Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Alegoria dos bastidores é show à parte no Prêmio Multishow

Ivete Sangalo abraça Ludmilla, a grande vencedora da noite. Crédito: Instagram Multishow

Coroada por uma homenagem a Beth Carvalho, com presença de Zeca Pagodinho, Diogo Nogueira, Jorge Aragão e Luana Carvalho, a 26ª edição do Prêmio Multishow foi de Ludmilla, eleita melhor cantora do ano e autora da Música Chiclete do ano, sendo capaz de fazer uma plateia de fãs reviver o tom passional da era dos grandes festivais de música na TV.

Ovacionada, chorou de verdade, engasgou para discursar e agradeceu até as vaias das torcidas adversárias, felizmente abafadas pelos aplausos. Foi bonito.

Uma outra celebração, menos emocionante e mais frívola, acontece com força cada vez maior nos bastidores e independe dos vencedores da noite.

Estar presente na plateia do Prêmio. Multishow virou uma atração à parte. Não que nunca tenha sido assim. Sempre houve anônimos com necessidade de brilhar mais que artista e isso não se restringe ao evento em questão, sendo uma tônica das premiações musicais, mais que de TV ou cinema.

Ainda no final dos anos 1990, em uma edição do finado e ótimo VMB, premiação da antiga MTV Brasil em sua era como canal aberto do Grupo Abril, Xororó interpelou o irmão Chitãozinho antes de sair do camarim rumo ao palco, onde os dois apresentariam uma categoria do prêmio: “Você vai de chapéu?”, perguntou, ao ver o outro com o acessório de caubói na cabeça. “Ué, tem gente de cabelo azul. Por que eu não posso entrar de chapéu?”, respondeu Chitãozinho.

Esse diálogo, atualmente, não teria lógica alguma. Tanto chapéus, não só de caubóis, mas de toda espécie, como cabelos azuis são itens superados no senso comum.

Nesta edição do Prêmio Multishow, eu e dois colegas jornalistas nos flagramos notando mais os dreadlocks, perucas, saltos, turbantes reluzentes, fantasias e aberrações de gente de quem nem sabíamos o nome do que observando os convidados ilustres. Foi preciso tropeçar na Fátima Bernardes, presença nunca antes vista no evento, para retomar a direção do pescoço ao foco da notícia.

A alegoria dos convidados todo ano supera os recordes do ano anterior na disputa por um lugar aos holofotes. Estamos falando, afinal, de um universo capaz de jogar luzes sobre qualquer anônimo que saiba se comunicar nas redes sociais. O que vale é o click e a live para o Instagram, vitrine com fôlego para eternizar o visual do dia por prazos que revista Caras alguma conseguia antes, e nem faz tanto tempo assim.

A plateia é só um espelho do palco, onde a performance nunca foi tão decisiva para o sucesso na música, e 80% dos artistas que se apresentaram neste Prêmio Multishow endossaram esse valor, muitos deles se destacando mais no figurino e na coreografia do que na voz propriamente dita.

Mas na hora em que um Zeca Pagodinho entra em cena e a gente constata o deslumbramento coletivo do público, ufa, nota-se que nem tudo está perdido e a música, em si, continua valendo mais que o barulho visual. Ainda bem.

Política zero

Diante de uma manifestação  artística tão  mais preocupada com a forma do que com o conteúdo, faz até sentido que  premiações musicais tenham perdido força no cenário político.  Ao contrário dos tapetes vermelhos do cinema, sempre prontos para algum protesto, o Prêmio Multishow parecia acontecer m um planeta bem distante daquele que ocupava o Jornal Nacional da mesma noite, em edição recheada de informações controversas inéditas sobre a morte da vereadora Marielle Franco, envolvendo o clã Bolsonaro.

Nenhuma menção aos desastres ambientais da Amazônia ou do litoral nordestino. Nenhum suspiro sobre ações de censura. No máximo, o vocalista do Skank Samuel Rosa fez menção  a “tempos obscuros”, apenas para entendedores.

O resto ficou só no brilho do paetê e do gliter.

 

Abaixo, a lista completa dos vencedores:

Cantor do ano: Dilsinho

Também concorreram: Ferrugem, Gabriel Diniz (In Memorian), Gusttavo Lima e Wesley Safadão.

Cantora do ano: Ludmilla

Também concorreram: Anitta, Ivete Sangalo, Iza, Ludmilla e Marília Mendonça.

Música do ano: “Atrasadinha” (Felipe Araújo com participação de Ferrugem)

Também concorreram: “Dona de Mim” (Iza), “Jenifer” (Gabriel Diniz), “Péssimo Negócio” (Dilsinho) e “Todo Mundo vai Sofrer” (Marília Mendonça)

Música Chiclete do ano: “Onda Diferente” (Anitta, Ludmilla e Snoop Dogg, com participação de Papatinho)

Também concorreram: “Atrasadinha” (Felipe Araújo com participação de Ferrugem), “Bola Rebola” (Anitta, Tropkillaz e J. Balvin com participação de MC Zaac), “Jenifer” (Gabriel Diniz), “Medley da Gaiola” (Mc Kevinho o Chris e Dennis),

Show do ano: Marília Mendonça

Também concorreram: Baiana System, Gusttavo Lima, Thiaguinho e Tribalistas.

Grupo do ano: Atitude 67

Também concorreram: Baiana System, Melim, Sorriso Maroto e Turma do Pagode

Dupla do ano: Zé Neto e Cristiano

Também concorreram: Anavitória, Jorge & Mateus, Matheus & Kauan e Simone & Simaria.

Fiat Argo Experimente: Lagum

Também concorreram: Duda Beat, Jão, Malia e Vitão

Clipe TVZ do ano: Terremoto (Anitta & Kevinho)

Também concorreram: Amor Bandido (Lexa e MC Kekel); Bem Pior Que Eu (Marília Mendonça); Garupa (Luísa Sonza, Pabllo Vittar); Vingança (Luan Santana ft Mc Kekel).

Categorias Superjúri

Canção do ano: Hoje Eu Vou Parar na Gaiola (MC Livinho part. DJ Rennan da Penha)

Também concorreram: Amarelo (Emicida part. Majur e Pabllo Vittar), Sulamericano (BaianaSystem)

.Disco do ano: Abaixo de Zero: Hello Hell (Black Alien)

Também concorreram: Ladrão (Djonga), O Futuro Não Demora (BaianaSystem)

Revelação do ano: Duda Beat

Também concorreram: Mc Tha, Josyara

 

 

A jornalista Cristina Padigliione viajou ao Rio a convite do canal Multishow.

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