Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Autor de ‘Tempo de Amar’, Alcides Nogueira dribla didatismo histórico com ações em cena

Diretores, autor e elenco reunidos no Real Gabinete Português de Leitura

Responsável pelo núcleo de novelas da Globo, o autor Silvio de Abreu se surpreendeu negativamente, há poucos meses, com pesquisas que apontavam o nível de incompreensão do público sobre História do Brasil, do Descobrimento à Ditadura Militar, período mais recente. Os dados apareceram em grupos de discussão promovidos com telespectadores da novela das 18h30, “Novo Mundo”, que trata da gestão de Dom Pedro, e da história das 23h, “Os Dias Eram Assim”, que vai de 1970 a 1984/85. Viu-se então que a massa pouco sabe sobre os acontecimentos do país.

Mesmo assim, que bom, o time de criação de conteúdo na emissora nem pensa em abandonar o filão de narrar seus dramas com algum contexto histórico. A própria substituta de “Novo Mundo”, “Tempo de Amar”, de Alcides Nogueira, volta a tocar em um período afetado pelo contexto histórico, ainda que o faça sem os personagens emblemáticos vistos no atual folhetim das seis. Para Alcides, dito Tide, o cuidado em alcançar a compreensão do público interfere no modo de contar seu enredo, mas nem por isso é preciso cair no didatismo.

“Não é difícil. A gente faz melhor ação do que discurso”, disse Tide ao TelePadi, durante uma apresentação da novela no Real Gabinete Português de Leitura, no centro do Rio. “Discurso é para político, senão vira jogral. A gente tem toda a questão da miséria portuguesa e resolveu isso mostrando as diferenças sociais na festa da colheita da uva (gravada no sul do Brasil), onde você vê quem era da aristocracia e quem tinha condições difíceis.”

A questão daquilo que ficou conhecido como a “Política Café com Leite”, que consistia no revezamento de paulistas e mineiros na presidência da República, será retratado em uma cena de carnaval. “A galera jovem discute muito isso, até porque o que derruba o Washington Luís é que ele tenta emplacar um segundo paulista, que era Julio Prestes, e aí a coisa pega fogo, Getúlio derruba o Júlio Prestes e se proclama presidente. Eu não vou chegar nisso, mas vou chegar no Júlio Prestes. Tem uma marchinha (cantarola) ‘Julinho vem aí’, e a Débora Evelyn é Júlio Prestes rocha, enquanto a Marisa Orth, irmã dela, é Getúlio. A gente pode fazer isso num carnaval, é muito melhor passar pelo carnaval do que fazer uma ação política.”

Tide fala com a propriedade de quem já escreveu duas produções focadas em personagens históricos, ambas com Maria Adelaide Amaral: as minisséries “JK”, sobre Juscelino Kubitscheck, e “Um Só Coração”, sobre os modernistas da Semana de Arte de 22, episódio que também será repercutido em “Tempo de Amar”. O fato de a história se passar nos anos 20/30 (a trama começa em 1927 e vai até a chegada de Getúlio ao poder, em 1930) é, para ele, uma vantagem em relação a “Os Dias Eram Assim”. Embora muita gente não saiba do que se tratou a ditadura, muita gente se lembra perfeitamente de como eram aqueles dias, e eram bem mais tensos do que pareciam, em alguns momentos da atual trama das onze.

“Não tem isso de ensinar como foi naquela época, é mais importante criar uma situação, como a condição da mulher, por exemplo, quando começam os movimentos feministas”. Segundo ele, o público terá essa noção por meio da personagem de Regina Duarte, dona do cabaré mais bem frequantado do Rio de Janeiro na época. “A gente pode muito bem ir contando fatos reais por meio de personagens ficcionais”.

 

Em tempo: “Tempo de Amar” tem estreia prevista para 26 de setembro, uma terça-feira, sob direção artística de Jayme Monjardim, que aposta no lançamento de um novo casal protagonista, Vitória Strada e Bruno Cabrerizo. Ainda na linha de frente, estão Tony Ramos, Letícia Sabatella e Regina Duarte, como já foi aqui mencionado. O respiro de humor está em torno de Nelson Freitas, ator do “Zorra”, e seu núcleo.

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Cristina Padiglione

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