Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Atriz de ‘Poliana’, Maria Gal abriu produtora para brigar pela presença negra nas telas

Em cena na novela do SBT, “As Aventuras de Poliana”, como Gleyce, a atriz Maria Gal desenvolve, por trás das câmeras, um expediente intensivo como proprietária de uma produtora de audiovisual, a Maria Produtora, disposta a brigar pela ampliação da presença negra e feminina nas telas de cinema e TV.

Na TV de Silvio Santos, ela é o perfil da dita “mulher batalhadora”, chefe da família e mãe de dois filhos adolescentes. A personagem tem um passado de porta-bandeira e é casada com um caminhoneiro interpretado por Nando Cunha. Moradora de comunidade, rala para dar aos filhos uma vida melhor que a sua.

Nascida em Salvador, Maria resolveu abrir a produtora justamente após ser rejeitada para um trabalho, em função da cor. “Fui negada para um trabalho pois o diretor achou que o tom da minha pele não seria tão comercial. Descobrir que esse foi o motivo de não ter conseguido despertou em mim a urgência de mudar o jogo. Com isso nasceu a Maria Produtora”, conta.

E é em nome da Maria Produtora que ela prepara o longa-metragem “Carolina”, cinebiografia de Carolina Maria de Jesus, uma das mais importantes escritoras negras do país e autora de “Quarto de Despejo – Diário de uma Favelada”. “Nosso filme é um projeto que trata da vida da escritora. Importante ícone negro de nossa literatura, Carolina, entretanto, permanece desconhecida pelo grande público”, afirma a atriz, que protagoniza o filme.

A produtora desenvolve ainda “Os Souza”, escrita por Cláudio Torres Gonzaga e produzida por Gal, prevista para 2019. Trata-se de uma comédia sobre uma família negra em ascensão social. “O projeto abre possibilidades de reflexão sobre questões de gênero e raça num cenário em que a mulher afrodescendente, apesar de majoritária em número populacional (51,7%), ocupa o último degrau da pirâmide econômica e social, ganhando menos que o homem branco, a mulher branca e o homem negro”.

Gal está antenada nos levantamentos que Ancine (Agência Nacional do Cinema) tem feito, ano a ano,  sobre a presença da mulher negra, e da mulher em geral, no audiovisual nacional.

De 142 longas-metragens brasileiros lançados comercialmente em salas de exibição no ano de 2016, 75,4% tiveram direção de homens brancos. As mulheres brancas assinam a direção de 19,7% dos filmes, enquanto apenas 2,1% foram dirigidos por homens negros. Nenhum filme naquele calendário tem a direção ou o roteiro assinado por uma mulher negra.

Segundo uma pesquisa do grupo GEMA, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, mulheres negras estão em apenas 4,4% no elenco principal dos filmes nacionais.

“É importante que o leitor se pergunte:  ‘quantas novelas tiveram famílias negras em seus elencos?’ ‘Quantos CEOs de grandes empresas negras conhecem?’ ‘Quantos médicos, advogados, jornalistas?’ ‘Em quantos cartazes de filmes nacionais lembram de ter visto protagonistas negros?’ Muitos não sabem, mas a população negra consome por ano mais de um trilhão de reais e até 2017 apenas 1% das campanhas publicitárias tinha uma negra como protagonista.”

Atriz há dez anos, Gal atuou nos espetáculos “Sonho de uma Noite de Verão”, “Cabaré da Raça”, “Fausto Zero”, “Os Iks”, “Ensaio sobre Carolina”, “O Cravo e a Rosa”, “Anjo Negro + A Missão” e “Os Sertões”, estes dois últimos apresentados no Teatro Volsksbhuene, na Alemanha, e em “A Comédia Latino-Americana, dirigido pelo premiado Felipe Hirsh, que teve temporada em São Paulo e esteve no festival de Lisboa, Portugal.

Ainda em  2017, ganhou o prêmio de Melhor Atriz no Madrid International Festival pelo filme “A Carga”, de Aline Rezende.  Gravou a série de TV “Sob Pressão” (Rede Globo), esteve no filme “Dona Flor e seus Dois Maridos”, contracenando com Juliana Paes e Leandro Hassum, e na 1ª temporada da série 3%”, primeira produção nacional da Netflix, dirigida por César Charlone, exibida em 192 países. Está no telefilme A Felicidade de Margot”, de Maurício Eça , “Entre o Céu e a Terra”, série exibida nos países de língua portuguesa, e, ainda, “Stella Models”, de Samir Abujamra, exibida pelo Canal Brasil.

No cinema, fez também Carandiru”, “Carandiru e Outras Histórias”, “Amor em 4 Atos” e “DOR” (curta que lhe rendeu prêmio de melhor atriz). Na TV, esteve também nas novelas “Carrossel” (SBT), “Gabriela” e “Joia Rara” (Globo) e nas séries “Conselho Tutelar” (Record TV) e “Santo Forte” (AXN).

Gal também tem um livro infantil:A Bailarina e a Bolha de Sabão”, lançado em 2014.

Sobre as iniciativas da produtora, avisa: “Estamos aprovados na lei do Audiovisual e Proac ICMS e buscando empresas de fato comprometidas em querer fazer a diferença ao patrocinar projetos, no que se refere a representatividade.”

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Cristina Padiglione

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