Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Papo de Segunda encontra sintonia até por videoconferência

Chico Bosco, Emicida e Porchat na quarentena: intimidade para rir do outro e de si / Reprodução

Dois anos depois de mudar três de seus quatro debatedores, incluindo o âncora, o Papo de Segunda, do canal GNT, mostra avanço na reforma. Na verdade, Emicida, Chico Bosco e Fábio Porchat, o âncora, entram em seu terceiro ano à frente do programa, que já contava antes com João Vicente de Castro, o quarto componente da roda.

Quando estreou, em 2018, fiz aqui uma avaliação meio cruel de primeiro programa, sentindo-me órfã do grupo anterior, comandado por Marcelo Tas, com Xico Sá e Léo Jaime, além de João Vicente. Os novos componentes têm estofo e repertório, mas faltava sintonia entre eles, o que penso que sobrava no caso dos ocupantes anteriores daquelas cadeiras.

É claro que o azeitamento só poderia vir com o tempo, mas poderia muito bem não vir, e é isso que normalmente acontece. A organicidade dessas rodas é algo muito difícil de ser alcançada. Citei aqui o caso do Saia Justa, só para ficar no mesmo canal e em uma proposta semelhante, que nunca mais superou a saída de Rita Lee do quarteto original, até que se trocassem todas as saias da roda, quando veio Astrid Fontenelle e outro time.

Também achava que talvez a faixa etária do novo grupo, algumas escalas abaixo da idade do trio antes dispensado, era uma desvantagem no repertório por serem eles mais jovens, e portanto menos experientes na vida, mas nem esse pré-conceito se impôs, ainda bem. Quando se vê hoje o Papo de Segunda, o conteúdo é muito bom e o ponto de vista de uma outra geração passou a ser algo bastante relevante na troca, o que também só aconteceu após o entrosamento feliz entre eles.

Agora, mesmo em época de programa feito por videoconferência, com Porchat no estúdio e os demais em casa, é possível notar como os quatro conseguiram uma intimidade de deboche entre eles, o que os permite inclusive rir do outro, sem deixar de rir de si.

Emicida, o que já era claro desde sua chegada, é um grande ganho para o círculo, com intervenções que muitas vezes rompe a bolha em que o papo corre o risco de se transformar quando a conversa gira entre três moradores da zona sul carioca.

Quando o assunto foi o isolamento, por exemplo, Porchat, Chico Bosco e João Vicente falaram sobre o estranhamento das ruas vazias, e veio Emicida para quebrar a paisagem dos colegas: “Meus camaradas, eu adoraria ter um discurso igual ao de vocês, ter visto a rua vazia, ter visto esse lampejo da nova solidariedade, mas eu não vi, mano. Eu tive que sair para um rolê rápido, passei de carro por alguns lugares, e o que eu vi foi o extremo oposto, eu vi as ruas lotadas, passei por algumas quebradas, o 12, Jaçanã, Fontalis, Guarulhos,e eu vi tudo lotado, o povo na rua, tudo sentado nas calçadas”.

O filósofo Chico Bosco, que parecia meio sem ambiente naquele princípio, está totalmente enturmado, muito à vontade, inclusive com a câmera em domicílio, e (observação extra) agora é festejado como alguém que rejuvenesceu dez anos, após tirar barba e bigode.

A conversa vem fluindo bem mesmo no modo de videoconferência, quando é normal que o papo se fragmente um pouco, as pautas são muito pertinentes para cada segunda-feira, e o Papo se mostra uma inteligente opção de reflexão, sem perder o tom de entretenimento.

Abaixo, relembro a crítica inicial, e que bom poder dizer o contrário agora.

Falta química ao novo quarteto do ‘Papo de Segunda’

 

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