Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Apoiado em liminar, ‘Zorra’ já fazia piada eleitoral antes do aval do STF

Marcius Melhem, um dos criadores e redator-final do novo 'Zorra': 'Decisão suprema reafirmou nossas liberdades'

Ainda nesta quinta, dia 21, o Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou, por unanimidade, o veto que impedia piadas ou sátiras de cunho político em período de campanha eleitoral (e por campanha eleitoral, entenda-se o trecho entre o início do horário gratuito na TV e o voto final). Mas, para o “Zorra”, que tem surfado como nenhum outro programa na alta temperatura do noticiário político, quase nada muda. Ainda que o veto não tivesse caído, o programa não pretendia mudar seus rumos a partir de agosto.

“Na real, a gente não estava se preparando para tirar o time de campo, não”, disse ao TelePadi Marcius Melhem, redator-final do “Zorra” e uma dos criadores do formato inaugurado há três anos, sem o “Total” no título do humorístico e com um elenco todo repaginado. “Como tinha uma liminar que era a favor da gente e assegurava a liberdade de expressão de programas humorísticos, a gente estava trabalhando em cima dessa liminar, que estava aí desde 2010, e acreditando que quando o mérito fosse a plenário, a gente ganharia. Então, a gente estava totalmente preparado para continuar falando de política.”

“O que essa decisão traz de bom pra nós é que ela reafirma as nossas liberdades, ela definitivamente julga o mérito e coloca a nossa função dentro do debate público no seu lugar de direito, que é poder participar do pleito com as questões que são importantes pra sociedade”, completa.

Melhem explica que os humorísticos não são obrigados a cumprir a isonomia exigida dos telejornais e podem, sim, destinar tempos distintos para piadas com cada candidato. “O que a gente não podia era fazer campanha categoricamente contra ou a favor de uma pessoa especificamente, a preocupação que a gente tinha era apenas de criticar a todos”.

De todo modo, no início da atual temporada, o programa fez uma espécie de “carta de intenções”, avisando que teria ali uma sátira para cada candidatos durante a campanha eleitoral. “Vamos seguir com eles em cima dos fatos que forem acontecendo. A gente está muito em cima de coisas quentes, e da eleição, como um todo, do processo eleitoral, com votação, urna, debates.”

Assim, se um candidato cometer uma gafe em algum debate, e mesmo os embates da concorrência poderão ser citados (ao contrário do que acontece nos telejornais da Globo), o “Zorra” dará destaque a esse candidato, e não a outro.

Mesmo durante o período da liminar, Melhem cita o caso do ex-governador Anthony Garotinho, que conseguiu tirar, por alguns dias, um vídeo do Porta dos Fundos do ar. E reconhece o avanço representado pela decisão do STF.

Mesmo com a liminar, outros canais preferiam não arriscar antes da decisão do STF. É o caso da HBO, com o “Greg News”, mas, neste caso, se o documento jurídico perdesse efeito no decorrer da temporada, o programa, já planejado para a grade das noites de sexta, perderia seu valor maior. Daí a decisão de exibir os 20 episódios do “Greg News” até agosto, para não correr riscos.

Melhem lembra que o “Zorra”, mesmo longe das questões políticas, tem estado muito atento aos acontecimentos da semana. Na edição deste sábado, por exemplo, uma esquete tratará do caso de misoginia apontado na Rússia, durante a Copa, quando um grupo masculino convenceu uma russa a repetir obscenidades em português.

O “Zorra” até agora não foi incomodado por nenhum político, ou não juridicamente, como aconteceu com o Porta dos Fundos. “Nunca aconteceu. Eles ameaçam, tem muita reclamação mas a gente esteve muito coberto pela liminar, pela liberdade de expressão. “A gente nunca teve problema e sempre participou da questão eleitoral com muita clareza.”

Por isso, não há nada especificamente planejado para o período eleitoral. “A gente está muito atento, a nossa preparação é estar atento aso fatos relevantes da campanha, a gente não tem nada pré-concebido para um ou para outro.”

O fim do veto no STF,  conclui, “não altera o que a gente podia fazer, mas dá mais força: uma decisão que é suprema, que ratifica definitivamente, por 11 a 0, para nós, foi muito importante nesse momento, e não só para nós, mas para todo mundo, para a opinião dos outros, chargistas, todo mundo.”

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