Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Alvo de Bolsonaro, presidente da OAB inaugura Roda Viva com nova âncora

O presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, atacado por Bolsonaro por decisão relacionada a Adélio Bispo, autor do atentado contra o atual presidente. Foto: Eugênio Novaes/OAB

O presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Felipe Santa Cruz, cujo pai desapareceu durante o regime militar em episódio mencionado pelo presidente Jair Bolsonaro, será o primeiro entrevistado da nova âncora do Roda Viva, Daniela Lima, editora do Painel, desta Folha, na segunda-feira.

Bolsonaro foi criticado até por aliados ao dizer que se Santa Cruz quisesse saber como “o pai dele desapareceu no período militar, conto pra ele”. Diante da fortes reações ao que Santa Cruz classificou como “crueldade” e “falta de empatia” de Bolsonaro, o presidente reforçou sua declaração,  dizendo que Fernando Augusto Santa Cruz de Oliveira, pai do presidente da OAB e integrante da Ação Popular Marxista-Leninista, desaparecido em fevereiro de 1974, fora morto por militantes da própria organização de esquerda à qual pertencia. A declaração foi fartamente desmentida por estudiosos do período e documentos.

O governador de São Paulo, João Doria, atual chefe do estado cuja receita é a maior fonte de abastecimento da Fundação Padre Anchieta, mantenedora da TV Cultura, pela primeira vez discordou claramente de Bolsonaro, ao citar o sofrimento pelo qual sua família passou em razão de o seu pai ter sido cassado e exilado no período da ditadura.

Também convém ressaltar que a escolha por Santa Cruz para abrir a temporada de Daniela Lima à frente do programa, como 14º nome a ocupar a cadeira de âncora do Roda Viva, resgata a força da atração, que teve sua isenção colocada em xeque na despedida de Ricardo Lessa do posto, na última semana. O ex-âncora afirmou que a direção da emissora resistiu tanto à sua entrevista com o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-chefe da secretaria de governo de Bolsonaro, que empurrou a edição, gravada antecipadamente e contendo críticas ao presidente, para meia-noite. Às 22h, horário tradicional do Roda Viva, foi ao ar uma edição também gravada com o economista Bernard Appy sobre reforma tributária.

A estreia de Daniela será respaldada também por novo cenário, sem perder a arena que o caracteriza, com o entrevistado no centro e os entrevistadores no entorno, mantendo um segundo andar para convidados e o cartunista Paulo Caruso ilustrando cada conversa.

No ar há 33 anos, o programa ganha nova trilha sonora, agora assinada por João Marcelo Bôscoli, que criou ainda outra trilha para o Jornal da Cultura, já n ar.

Convém lembrar que o Roda Viva, sempre alvo de grande repercussão, perdeu a música homônima de Chico Buarque há três anos, quando o compositor considerou sua obra inadequada para um programa que se mostrava condescendente com o então presidente Michel Temer ao entrevistá-lo logo após o impeachment de Dilma Rousseff, um ato combatido por Chico.

As reformas em andamento na Cultura refletem a troca de governo em São Paulo. É praxe que um novo governador escolha (ou indique, como a Fundação Padre Anchieta faz questão de ressaltar) um presidente de sua confiança para comandar as emissoras abastecidas por verba do estado. Endossado por votos do Conselho Curador da fundação, José Roberto Maluf assumiu o posto no início de junho, sucedendo Marcos Mendonça, homem de confiança de Geraldo Alckmin.

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Cristina Padiglione

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