Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

‘Amor & Sexo’ é um oásis na TV aberta de um Brasil conservador

Fernanda Lima e Paulo Zulu, vítima de um vazamento de nude, que fez um stripe tease no programa

Com propostas que incluíram fetiches diversos, ménage à trois e sexo em grupo, sem discriminar relações bissexuais para meninos e meninas, o 2º episódio do “Amor & Sexo” se permitiu abordar erotismo com discurso e cenas que dispensam eufemismos. O programa, exibido nesta quinta, dia 2, foi obra para servir de referência à liberdade que a TV aberta pode alcançar quando embute informação no entretenimento. Por que não falamos de sexo com as crianças, se esse é um assunto tão determinante no humor da maioria das pessoas? Por que nos incomodamos tanto com o quintal do vizinho, em vez de mirar no próprio jardim, nos seus interesses e prazeres?

Num momento em que os conceitos se polarizam, quase de forma cristalizada, sem abertura ao debate civilizado, da política ao sexo, passando pela religião, veículos ditos “de massa” têm se esforçado para encontrar o mínimo denominador comum do telespectador. Na dúvida, não se defende este ou aquele lado, e assim vamos navegando pela mediocridade do pensamento. É nesse contexto que uma proposta como a de “Amor & Sexo” se faz tão louvável e digna de todos os loas.

Pronta para despertar a libido do telespectador, Fernanda Lima conduz o programa com domínio sobre o assunto, sem se esquivar da parte que lhe cabe. Questionada por um convidado se já fez ménage, prontamente responde que não. Se é verdade ou não, não interessa. Interessa que ela fala sem constrangimento, com segurança, e sabe agradar à tal da massa quando incentiva que cada um faça o que lhe atrai, desde que em casais impere o consenso, sem pressionar o cara da poltrona a partir para o sexo em grupo ou se orgulhar da monogamia que lhe convém.

Um casal, convidado a encontrar um parceiro para levar às vias de fato a proposta de ménage à trois, vulgo sexo a três, testa alguns candidatos, até chegar a um casal de finalistas. Nesse momento, o menino gosta mais do menino e a menina, da menina. O casal beija seus pares prediletos, ele a ele, ela a ela, e sai do palco com a opção de discutir se aquilo será mesmo uma relação a três ou a quatro. Os conservadores dirão: “mas que putaria é essa?” Os liberais, mesmo os adeptos das relações únicas, se divertem e comemoram. Mas o mais relevante é que aquela alegação de que esse não é um programa para ser visto com os pais, avós, ou filhos adolescentes, por causar constrangimento, vai caindo em desuso, contribuindo para que seja cada vez mais tranquilo discutir sexo entre seres adultos ou pré-adultos (afinal, a fase em que os hormônios estão bombando com mais ênfase). No caso das crianças, com quem também se deve falar de sexo, o papo ainda fica num estágio anterior ao teor de “Amor & Sexo”, mas os pais terão ali um bom repertório para conduzir a educação sexual dos filhos de forma mais saudável e menos alarmante. O único alarme do programa, coroando seu encerramento, é o uso do preservativo, sempre.

Dudu Bertholini, Mônica Iozzi, Eduardo Sterblicht e Otaviano Costa comemoram beijo na boca entre meninas

Dudu Bertholini, Mônica Iozzi, Eduardo Sterblicht e Otaviano Costa comemoram beijo na boca entre meninas

Convidada da noite, Mônica Iozzi botou mais graça na fogueira que trouxe Paulo Zulu fazendo strip-tease, e o psicanalista Contardo Calligaris discorrendo sobre erotismo, prazeres, ciúmes e que tais. Eduardo Sterblicht, novidade desta temporada, promoveu o anticlímax engraçado, ao se atrapalhar com o figurino que lhe impuseram. José Loreto apimenta a receita, ao dar dicas de suas manias, sem indiscrição com a diva Débora Nascimento, sua mulher, e Otaviano Costa dá corda a todos eles, quase como uma escada de luxo. Tem ainda a terapeuta sexual Regina Navarro Lins, endossando a prática com uma teoria afável aos ouvidos e à própria prática, e Mariana Santos, pronta para a gincana, seja qual for a prova, mais Dudu Bertholini. O programa que explorou o erotismo teve ainda participação divertida da sensual voz de Iris Letieri, a voz do Galeão, ditando definições sobre termos específicos e fetiches sexuais.

Em seu décimo ano, o “Amor & Sexo” já se permite falar de sexo sem amor – não que o erotismo exclua o amor, longe disso, mas pode funcionar muito bem sem ele, e o programa soube tratar disso sem ficar se desculpando ou justificando o título. Ali está uma proposta de educação sexual sem culpa, bacana e bem resolvida, embalada no padrão Globo de produção, com toda a alegoria que um show pede.

 

AUDIÊNCIA

Em tempo: este segundo programa da nova temporada manteve a média da estreia, na Grande São Paulo, com 16 pontos de audiência e 28% de participação entre as TVs ligadas na região. A média das duas exibições em SP é a maior em seis anos, desde a 2ª temporada em 2011. No Rio, foram 20 pontos de audiência e 36% de participação: crescimento de 1 ponto em relação à estreia.

 

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Cristina Padiglione

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