Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Astrid vê retrato do Brasil no Chegadas e Partidas, agora na 10ª temporada

Astrid abraça casal em Guarulhos: ela vai, ele fica / Reprodução

Abastecido de abraços apertados, beijos, apertos de mão e muita comoção, o Chegadas e Partidas lançou sua 10ª temporada no canal GNT fazendo certa inveja a um espectador que a essa altura está privado de extravasar suas emoções por meio de qualquer contato físico.

No comando do programa, Astrid Fontenelle passou meses no aeroporto internacional de Guarulhos, de agosto a dezembro, com a equipe da Cinegroup, responsável pela produção. Como faz desde 2011, gravou um zilhão de reencontros e despedidas, e são muitos os personagens entrevistados e filmados até se chegar ao ponto da edição que nos é apresentada no ar.

A essa altura, com tantas histórias, Astrid conta ao Telepadi, em entrevista por telefone, que pensa em retratar momentos do país por meio das temporadas do programa, que de certa forma refletem o que se passa neste território, em termos econômicos, sociais, de educação e cultura.

Houve o período em que muita gente viajou pela primeira vez na vida ao exterior, o que representou a ascensão de uma nova classe. Houve momentos de maior recessão, quando a variedade de passageiros diminuiu. Houve estudantes saindo para usufruir de bolsas conquistadas em outros países. Houve gente voltando ao Brasil, frustrada por planos malsucedidos, e outros outros regressando felizes de missões bem-sucedidas.

“É uma ideia que eu tenho: contar a história do Brasil por meio das histórias que a gente registrou ali”, revela.

Por que não aproveita então a quarentena para rever todo esse acervo e organizar uma seleção sob esse contexto? Bem, não é o caso de dizer que há tempo sobrando no caso de Astrid, que assumiu as tarefas domésticas para honrar a necessidade de suas funcionárias ficaram em casa. Para tanto, conta com a presteza do filho, Gabriel, 12 anos, que passa aspirador na casa todos os dias. “Não posso reclamar, ele tem me ajudado muito”.

Astrid também continua gravando o Saia Justa no estúdio, sozinha, semanalmente, com todos os cuidados que uma portadora de Lupus, como é o caso dela, demanda, ainda mais em meio à pandemia, contexto em que ela é considerada do grupo de risco.

O Lupus é uma doença inflamatória autoimune, que pode afetar múltiplos órgãos e tecidos, como pele, articulações, rins e cérebro. Um remédio essencial no seu tratamento é justamente a cloroquina, que sumiu das farmácias após o medicamento passar a ser testado para sanar a Covid-19, com publicidade extra e irresponsável do presidente da República, Jair Bolsonaro, anunciando seus possíveis milagres antes de indícios científicos.

“Quando vi todo mundo atrás de cloroquina, corri na farmácia pra comprar e meu farmacêutico disse: ‘vendi a última caixa agora’. Me desesperei. Ainda bem que meu marido estava na Bahia e lá ainda tinha, e ele trouxe pra mim, mas agora já estão fabricando mais e a venda se estabilizou”, diz.

Astrid até tentou fazer o Saia Justa por videoconferência, de casa, mas depois que uma live da cantora Marília Mendonça congestionou as conexões de internet e comprometeu o sinal de quem tentava fazer outras conexões, desistiu. “A equipe está bem reduzida. Eu entro no carro, não toco em nada, desço no estúdio, faço e volto pra casa, ninguém chega perto de ninguém”, fala. Nesta quarta, são aguardadas as presenças de Fátima Bernardes e da vencedora do BBB 20, Thelminha, tudo por videoconferência, incluindo as outras debatedoras da roda, Mônica Martelli, Pitty e Gaby Amarantos. Só Astrid fica no estúdio.

Isso é às 21h30. O Chegadas, já com seus 15 episódios prontos, entra na sequência, às 22h30. No episódio do dia, Astrid encontra um brasileiro que foi deportado dos EUA e precisa ficar longe da mulher e do filho, que moram lá. Há ainda um menino baiano que veio com o pai buscar o tio que trabalha com moda no Canadá. E uma família que larga tudo para começar uma nova vida no Japão com a filha, além de uma mãe que reencontra a filha depois de anos longe, para ver as netas pela primeira vez.

Tudo merece os devidos abraços e beijos, sem medo, de um tempo que nos parece tão distante. “O canal achou um jeito muito legal de avisar o público que nós gravamos antes da pandemia, inserindo um card no início de cada episódio”, conta Astrid ao blog. Diz o texto:

“Não é hora de muitos movimentos. É tempo de permanecer, de ficar.
A pandemia vai passar e logo tornaremos às idas e vindas.
Mais abraços, beijos e alegrias.
A nova temporada do Chegadas de Partidas foi gravada antes da crise.
Quando a Terra ainda girava sem o corona
Fique agora com o Chegadas e Partidas.”

“Todas as histórias podem ter sido contadas, muitas parecem iguais, na sua essência, mas como as pessoas são outras, tudo se transforma, tudo muda, tudo parece novo, cada caso é único por causa das pessoas envolvidas naqueles encontros.”

O Chegadas e Partidas é um programa de formato internacional, criado na Holanda, que aqui ganha dimensões muito brasileiras e rende um resultado muito diferente de outros países. São justamente os beijos, abraços, lágrimas e toda a comoção de quem vai e de quem fica que tornam a versão brasileira tão distinta das demais. Tomara que em breve a gente possa retomar essa mania de se tocar e se amassar entre braços, lábios e rostinhos colados ou afagados pelo ombro alheio.

 

Em tempo: Tanto o Saia Justa como o Chegadas e Partidas estão disponíveis no GNT Play para serem vistos sob demanda pelos assinantes.

 

 

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Cristina Padiglione

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