Por Cristina Padiglione | Saiba mais
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Autor e diretor de ‘O 7º Guardião’ descartam conservadorismo do público

Aguinaldo Silva e Rogério Gomes. Foto: Divulgação

Apontada como um dos fatores que contribuíram para os resultados das urnas nessas últimas eleições, a onda conservadora que vem varrendo o país não é vista como problema para o autor e o diretor de “O Sétimo Guardião”, próxima novela das nove da Globo.

Aguinaldo Silva e Rogério Gomes, o Papinha, acreditam que a compreensão do folhetim não estará sujeita ao comportamento da plateia, visto que o enredo tem como meta a identificação do gosto médio nacional, dentro do universo do realismo mágico que pautou vários sucessos atemporais do autor – como “Tieta”, “Pedra Sobre Pedra”, “A Indomada” e “Fera Ferida”, sem falar em “Roque Santeiro”, obra de Dias Gomes desenvolvida por ele, em 1985.

“Não penso nisso, eu penso, sim, que eu estou escrevendo pra 60 milhões de pessoas. Então, não posso ser radical, posso ser médio”, disse Aguinaldo ao TelePadi. “Você pode ser radical na sua vida pessoal, não na novela. Nas séries, isso é possível porque são em outro horário. A novela, não. Se você for muito radical no seu pensamento, no seu recado, você pode ser rejeitado e não é essa a nossa intenção”, completou.

Papinha também descartou a questão como algo que possa afetar a produção da vez. “Acho que esse trabalho do Aguinaldo está num lugar que a gente já conhece bastante, que é o realismo fantástico, e a novela, basicamente, fala de uma sociedade, de Serro Azul, onde a coisa mais forte que a gente consegue detectar nela é o amor, e o respeito pelo segredo dos outros, é  o amor pelo próximo, é o amor pela natureza. Então, a gente transita nesse lugar que não tem muito o que ser ou não questionável”, fala.

“A novela é um gênero muito diferente e o Aguinaldo transita na novela, isso é uma coisa de identificação imediata, ele faz novela de verdade, uma novela sem medo de ser novela”, conclui o diretor.

Papinha dirigiu também “A Força do Querer”, novela de Glória Perez de um ano e meio atrás, outra narrativa que mostra convicção dentro do gênero. Para usar as palavras do diretor, foi outra obra “sem medo de ser novela”. “Eles (Aguinaldo e Glória) são dramaturgos noveleiros e sabem muito bem como fazer uma novela, para quem eles estão falando. E eles escolheram o público há muito tempo.”

Aguinaldo conta ainda que  a novela que escreveu com mais sensação de liberdade, “por incrível que pareça, e isso transparece hoje quando você vê a novela”, foi “Tieta” (1989). “A censura tinha acabado um pouco antes, mas as pessoas ainda estavam meio presas”, lembra. “E quando me chamaram pra escrever ‘Tieta’, eu falei, ‘vou soltar todos os bichos’. O que acontece? A novela, ainda hoje, é uma novela ousada.”

O autor arrisca até descartar a predominância de uma “onda conservadora”. “Eu não acho que as coisas sejam afetadas por uma onda conservadora, mas sim pela questão do ‘politicamente correto’. Você tem que ter muito cuidado com o que você fala e com a maneira como  fala. Por exemplo, não pode dizer que um anão é ‘um anão’. Tem que dizer que é uma pessoa ‘verticalmente prejudicada’. Numa novela, essa é uma linguagem que derruba [a atenção da audiência]. Falar que favela é comunidade não diz nada, o Leblon também é uma comunidade”.

Questionado se ele se permite falar em favela ou anão, Aguinaldo resume: os vilões tudo podem. “Valentina”, diz, a megera vivida por Lília Cabral, poderá falar “qualquer coisa”.

Tom conservador X Tom progressista

Um descompasso cada vez maior tem marcado a distância entre o tom progressista de parte da linha de shows da Globo, e de suas séries, e o tom conservador das novelas, que no passado já foram bem mais arrojadas. A direção da emissora tem optado por retomar a estratégia de uma linguagem mais mediana e linear nas novelas, reservando às séries e à linha de shows a imagem de obras mais arrojadas.

Isso vale para “Sob Pressão”, “Carcereiros”, “Amor & Sexo” e “Tá no Ar”, além do “Zorra”, mais mediano, mas longe do conservadorismo. A própria novela “Segundo Sol”, prestes a terminar, é o trabalho mais beabá que João Emanuel Carneiro, um dramaturgo reconhecido como profissional arrojado, já fez para o horário nobre.

Tem-se a ideia que desde que a Record conseguiu se impor com os folhetins bíblicos, por meio de “Os Dez Mandamentos”, ofuscando a então concorrente “Babilônia”, ousada nos costumes por apresentar um casal de lésbicas octagenárias e outras figuras pouco comuns aos clichês folhetinescos.

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