistir, modelo que o empacotamento de canais por operadoras de TV por assinatura, pelo menos no Brasil, sempre resistiu em oferecer. Ainda hoje, paga-se pelo canal que vende joias e tapetes para se ter um canal infantil ou esportivo. Até quando isso fará sentido?

É essa nova tendência de consumo de TV que vem motivando plataformas como o NOW a melhorar seus recursos e a abastecer seu conteúdo. E não é outra a motivação do Grupo Globo, que até bem pouco tempo atrás acreditava ser possível perpetuar o hábito da televisão linear, sem dar chance ao espectador de conhecer seu conteúdo fora da hora do programa exibido na TV.

Dando seguimento ao despertar tardio da Globo, o presidente da casa, Roberto Irineu Marinho, anunciou, há duas semanas, que a empresa lançará uma nova plataforma de streaming para vídeos sob demanda, agora unindo conteúdos da Globo e dos canais Globosat. O novo braço do grupo estará sob o comando de João Mesquita, diretor dos canais Telecine e dono de ótimo relacionamento com os grandes estúdios de Hollywood, o que já denuncia o tamanho das pretensões para esta nova plataforma.

É o tal negócio: a televisão linear não vai acabar. Eventos esportivos e transmissão de grandes tragédias ainda encontram na transmissão televisiva uma agilidade e rapidez que o streaming não tem. Mas que essa farta oferta de conteúdos, agora em altíssima definição, roubará da TV convencional boa parte do tempo do espectador, não resta dúvida.

Por enquanto, esse negócio de Apple TV em 4 K é cardápio para poucos (só o aparelho custa entre R$ 1.300 e R$ 1.400 Reais, dependendo da memória – 32 GB ou 64 GB, sem contar a própria TV em 4K, que não sai por menos de R$ 2 mil). Mas, como toda novidade surgida nos últimos cinco anos, o avanço tecnológico é tão acelerado, que os custos mal demoram a baixar.

 

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Cristina Padiglione

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