Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Dezenas de atores endossam queixas contra a preparadora Fátima Toledo

A preparadora Fátima Toledo / Reprodução

Preparadora de atores que reinou por um bom tempo no métier de cinema, Fátima Toledo passou a ser alvo de acusações de atores que viam nos seus métodos de trabalho ações de maus tratos e de riscos psicológicos aos profissionais que entram em cena.

O nome de Fátima Toledo voltou à tona desde que Wagner Moura fez uma defesa enfática ao profissionalismo dela em sua entrevista ao Roda Viva de 1º de novembro, a respeito do trabalho desenvolvido por ela junto ao elenco do filme “Marighella”, lançado no dia 4 de novembro.

Seu Jorge vive Carlos Marighella no filme dirigido por Wagner Moura / Divulgação

Revoltada com os elogios do diretor e ator, a atriz Denise Weinberg fez um texto em que cita os males sofridos a partir do trabalho de Toledo, que teria pisado em sua cabeça e causado nela até uma hemorragia, com graves sequelas.

Recolhida, Fátima não tem respondido às acusações. Procurado pelo blog, Moura tampouco quer comentar as reações sobre o assunto.

O depoimento de Denise foi compartilhado por amigos nas redes sociais e depois ganhou a adesão de dezenas de representantes da classe, em carta que publicamos abaixo.

“ABUSO NÃO É ARTE!

Estamos juntas, juntos, juntes e exigimos Respeito em Cena e fora dela!

Arte é ofício de todo dia. Artista é sinônimo de jornada de vida que se faz de peito e coração abertos. Somos, sentimos, pulsamos e entendemos o mundo com o coração. Ele é a matéria-prima do nosso exercício artístico e assim, por séculos, temos feito o público rir e chorar, inspiramos, emocionamos, encantamos e transformamos.

Cada artista é única, único, possuidora e possuidor de múltiplas habilidades, conhecimentos e genuína criatividade. O trabalho com atores e atrizes exige delicadeza e responsabilidade. Quando uma ou um artista entra em seu espaço de estudo, ensaio e trabalho, seja na televisão, no teatro, em um picadeiro, no cinema ou em sala de aula, ela ou ele deve se colocar disponível ao processo de criação sem amarras e resistências, pois é em um estado de abertura e entrega que a criatividade e a inspiração nascem.

É dentro desse cotidiano profissional e de formação que, infelizmente, tem sido comum lideranças praticarem abusos contra artistas sejam elas e eles iniciantes ou já estabelecidas (os) em suas carreiras. Uma ou um diretor, preparador ou preparadora de elenco, produtor ou produtora ou qualquer outra liderança não deve ultrapassar limites invadindo o corpo físico e emocional de artistas e de sua intimidade, transformando o processo de criação em um espaço abusivo de imposições e intimidações.

A violência psicológica provoca traumas, deixa sequelas e marcas psíquicas profundas, prejudica carreiras e afeta de forma nociva vidas pessoais e familiares. O processo criativo deve ser estimulado e facilitado pelas lideranças em uma dinâmica de coparceria com as/os artistas, preservando sua autonomia, integridade, saúde física e emocional, inteligência e liberdade de criação.

Como performes e trabalhadoras e trabalhadores da cultura, podemos viajar da tristeza para a alegria, da fúria para o sossego, da sombra para a luz em um ato de entrega permeado de coragem, nos despindo de nossa identidade para dar vida a novas histórias e personagens. Nossos corpos precisam ser zelados, nossos corações, assegurados e ancorados.

Deste modo, nós, ARTISTAS, trabalhadoras e trabalhadores da cultura manifestamos nossa solidariedade à respeitada atriz Denise Weinberg e reiteramos nosso repúdio contra todo e qualquer método invasivo e queremos alertar jovens atores, atrizes, diretoras e diretores, preparadores e preparadoras sobre esse aspecto da nossa profissão: não precisamos pegar em fio desencapado para fazer bem um papel.
Que saia de cena o desrespeito e a violência!

Nunca mais queremos ver esse filme em nossas vidas no qual o desrespeito e a impunidade são protagonistas. Que os holofotes iluminem novas relações pessoais e de trabalho com mais respeito, amor e liberdade!

ONG RESPEITO EM CENA
1.Luciana Sérvulo da Cunha, documentarista e produtora
2. Cristina Pereira, Atriz
3. Mônica Torres, Atriz
4. Paulo Betti, Ator e Diretor
5. Ricardo Petraglia, Ator
6. João Signorelli, Ator
7.Aramis Trindade, Ator
8. Guta Stresser, atriz
9. Álamo Facó, ator e autor
10.Carla Faour, roteirista
11.Ernani Moraes, Ator
12.Ora Figueiredo, Ator
13.Dadá Coelho, Roteirista e Atriz
14.Marcos Breda, Ator
15.Tadeu Di Pyetro, Ator
16.Ernesto Piccolo, Diretor e Ator
17.Daniel Dantas, Ator
18.Roberto Frota, Ator
19.Mariana de Moraes, Atriz e Cantora
20.Geraldo Carneiro, Escritor
21.Itala Nandi, Atriz
22.Gisele Fróes, Atriz
23.Betty Erthal, Atriz
24.Suzy Rêgo, Atriz
25.António Calloni, Ator e Escritor
26.Giuseppe Ouristanio, Ator
27.Bete Mendes, Atriz
28.Letícia Isnard, Atriz
29.Daniel Satti, Ator
30.Filomena Mancuzo, Atriz, produtora
31.Cássio Scapin, Diretor e Ator
32.Wanderley Gomes, Figurinista e Ator
33.Kika Cunha, Diretora de Fotografia.
34. Karla Conca, Atriz, palhaça, cofundadora do grupo de palhaças As Maria Graças
35. Ângela Vieira, Atriz
36. Mário Borges, Ator
37. Stela Freitas, Atriz
38. Nena Inoue, Diretora, Produtora e Atriz
39. Rodolfo Mesquita, Ator
40. Isaac Bernart, Diretor e Ator
41. Claudia Assunção, Atriz
42. Isio Ghelman, Ator
43. Ruben Gabira, Ator
44. Artur Luanda Ribeiro, Diretor e Ator
45. Alessandra Negrini
46. Dani Barros, Atriz
47. Cícero Belém, Ator, diretor e professor
48 – Ricardo Kosovski – ator
49. Paulo Gorgulho, Ator
50. José de Abreu, Ator
51. Tainá Miller, Atriz
52.Analu Prestes Atriz
53. Hilton Castro, Ator
54. Marcello Escorel, Ator
55. Ariel Moshe, Diretor e Ator
56. Fernando Pavão – Ator
57. Mariana Muniz – Atriz e bailarina
58. Débora Lamm, Diretora e Atriz
59. Paulo de Pontes, Ator
60. Pedro Kosovski, Diretor Cênico, Ator e professor

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