Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

BBB 20 já fez história nas pautas feminista e antirracial. E pode ficar melhor

Manu, Rafa e Thelma, que agora concentra a torcida por Manu / Reprodução

É dia de final. Sem novela e sem campeonato, por maior que seja a concorrência com o noticiário, só temos mesmo as emoções do BBB para nos afogar. Ainda bem que o capítulo Sergio Moro x Bolsonaro aconteceu na sexta-feira (24) para não ofuscar a cena do dia. Show por show, melhor um reality com discurso camarada entre todos os participantes.

Mais do que Thelma, nome que se tornou favorito para vencer o BBB 20 até pelas mais fervorosas torcedoras de Manu Gavassi, que está entre as finalistas, foi Babu quem levantou a bandeira contra o racismo no reality show. Com ensinamentos precisos e exemplos da péssima herança deixada por mais de três séculos de escravidão no Brasil, o ator deu um banho de engajamento social em gente que nunca havia passado perto da história de seu próprio país.

Mas Babu saiu, e considerando que o discurso feminista superou o antirracial nesta edição, a coroação da temporada viria mesmo com a vitória de Thelma, e é isso que Bruna Marquezine, torcedora mais famosa de Manu, reconhece nesta reta final. Manu já desfruta, assim como Babu, de um mundo de oportunidades aqui fora, tendo alcançado lá dentro a posição que alcançou.

Já Thelma, “preta” (preciso me acostumar a esse termo, mais adequado, segundo mestre Babu), contraria todas as estatísticas e é formada na profissão mais difícil de garantir uma vaga em universidade neste país, sendo também uma gincana a conclusão do próprio curso: é uma campeã nata.

Temos ainda a doce Rafa Kalimann, que teve a menor rejeição na última votação, mas, como bem disse Chico Barney, doutorado em BBB, ela não fez nada para merecer estar na final -a não ser ter defendido Babu mesmo quando isso a colocava contra os demais.

O Fantástico deste domingo (26) mostrou que o BBB 20 atraiu um público mais jovem e mais feminino que outras edições, o que pesou na votação da temporada. Era intenção da Globo atrair uma plateia mais jovem, como relatamos em reportagem da Ilustrada, na Folha de S.Paulo, lá no começo da edição, ainda em janeiro, mas a emissora contou com a inesperada ajuda da quarentena, que manteve mais gente em casa e, de toda essa gente, a faixa jovem é a que mais tem apresentado diferença na audiência.

Um espetáculo depende de seu público e da forma como é recebido. Uma peça de teatro que gera gargalhadas nos momentos em que o autor gostaria de ser mais dramático pode determinar mudanças na concepção das apresentações seguintes, e vice-versa. Um texto que faz adolescentes rirem pode fazer chorar um público mais velho, e é assim que as histórias abertas, como novelas, séries em temporadas e programas de TV vão dançando conforme a música, o que é fascinante.

A formação de um elenco também faz toda a diferença entre a montagem de uma peça e outra, com o mesmo texto, e o que o BBB faz, a cada semana, é encontrar uma formação diferente, pois cada um que sai da casa representa um elemento cuja ausência se fará notar no conjunto da obra que fica. Em suma, isso daria uma boa tese de dramaturgia, ironicamente com um programa sem script.

O BBB 20 sairá de cena no pódio das maiores audiência do programa na última década, ou assim lemos no site Notícias da TV, de Daniel Castro. A edição já superou a média de 25 pontos ao longo da temporada na Grande São Paulo. A Globo informa que ainda não tem o balanço final fechado e deve consolidar o pacote todo a partir dos números da final, na noite desta segunda-feira (27), quando Tiago Leifert enfim sai de férias e poderá, finalmente, curtir sua quarentena em paz.

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Cristina Padiglione

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